o vestido de noiva, filipa leal

Fotografia da minha autoria


Gatilhos: Homofobia, Traição


O meu contacto com a Filipa Leal foi sempre feito através da poesia, tanto que assumo logo que apenas a lerei neste género. Mas o seu mais recente livro (que pensei que fosse poético) permitiu-me descobri-la na prosa.


jogo de sombras

O Vestido de Noiva começa de uma forma peculiar: Branca, a protagonista, atravessa a rua e desloca-se à lavandaria com um pedido específico. Até aqui, nada de estranho, a não ser que vai nua. Nua, descalça, alterada e com uma certa urgência emocional. E isso deixa claro que se passou algo de grave - ou, pelo menos, algo de suspeito.

Não quero detalhar muito, para não revelar aspetos importantes (a história é relativamente curta), mas achei interessante a maneira como o narrador nos conduz pela narrativa, como vai levantando o véu, mas depois nos deixa em suspenso, quase como se sentisse necessidade de partilhar dados surpreendentes, mas voltasse atrás para atar as pontas soltas. Deste modo, vamos embalados numa valsa com um ritmo muito próprio, até compreendermos ao certo o que aconteceu naquele contexto.

«(...) tem pressa de ir embora, e é só por isso que tem pressa de chegar»

Este conto é insólito, com um tom cómico, mas que levanta questões relevantes sobre identidade, relações amorosas/familiares, preconceitos e tudo aquilo que tentamos esconder dos outros e de nós. É curioso como há pessoas que vivem anos juntas, partilhando casa, experiências e sentimentos, e nunca se chegam a conhecer realmente. É curioso e igualmente desolador, porque se torna evidente que há muita coisa que falta, a começar pela verdade, pela comunicação e pelo respeito mútuos.

Há um jogo de sombras que vai expondo as personagens, que as vai confrontando com as suas fragilidades e os seus medos. Estão todas sob escrutínio alheio, a tentar proteger-se, a tentar preencher vazios. Partindo de situações complexas, mas dentro de um contexto trivial, credível, vamos cruzando diferentes perspetivas.

O Vestido de Noiva reveste-se de passagens sarcásticas, mas é um retrato interessante de como o desgosto, a raiva e a desilusão nos podem toldar o discernimento. Há momentos em que nos sentimos tão traídos, que só queremos infligir a mesma dor, no entanto, perante ocasiões de maior lucidez, há valores que falam mais alto.


🎧 Música para acompanhar: Talvez Se Eu Dançasse, Miguel Araújo



Disponibilidade: Wook | Bertrand

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

Comentários

  1. Já ouvi falar muito da autora, vou guardar esta sugestão para ler mais tarde.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Gosto muito da poesia dela e aconselho muito o Vem à Quinta! Também gostei de a descobrir em prosa

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  2. Confesso que não conhecia, obrigada por partilhares! :)

    www.amarcadamarta.pt

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  3. Fiquei bastante curiosa *.* Uma leitura leve sobre um tema serio...

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    1. Dá para rir bastante com esta obra, mas também nos deixa a pensar. Gostei mesmo de a descobrir

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  4. Não conheço, mas parece uma leitura interessante.

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    1. Foi muito cómica e diferente do que tenho lido. Recomendo 👌🏻

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