antes que o amanhã se vista de fogo, cátia cardoso

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Linguagem Explícita


Os versos são sementes que nos regeneram, como se renascêssemos a cada linha, a cada novo poema. E é este efeito de catarse que encontramos no livro da Cátia Cardoso, que tão gentilmente me ofereceu um exemplar para que o descobrisse.


as nossas raízes

Antes Que o Amanhã Se Vista de Fogo está dividido em três partes - Sangue no Papel, PrOblEMAS Sociais e Lar, Doce Assobiar do Vento -, nas quais se exploram temáticas específicas, perspetivas, anseios e recordações autobiográficas. Ainda assim, creio que existe um tópico transversal a todas: o amor nas suas distintas manifestações/camadas.

Esta coletânea de poemas recupera vivências pessoais, com apontamentos de quem guarda a vida como se fosse um inesgotável álbum fotográfico, até porque nos leva até ao verão de 2013, a um passeio por Braga, aos desamores, a uma tarde de domingo em concreto, à Ponte dos Laços e a mais um conjunto de memórias que, não nos pertencendo, se afiguram próximas pelo tom intimista com que a poetisa as borda.

Nesta poesia não há filtros: há nostalgia, há perda, há desejo, há sensualidade e há um tom interventivo, ativista, que nos concentra em questões de desigualdade, porque ser mulher ainda é partir em desvantagem, porque há problemas que nos afetam a quase todos e, inclusive, há uma aura de hipocrisia a pairar em certos comportamentos. O livro é de 2021 e entristece perceber que existem aspetos que continuam iguais.

«Enquanto jantarmos violência/enquanto dormirmos sempre/por matrimónios que acabam em morte/enquanto trabalharmos condicionadas pelo género/não beberemos pelo mesmo copo da liberdade»

Sinto que vamos escalando algumas montanhas emocionais: pelas metamorfoses, por lermos nas suas palavras uma menina a tornar-se adulta, a descobrir o mundo, a travar as suas batalhas, mas sem esquecer as origens. Por isso mesmo, esta obra não deixa de ser uma ode a todo os «sítios onde se erguem, firmes, as nossas raízes».

A expressão poética da Cátia tem tanto de simples como de ousada, abrindo-nos uma porta sem tabus e preconceitos. Muito pelo contrário, explora realidades plurais, que tanto podem ir da memória mais inocente a uma linguagem pautada pelo erotismo. Sendo a criação a sua força motriz, nestas páginas cria, reinventa-se, descobre-se. E caminha entrelaçada à irreverência, à ambiguidade, à turbulência da vida.

As cinzas encarnaram as palavras e, lentamente, parece chegar a casa, ao seu lugar.


🎧 Música para acompanhar: Araucária, Aldina Duarte

Comentários

  1. Fiquei muito curiosa com esta partilha *.* Onde posso adquirir?

    ResponderEliminar
  2. Acompanho a escrita da Cátia, desde que publicamos pela mesma editora.

    Tenho muita curiosidade de ler este livro, acho que ela tem um talento natural para a poesia (como tu! :)). Beijinho grande, minha querida!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ainda não tinha tido a oportunidade de a ler em livro, mas gostei imenso da experiência 😊

      Eliminar
  3. Parece-me uma boa aposta! :)

    www.amarcadamarta.pt

    ResponderEliminar
  4. Vou ter em conta mais esta sugestão!
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

    ResponderEliminar
  5. Não conhecia, de todo, mas parece uma leitura até interessante.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Se gostares de ler poesia, pode ser uma excelente opção, sim 😊

      Eliminar

Enviar um comentário