filha de abril

Fotografia da minha autoria



«Que força é essa/que trazes nos braços»


amanheci
de olhar raso de lágrimas
a temer ainda mais o medo
de um amanhã que não me parece crescer
noutro lugar

sou filha de abril
em nascimento e por convicção
e se me querem roubar a liberdade
eu não recuo
ainda que vá lamber as feridas
de uma esperança estilhaçada
é que mesmo no silêncio há muito barulho
e talvez tenha de ir para a rua
quebrar as gaiolas que tentam fechar a sete chaves

renasci abril
no cravo, no e depois do adeus, na grândola, nas mãos que não se largam
tornei-me rosto por legado
e mantenho acesa esta chama que me faz crer livre
porque, já canta Slow J, eu não sei lidar com o ódio

amanheci
desolada, a contrariar a tristeza
a semear amor em terreno minado
a usar as palavras como arma
como se fosse o primeiro dia
e por isso renasço
porque me revesti de abril
até naquilo que não digo

perdemos todos, mas estamos lúcidos
e nos destroços encontraremos poesia
lado a lado, a quebrar os muros que nos sufocam
urge resistir, a luta continua
porque por dentro ainda nos corre a mudança

abril, em tudo o que sou

Comentários

  1. A partir de agora, podemos começar sempre as segundas com poesia? ;)

    Belíssimo poema de Abril. Nunca desiludes.

    Parabéns, minha querida!

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    Respostas
    1. É uma hipótese a considerar ☺️
      Muito obrigada, minha querida, de coração!

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  2. Estamos juntas, sempre! A luta continua, mais do que nunca! Tambem eu sou filha de Abril, um mes antes, cada vez com mais convicção! O mundo precisa de mais poesia como a tua! Jamais baixes os braços *.*

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