diogo, luís franco-bastos

Fotografia da minha autoria


«Os Franco-Bastos ficarão na história por várias razões - criatividade para nomes não será certamente uma delas»


O meu contacto com o humor aconteceu de um modo gradual e houve nomes que estreitaram esse laço, como é o caso do Luís Franco-Bastos (LFB). Uma das suas características mais evidentes é a capacidade de, através da voz, imitar figuras públicas. E nunca me esquecerei de um momento em que, no 5 Para a Meia Noite, Bruno Nogueira teve uma conversa telefónica com... Bruno Nogueira. Foi surreal como as vozes se colaram na perfeição e, admito, se não soubesse que era o LFB, ter-me-ia colocado em causa. Mas o seu traço camaleónico não o fez parar por aqui.

Tem sido entusiasmante acompanhar a sua evolução, enquanto humorista, porque acho que se predispõe a explorar várias camadas, interligando uma certa crítica social e apontamentos mais descontraídos e pessoais com bastante naturalidade. No grupo de artistas que faço por ver ao vivo, ele aparece destacado, mas já tinha assumido a derrota de não ter conseguido assistir ao seu mais recente solo - restava-me aguardar pela possibilidade de o disponibilizar numa plataforma online. Mas os pequenos milagres existem e o Luís Franco-Bastos regressou ao Porto, em sessão dupla.

Diogo é o seu texto mais intimista e quis filmá-lo numa sala que acompanhasse essa essência. Embora compreenda o objetivo, confesso que não deixou de me surpreender que o fizesse no M.Ou.CO, porque não seria uma escolha óbvia para um espetáculo de comédia. Ainda assim, agora que aconteceu, defendo que fez todo o sentido e que a dinâmica funcionou. Porque, ali, sabíamos que estávamos num lugar seguro.


paternidade, memórias e sopa

A primeira parte do espetáculo ficou à responsabilidade do Pedro Sousa, humorista que fiquei a conhecer graças a Roda Bota Fora. Tenho-o acompanhado desde então (na comédia e no podcast) e sinto que o crescimento é notório. Gostei logo do seu tipo de humor, mas sentia que o ritmo era desproporcional, ou seja, a piada estava lá, mas precisava de ser rápido a alcançá-la e a preencher o silêncio. O que, creio, é natural para quem está a começar e ainda não tem um público definido. Neste texto, senti-o muito mais seguro, tranquilo, a acompanhar a energia da sala. Além disso, transitou muito bem entre ideias, trazendo alguns tópicos sobre os quais também reflito, e achei fabulosa a maneira como interligou tão bem com o texto do Franco-Bastos.

Em Diogo, ficamos não só a saber a dificuldade que os pais do Luís tiveram para escolher o seu nome, mas também a sua própria relação com os progenitores e a paternidade. Nesta espécie de consulta de psicologia invertida, antes de tudo, começamos a falar sobre lavagens de automóveis suspeitas, que serão ponte para outras análises. E se, num momento inicial, nos podemos questionar sobre como é que as coisas que entrelaçam, rapidamente percebemos que o humorista faz esses nós na perfeição. Essa é outras das características que mais me fascina no seu trabalho, porque nunca deixa morrer uma história: guarda-a até ser a altura certa de a recuperar.

A cadência do texto é excelente, desconstruindo experiências e partilhando memórias, dúvidas e conquistas. Sendo o seu solo mais pessoal, não deixou de explorar algo que ainda é desconfortável para a maioria de nós: conversar sobre a morte e o processo de luto. É algo que ele faz desde que perdeu os pais, mas o público nem sempre acompanha essa abertura. O humor tem os limites que o humorista quiser definir (assim como o público), por isso, acho que é possível fazer piadas com tudo e com todos. A única coisa que difere é se tem ou não graça. E, se tiver, é inquestionável o objetivo. Enquanto ia escutando os bits, não deixei de me questionar sobre qual seria a minha reação numa circunstância idêntica, não deixei de ficar impressionada com o sangue frio que precisamos de ter, mas também não deixei de me rir com vontade, porque o texto é bom e porque o Franco-Bastos é exímio a entregar-nos a piada.

Diogo é íntimo e conta com algumas imitações, mas de personagens genéricas. Ao falar da sua família, coloca um holofote na pessoa que é e é mesmo interessante perceber todas as dicotomias que nos habitam. Sem momentos mortos, é comédia de alto nível. E termina com a melhor receita de sopa que possam imaginar.

8 comments

  1. As tuas palavras transportaram-me para o espectaculo *.* Deve ter sido um espectaculo muito bonito e memorável 💛 Sao estas pequenas memórias que enchem a nossa vida ✨
    Tily 🌷

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    1. Foi mesmo incrível, minha querida 😍 voltaria a ver sem qualquer problema.
      Muito obrigada 🫶🏻

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  2. Andreia deve ter sido um momento incrível pra você, e por falar em sopa eu adoro, bjs.

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    1. Foi mesmo, Lucimar!
      Confesso que não sou a maior fã de sopa, mas esta receita teve muita graça 😂

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  3. A minha relação com a comédia é um pouco distante. Mas, confesso que fiquei curiosa com este espetáculo. O Luís tem um talento fora do vulgar a imitar pessoas conhecidas.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. É dos humoristas que mais gosto de acompanhar! Fico a torcer para que o espetáculo saia, online, num futuro breve, para que todos consigam ver 🥺

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  4. Parece ter sido bastante interessante 😊

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