Entrelinhas #51 - José Luís Peixoto
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Fotografia da minha autoria
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«É um dos autores de maior destaque da literatura portuguesa contemporânea»
José Luís Peixoto é um daqueles casos de sucesso que nos conquista com tanta naturalidade, que, por vezes, nem temos verdadeira noção do impacto das suas palavras. Porém, quando pensamos sobre elas, chegamos a uma conclusão óbvia: fomos arrebatados. E precisamos de ler mais.
Comecei por me perder de encantos com as suas crónicas. Textos tão sublimes, escritos com delicadeza e assertividade, e absolutamente fascinantes. A forma como expõe as suas ideias transporta-nos sempre para o cenário descrito. É tudo tão cuidadosamente enumerado que se torna familiar. Quantas vezes dei por mim a imaginar o aspeto de locais onde nunca estive ou, então, a sentir o peito a comprimir por me deixar absorver por passagens saudosistas, da mesma maneira que sorri com a perspetiva de um mundo carregado de poesia. Por essa razão, foi muito simples de perceber que a vontade de me aventurar pelos seus livros estava a aumentar. Apesar de ter dado primazia a outros autores, estava na hora de parar de adiar este encontro.
Aproveitando uma promoção, adquiri Em Teu Ventre. E, no Natal, o meu primo ofereceu-me Cal. Mesmo sendo obras bastante distintas, conquistaram-me por igual. E contribuíram para querer alargar os títulos de José Luís Peixoto presentes na minha [ainda modesta] biblioteca.
Em Teu Ventre: É uma «reconstituição literária das aparições de Nossa Senhora de Fátima». No entanto, com o avançar da narrativa, compreende-se que este não é o tema central. Ou seja, o autor não pretende contar, fielmente, a história dos três Pastorinhos. Parte, sim, de um dos episódios mais marcantes para estabelecer um retrato social e económico do país, em 1917, com uma linguagem quase poética. Inicialmente, confesso, a alternância de narradores não foi clara. Porém, depois de a entender, fez todo o sentido e a leitura tornou-se muito mais fluída. E foi interessante acompanhar os constantes dualismos, as reflexões, o antes e o depois e a oposição entre a fé e o ceticismo. Além disso, deixa-nos a pensar no impacto que uma notícia desta dimensão tem, principalmente para uma criança, atendendo às inúmeras dúvidas partilhadas pela sociedade. O lado histórico está muitíssimo bem retratado, ainda que, à primeira vista, possa parecer que existem algumas lacunas com a realidade - não foca o aviso do Anjo, nem os Ministérios, por exemplo. Pessoalmente, apreciei esta abordagem, porque é sensível, rica em emoções e privilegia as relações humanas, sobretudo entre mães e filhos. Por fim, dá-nos liberdade para tirarmos as nossas conclusões, sem nos influenciar a acreditar ou a deixar de o fazer.
«Nós nunca somos os outros (...) Aquilo que entendemos está fechado em nós. Aquilo que procuramos entender está fechado nos outros» [p:43]
Cal: É uma mistura de prosa, poesia e uma peça de teatro. Comum a todos os textos temos o meio rural e o facto de todas as personagens estarem a viver a sua velhice. E um dos grandes destaques deste livro é mesmo a sensibilidade com que retrata os velhos, que continuam a ter uma vida e a serem alguém, independentemente da idade. Há, por isso, um grande respeito e cuidado na maneira como são representados. Nesta obra é como se existissem múltiplos narradores, várias vozes e uma série de memórias que nos transportam para o seu tempo. Com uma linguagem simples, próxima, honesta, lemos sobre morte, vida, sonhos, desejos, amor, abandono, esperança. Existe um pouco de tudo. E todas estas questões fundem-se com imensa naturalidade. Alguns textos já tinham sido publicados, mas outros aparecem pela primeira vez. E no meio de tanta pluralidade, os meus favoritos são O sorriso dos afogados, O último dia de todos os verões, Ver a minha avó e A viúva junto ao rio. Apesar disso, vale bem a pena ler todos com atenção.
«Cada uma dessas palavras foi dita num olhar que me envolvia. Esse olhar abria portas dentro de mim. Esse olhar caminhava dentro de mim, arrastando o meu próprio olhar consigo» [p:116]
Nota: As gavetas da minha casa encantada tornaram-se afiliadas da Wook. Por isso, ao comprarem através dos links disponibilizados, estão a contribuir para os meus hábitos de leitura e, consequentemente, para o crescimento do blogue. Obrigada ❣
Já li "Cal" e outro tantos dele que me fascinaram por completo. É talvez o autor português que mais li até hoje. Quer prosa, quer poesia, é um refresco para a minha alma. Amo a escrita dele!
ResponderEliminarJá ouvi bons reviews sobre Cal e o teu só veio dar me mais vontade de o ler :)
ResponderEliminarGosto muito da escrita dele apesar de só conhecer as crônicas dele mas concordo ctg, é mt intimista e familiar :) gosto da sua simplicidade :)
Ah tenho a versão linda dele do Principezinho que adquiri através da tua recomendação:)
Bjinhosss*
https://matildeferreira.co.uk
É um dos meus autores de referência, já falei com ele várias vezes e é um excelente conversador.
ResponderEliminarUm abraço e continuação de boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Sou suspeita para comentar este post, porque adoro a obra dele. É dos poucos autores capazes de me fazer ler os seus livros vezes sem conta sem me cansar. Para além de ter um excelente coração.
ResponderEliminar"O Cal" foi o primeiro livro que li dele, há uns 10 anos. Marcou-me imenso e fez-me apaixonar pelos seus livros e pela escrita. Reli-o em 2015 após o falecimento da minha avó, foi como se a sentisse mais perto.
"Em Teu Ventre" traz uma abordagem algo diferente de uma temática tão conhecida e aborda também a questão da maternidade de uma forma sensível e brilhante.
Beijinhos :)
Nunca li nada Dele. Mas fiquei com curiosidade :))
ResponderEliminarHoje:- Podem até chegar tempestades
Bjos
Votos de uma óptima Quinta - Feira
Em todas as áreas afinal,
ResponderEliminartemos gente com talento
aqui neste nosso Portugal
onde não só sopra o vento!
Tenha um bom dia Andreia.
R. É mesmo muito difícil gerir tendo em conta que nós próprias não estamos bem mas temos ao mesmo tempo um pequeno ser humano que precisa de nós para tudo. Sim cada caso é um caso mas com uma incidencia de 85% nao percebo porque é que é tanto um tabu.
ResponderEliminarObrigada pelo carinho linda :)
Beijinhos,
O meu reino da noite ~ facebook ~ bloglovin
Acho que o Cal será um bom livro para ler ao final do dia, não? É que fiquei muito curiosa com ele :b
ResponderEliminarBeijinhos,
DEZASSETE
Hummm ainda não me virei para ele... no entanto... :-)
ResponderEliminarBeijinhos
É um bom escritor e, por isso, vale a pena ler qualquer obra dele.
ResponderEliminarContinuação de boa semana, amiga Andreia.
Beijo.
Oi Andreia, não conhecia o autor, será que encontro fácil aqui no Brasil? Fiquei super interessada na leitura, especialmente de Em Teu Ventre, que me pareceu incrível!
ResponderEliminarUm beijo :*
So conheço os poemas que li em "Gaveta de Papéis".
ResponderEliminarNão conhecia o autor mas ele possui excelentes obras, ele é um escritor fantástico, Andreia bjs.
ResponderEliminarVou ter que averiguar!
ResponderEliminarBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Quero muito ler alguma coisa dele. É daqueles autores que, infelizmente, ainda não li mas tenho muita curiosidade. Toda a gente me fala maravilhosamente bem da sua escrita :)
ResponderEliminaroi querida, há tanto tempo que não estou no teu blog, que ainda não tinha visto a nova imagem.
ResponderEliminargostei muito!!!
Sobre o autor do que estas a falar nunca lei nada (nunca lei ningum livro de um autor portugues, mas acho que tenho que empezar a ler)
beijinhos minha linda
Nunca li nada dele, mas apontaria para o ultimo sim :) Fátima, não me diz nada.
ResponderEliminarBeijinhos linda <3
Nunca li nenhuma obra dele, mas tenho bastante curiosidade! :D
ResponderEliminaramarcadamarta.blogspot.pt
fiquei curiosa com o livro do cal´
ResponderEliminarhttps://retromaggie.blogspot.com
Oi! Sabe que não li nada desse autor e fiquei com uma curiosidade grande. Parece uma leitura muito ótima!
ResponderEliminarbeijos
https://ludantasmusica.blogspot.com
Olá
ResponderEliminarParabéns pela parceria.
Eu comprei um livro já há muitos anos do José Luis, penso que é o pianista ou o piano, não tenho a certeza, mas tenho na minha estante. Nunca o consegui ler acreditas?
Ainda comecei mas emperrava sempre, por acaso fiquei desiludida, estava à espera de outra coisa, foi na altura em que ele foi muito falado.
Ver se lhe dou uma segunda oportunidade, agora também tenho uma maturidade diferente.
Xoxo
marisasclosetblog.com
Você acaba de me deixar com vontade de ler os escritos do José. hahaha. Fiquei com vontade, porém tenho alguns livros para terminar de ler e mais uma lista para começar a ler. Gastei dinheiro e agora quero muito fazer valer a pena.
ResponderEliminarBoa noite.
Beijos.
☂ Sem Guarda-Chuvas
Bom dia, José Luís Peixoto é um autor bastante conhecido, nunca o li, mas sei que os seus livros são interessantes.
ResponderEliminarFeliz fim de semana,
AG
Tal e qual como eu, meu bem :D
ResponderEliminarPor acaso nunca li nenhuma obra dele, mas acabei de ficar curioso com o "Em teu Ventre" precisamente pela simbologia! Terei de o procurar, claramente!
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Confesso que nunca li nada dele, mas já tinha ouvido falar de "Cal". No entanto, o que mais despertou a minha atenção foi "Em teu ventre" :)
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