UM GRANDE AMOR NUNCA MORRE

Fotografia da minha autoria



- título sugerido pela Ana Ribeiro -


Um grande amor nunca morre...

Será que não? Ou será que isto não passa de mais uma frase pirosa que encontramos naqueles livros de desenvolvimento pessoal ou num filme cliché, de domingo à tarde?

Passei a minha curta carreira a ouvir que deveria escrever sobre aquilo que conheço. Talvez por isso não seja capaz de desenvolver este pensamento, porque não sei o que é o amor; porque não sei como se manifesta, que sintomas nos provoca, que desnortes é que nos acendem no peito - se é que acende algum. Se me perguntarem se já amei, não saberei responder com exatidão. Se já fui amado? Isso sei que não. Só sei que acordei com esta expressão a ecoar nos meus sonhos e, agora, estou preso na teia que lançou.

Rasgo a folha e reinício o processo. Escrever à mão foi sempre terapêutico, mas, desta vez, tem sido um tormento. Os prazos aproximam-se e o rascunho permanece em branco. Pego na caneta e volto ao mesmo.

Um grande amor nunca morre...

Merda! Tento abstrair-me deste eco, mas a sua voz só se intensifica. Que espécie de fraude serei eu por tentar vender uma história que não me serve? Pior, que espécie de escritor serei eu, se não souber inventar um horizonte para lá do que conheço? Será este o fim?

Toca o telefone. É o Paulo a questionar-me pelos três capítulos que prometi enviar-lhe na segunda. Apeteceu-me mentir-lhe e dizer-lhe que estava tão embrenhado na narrativa, que ainda não tinha parado de escrever, mas ele perceberia e destruiria o meu disfarce em segundos. Em vez disso, fui honesto, dizendo-lhe que era melhor desistir. Desliguei a chamada, pus o telemóvel em modo voo e afundei-me numa garrafa de whiskey. Talvez embriagado tenha menos escrúpulos para criar uma estória sobre a qual sei tão pouco.

Não resultou. Primeiro, porque não me embebedei (ou não me embebedei o suficiente). Segundo, porque depois daquelas cinco palavras não existia mais nada que um gigante fosso; um gigante nada, como se caminhasse pelo deserto.

Um grande amor nunca morre, mas eu morrerei aos poucos, caso continue nesta obsessão. Aliás, é quase insultuoso estar agarrado a algo tão básico. Insultuoso e frustrante, porque isto já é quase uma luta de honra, para curar um ego ferido.

Evito assumir a derrota - embora o tenha feito anteriormente -, mas sem quaisquer dados fidedignos não poderei escrever. É que nem a porra de uma história alheia posso roubar (sim, estou nesse ponto), porque ao meu redor só existem relações disfuncionais, divórcios, traições e abandono. Neste cenário, parecem-me hipóteses incompatíveis e eu preciso de peças que encaixem.

E se eu escrever sobre isso? E se eu desenvolver este amor que me falta? Momento eureka! Posso não saber se um grande amor nunca morre, mas sei que as palavras são o que tenho de mais próximo dessa realidade. E, se continuar, talvez venha a renascer a cada parágrafo. 

Comentários

  1. Que boa surpresa e que texto. *.* Tão forte. Tão reflexivo.
    Adorei. Parabéns, minha querida. <3
    Beijinho grande.

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    1. Muito obrigada, minha querida! E obrigada pelo título proposto :)

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  2. " Um grande amor nunca morre"...Concordo na íntegra.
    .
    Cumprimentos poéticos e cordiais
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  3. Gostei muito do texto, obriga-nos também a refletir. ;)

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  4. Andreia um grande amor nunca morre será, tem pessoas que não acreditam e outras acreditam que sim, maravilhoso o texto.

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    1. É verdade, Lucimar, vai depender muito de cada pessoa. Muito obrigada!

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  5. Adorei *.* Que texto tao bonito e tao introspectivo :) Muito bom! Continua *.*

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  6. Que vou acabar por mais uma vez levar a sua sugestão
    Mas ainda não conhecia
    Beijinhos
    Novo post
    Tem Post Novos Diariamente

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