O que fala ao coração #26

Fotografia de Mufaro Kambamari

«A minha ideia é que há música no ar, há música à nossa volta, o mundo está cheio de música e cada um tira para si simplesmente aquela de que precisa», Edward Elgar

É extremamente complicado - para não dizer impossível - estar um dia sem ouvir música. Porque me relaxa. E porque é um complemento da minha imaginação, dando-lhe asas para se expandir. Por isso, neste processo musical indireto, cruzo-me com novos artistas com alguma frequência. E, num acaso tão bonito, fiquei a conhecer uma das vozes mais aconchegantes e serenas, que nos convida a escutar as suas canções sem pressa.

Mariana Secca - mais conhecida por MARO - é lisboeta, mas tem «ascendência italiana, irlandesa e cabo-verdiana». Rumou até Boston para se licenciar em Música, pela Berklee College of Music, mas o seu contacto com esta arte começou cedo, ao integrar o Conservatório de Piano com quatro anos. «Aos 11 compunha, aos 13 aprendeu sozinha a tocar guitarra, aos 14 dava aulas de piano, guitarra e formação musical». Surpreendentemente, tinha outros planos para o seu futuro, porque «preferia jogar futebol ou ténis - e tinha decidido seguir Medicina Veterinária». Porém, «no ano em que parou para fazer melhorias de nota», comprovou que não «conseguia viver sem música». E ainda bem. Caso contrário, não teríamos a oportunidade de admirar um talento como o seu.

Rui Veloso «aposta nela como revelação musical de 2018» e, sinceramente, percebo que não deve estar longe da verdade. Porque - fazendo minhas as suas palavras - compõe, toca e canta bem em várias línguas. Além disso, tem uma voz rara, que nos cativa pelo timbre quente, mas leve. Descobri-a graças à sua participação no álbum Casa, de Carolina Deslandes, no tema Não Me Deixes. E rendi-me assim que fiz uma pesquisa mais direcionada ao seu trabalho. Quando a ouço, sinto-me a levitar para uma dimensão paralela. Há uma paz que se instala no meu coração. Fecho os olhos e divago - para longe e para dentro de mim. E é este o poder maravilhoso da música. É esta a força de artistas tão genuínos e arrebatadores como a MARO.

O seu álbum de estreia será lançado em quatro partes, como se representassem quatro fases da vida, permitindo-nos reconhecer toda a sua evolução. Até agora, partilhou as duas primeiras e eu não me canso de as ouvir. E não podia estar mais curiosa com as restantes. Com uma sonoridade bastante característica, as letras, a sua interpretação autêntica e a sua simplicidade encaminham-nos para o mais importante: a emoção e a alma de cada tema. Há pessoas com uma energia tão inspiradora, que isso se torna percetível nas suas composições. Todos estes traços de genialidade fazem-me ter a certeza que o mundo será o seu palco constante, recebendo-a de braços abertos. E perdendo-se de encantos pela sua música. Merece!

Já conheciam? O que acharam? Se tiverem oportunidade, ouçam os dois volumes na integra.