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Fotografia da minha autoria



A banda sonora de uma viagem literária


A minha TBR mensal respeita sempre o meu estado de espírito, portanto, pode sofrer várias alterações, consoante a vontade do momento. Para além de incluir os livros para os clubes/desafios de leitura, acrescento títulos que estejam a chamar por mim e acho curioso como acabo por encontrar pontos comuns nas narrativas - mesmo quando nada o fazia prever. Na viagem literária de julho, creio que a linguagem, a comunicação e a essência foram esse vínculo. Assim, tentei que as canções associadas acompanhassem os tópicos referidos.


ECOLOGIA, JOANA BÉRTHOLO
Língua dos Pês, Luisa SobralEcologia não é sobre a língua dos pês, mas é sobre linguagem, comunicação e um universo linguístico que se distancia da nossa sociedade e do peso que as palavras assumem na nossa vida. Por isso, e porque é exigido encontrar outras formas de comunicar, ocorreu-me este tema.


E AGORA?, RAQUEL SEM INTERESSE
Agora Vira, Edmundo Inácio ▫ O livro da Raquel foca-se em várias fases da sua vida, na ideia de um futuro penhorado e em todos os contratempos e reviravoltas que a nossa jornada é obrigada a superar, para não sucumbirmos aos problemas e para mantermos as responsabilidades e os sonhos na mesma bagagem. Na sua canção, o Edmundo evidencia as dificuldades transversais à maioria da população, o desnorte e a noção de vivermos a contar os tostões. Como há pontos que se interligam, achei que esta combinação fazia sentido.


OS NÚMEROS QUE VENCERAM OS NOMES, SAMUEL PIMENTA
Devagar, Ornatos Violeta ▫ Senti-me um pouco perdida na seleção da música, devo confessar, mas, depois, ocorreu-me esta por causa de versos como “mas perde a noção do tempo”, “não vejo a luz em mim” e, até, “não quero mal a ninguém”. Embora não se sinta a política do medo, é evidente que no livro de Samuel Pimenta há uma liberdade condicionada e um protagonista a tentar “crer que é bem melhor existir”.


VOLTA PARA TUA TERRA (VOLUME 2), MANUELLA BEZERRA & WLADIMIR VAZ
Cozy, Beyoncé ▫ Não foi uma associação imediata, mas acabou por fazer sentido, porque cada um dos autores está confortável na sua pele. Cada um dos autores espelha o ódio que se propaga, cada vez mais, nas ruas, tendo-os como alvo, mas permite, cada vez menos, que isso os diminua. Pelo contrário, tiveram altos e baixos, estiveram quebrados, mas deram a volta por cima, como canta Queen B. Renasceram, são únicos e, tanto a música, como o livro, são um lembrete de que merecem uma sociedade justa, que os respeite.


TROPEL, MANUEL JORGE MARMELO
Ferrugem, Samuel Uria ▫ A associação foi feita pelos versos «É crime, é crasso, é o degelo», «Eu sei/Que o tempo aqui já só me traz refém/E o que eu sou nem sei», porque o protagonista cresceu num ambiente medonho, cheio de silêncios, onde a violência e a ausência de respeito e empatia pelo outro assumem o tom da narrativa. Embora seja refém desse legado, começa a duvidar dos seus princípios e a compreender que o que herdou «é mera sombra do que vem».


FLECHA, MATILDE CAMPILHO
Acácia, Luís Severo ▫ Assim que li a palavra «Acácia», lembrei-me desta música do Luís Severo. A letra, pelo contrário, não estava assim tão presente, mas, assim que a escutei, senti que era uma combinação que podia resultar: porque o livro da Matilde Campilho divide-se por inúmeros contos, memórias e pessoas e a música do Luís Severo canta uma história com várias rotas dentro. Portanto, dentro da imensidão do livro também cabe este tema singular.


OS LIVROS DO FINAL DA TUA VIDA, WILL SCHWALBE
Both Sides Now, Joni Mitchell ▫ Um dos livros mencionados nesta obra é Girls Like Us, de Sheila Weller, que é a biografia das três artistas musicais mais importantes da América. Uma vez que Joni Mitchell se inclui nesse grupo e que esta era uma das canções favoritas da mãe de Will Schwalbe, a associação foi imediata.


JÁ NÃO ME DEITO EM POSE DE MORRER, CLÁUDIA R. SAMPAIO
Os Lírios do Campo, Manuel Fúria ▫ A poetisa iniciou a sua obra com o verso «A mulher acordou sendo da cor de um lírio». Atendendo a que referencia esta flor mais vezes, fui à procura de um tema que a contemplasse e fiquei presa a este de Manuel Fúria, que me parece adequar-se ao livro, também, pela referência a Deus, pelo dizer adeus a algo que já passou, pelo vínculo à Natureza e pela recordação.


O ANO DO MACACO, PATTI SMITH
If 6 Was 9, Jimi Hendrix ▫ A escolha foi rápida e por três motivos: 1) é referida no livro; 2) está associada a um momento emotivo da vida da autora; 3) ao escutar a letra, senti que representa bem a tendência de olhar para lá do caos, de reconhecer as fragilidades e, mesmo assim, não sucumbir - ou, então, cair, mas não ficar muito tempo no chão. Em simultâneo, creio que a melodia também espelha uma certa esperança.


LENÇOS PRETOS, CHAPÉUS DE PALHA E BRINCOS DE OURO, SUSANA MOREIRA MARQUES
Maria, Beatriz Rosário ▫ Optei por esta combinação pelo contraste. Se, no livro, temos tantas mulheres anónimas, cujas histórias se foram perdendo no tempo, pela falta de oportunidades, pelo conformismo que era a regra, pelas vidas suspensas, na canção, temos uma Maria (que pode ter qualquer outro nome e rosto) a fazer das suas fragilidades força, a mostrar-se autossuficiente e a ir à luta. Em comum, têm o papel secundário que ainda hoje é atribuído à mulher, mesmo que lhe sejam exigidas tantas responsabilidades.


CONTOS DE CÃES E MAUS LOBOS, VALTER HUGO MÃE
Monstros, Jão ▫ Lembrei-me desta música ao ler o título de um dos contos do livro. Depois, quando fui recordar a letra, houve vários versos que me pareceram representá-lo na perfeição (ao conto e ao livro), como, por exemplo, «Debaixo da cama os monstros me impedem de dormir/Me sinto só desde criança», «sempre lutei por liberdade», «pra encontrar o meu lugar/eu abraço a escuridão», «mas continuo a caminhar». Há muito mundo - e vidas - dentro destas páginas e em todas elas persiste a ideia de que tudo o que passamos é necessário «pra quem você vai ser».


TUDO SOBRE O AMOR, BELL HOOKS
Lift Me Up, Rihanna ▫ A minha definição de amor implica cuidado. Independentemente da sua natureza (romântica, familiar, de amizade, entre outras), acho que devemos privilegiar sempre esta ideia de nos levantarmos, de nos segurarmos, de estarmos perto e de nos mantermos seguros. Por isso, para acompanhar o livro da Bell Hooks, escolhi a canção da Rihanna, porque me parece traduzir a nossa necessidade de amor e de nos reerguermos nos braços de quem nos quer bem - mas sem menosprezarmos o amor próprio.

Comentários

  1. Vou ter que ir ao Spotify descobrir estas músicas todas.
    Adoro esta ideia de associar canções às leituras.
    Beijinho grande, minha querida!

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    Respostas
    1. Tem sido uma viagem encantadora 🥰
      Se ouvires alguma, diz-me qual a tua favorita (ou quais)

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  2. Associar leituras com musicas é uma idea tao bonita *.*

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  3. Que acaba mesmo por ser uma boa ideia mesmo, acho que nunca tinha pensado nisso
    Um bom fim de semana
    Beijinhos
    Novo post
    Tem Post Novos Diariamente

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  4. Mais umas novidades para mim. Obrigada pela partilha, querida!

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  5. Vou guardar as sugestões. Bom domingo.
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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