morte no estádio, francisco josé viegas

Fotografia da minha autoria



«E uma casa precisa de manter os seus segredos. É para isso que serve uma casa»

Gatilhos: Morte, Traição


O Livra-te (podcast da Rita da Nova e da Joana da Silva) teve um episódio dedicado a premissas e concretizações: «boas premissas e execuções não tão boas» e vice-versa. Na altura em que saiu, ainda não tinha lido o livro do Francisco José Viegas, mas, agora que o fiz, seria um exemplo para o primeiro grupo.


narrativas que não funcionam connosco

Morte no Estádio leva-nos para a zona em que o rio Douro se encontra com o oceano Atlântico, porque um famoso futebolista do FC Porto «é assassinado num bar irlandês em plena Foz». Rapidamente, percebemos que existem vários implicados e que os inspetores Filipe Castanheira e Jaime Ramos unem forças para desvendar o crime.

A premissa é ótima e deixou-me bastante entusiasmada, no entanto, a concretização não funcionou comigo. Não desgostei totalmente da escrita (creio que resultaria noutro contexto literário), e sabia que penderia mais para o romance do que para o policial, mas acho que o autor perdeu demasiado tempo em narrativas paralelas, a descrever pormenores que não acrescentam algo ao enredo, com muitas metáforas e um certo pedantismo, porque todas as personagens tinham uma lição de moral para partilhar. A partir de certo ponto, tornou-se excessivo e uma fonte de distração.

Tinha tudo para ser um livro excelente, se se focasse «nas relações obscuras do mundo do futebol» ou se apenas explorasse «as paixões dispersas e voláteis que acabam por dar sentido à falta de sentido da vida». Pela sua construção narrativa, fiquei com a sensação que quis englobar tudo ao mesmo tempo, mas que só ficaram pontas soltas. As ligações perigosas permanecem só nas entrelinhas, quando seriam um dos aspetos mais interessantes para aprofundar. Aliás, houve uma altura em que percebi que o crime foi apenas uma manobra de diversão, porque perdeu qualquer destaque.

Além disso, senti as personagens pouco coerentes e credíveis, e nem o título me fez sentido. Acho que o autor conseguiu retratar bem algo que é muito nosso, como as partilhas que fazemos à mesa e pela comida, mas não foi por esta imagem que vim. Nem pelo traço nostálgico que parece quase forçado. Terminei a leitura como comecei: às cegas. E tenho pena, porque prometia ter todos os elementos para resultar.


🎧 Música para acompanhar: Neblina, Luar, Rita Onofre & Sara Cruz


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | Bertrand)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

6 comments

  1. Continuo muito curiosa para ler este livro pois adoro historias de crimes, ainda por cima quando a localizacao é a nossa cidade :)

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  2. Só li um livro do autor, mas já não tenho a narrativa muito presente. Como gosto de policiais talvez desse oportunidade a este livro.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Embora não leia com tanta regularidade, também gosto muito de policiais!

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