o caminho imperfeito, josé luís peixoto

Fotografia da minha autoria


Gatilhos: Linguagem Explícita e Gráfica


A pele tem memória, como afirmou José Luís Peixoto numa das entradas deste livro. Ao percorrê-lo, seguimos uma rota fragmentada em vários momentos, lugares e pessoas. Viajamos no tempo e não só de um modo físico e emocional, mas também através dos traços que se pretendem marcar no corpo. Sempre com um olhar atento em relação a tudo o que o rodeia, parecem infinitas as vivências que se cruzam.


banguecoque, las vegas e um relato intimista

O Caminho Imperfeito marcou o regresso do autor à Não Ficção, num relato cheio de camadas sobre a sua travessia entre Banguecoque e Las Vegas. Mais do que ser considerada uma narrativa de viagens, creio que esta obra é uma longa reflexão sobre quem somos, sobre o lugar de onde partimos e onde queremos chegar. Pelo meio, há várias paragens que vamos fazendo e que, também elas, contam a nossa história.

Parti para a leitura com outra imagem em mente e, se calhar, foi por esse motivo que não desfrutei tanto da trajetória. A escrita do José Luís Peixoto é próxima, muito credível, sem floreados que nos desviem do essencial, mas, confesso, não foi suficiente para me arrebatar, porque precisava que as partilhas tivessem um elo maior entre si.

Achei intrigante a forma como começou, captando a nossa atenção para um caso que tem tanto de surreal, como de angustiante. Não obstante, apesar de o ir recuperando ao longo do livro, fiquei com demasiadas dúvidas. Entendo a pertinência de o incluir, uma vez que foi o nó que atou os diferentes destinos e intervenientes, mas estava à espera de encontrar desenvolvimentos mais significativos. Além disso, não sinto que tenha explorado os lugares menos comuns do turismo, ainda que tenha aberto a porta para aspetos menos conhecidos da cultura, da religião e, claro, da sociedade.

«Um lugar nunca se dá por completamente descoberto. Nada que esteja vivo se descobre para sempre»

Por outro lado, achei interessante a maneira como determinados acontecimentos tiveram a capacidade de desencadear tantas memórias, como conseguiram fazê-lo recuar no tempo e pensar sobre alturas da sua vida que já não podiam ser remexidas. Fiquei a pensar nesta espécie de jogo tão singular, que nos permite estar fisicamente num lugar, mas com os pensamentos a quilómetros de distância. É como se se unissem todas as fronteiras e este caminho fosse só uma inesgotável linha reta. E, aí sim, conquistou-me, porque é onde consegue fazer uma série de análises sobre processos de escrita, família, tatuagens e o impacto das pequenas decisões.

O tom pouco linear da narrativa fez-me oscilar. Embora seja evidente o traço intimista, queria ter deambulado mais fundo - quando me senti a chegar a esse ponto, a leitura terminou. Esta procura por um sentido também nunca será uniforme, por esse motivo, o título do livro, creio, assenta-lhe na perfeição. O caminho é mesmo imperfeito. No entanto, «estamos aqui» e «o caminho também é um lugar».


🎧 Música para acompanhar: Time In a Bottle, Jim Croce

📖 Outros livros lidos: Em Teu Ventre | Cal | Nenhum Olhar | A Criança em Ruínas


Disponibilidade: Wook | Bertrand

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

Comentários

  1. Cada vez gosto mais de ler JLP *.* Ja sabes para onde vai esta sugestao :) Muito obrigada pela partilha, minha querida *.*

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    1. Tenho de me aventurar noutras obras! Boas leituras, minha querida

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  2. Já não tenho a narrativa bem presente, mas lembro-me de ter gostado muito deste livro.

    Está na lista para ser relido.

    Beijinho grande, minha querida.

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  3. Vou guardar mais esta sugestão. Bom fim-de-semana!
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  4. Já me cruzei muitas vezes com livros deste autor, mas confesso que nunca me senti tentada a ler algo da sua autoria.

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