a noiva judia, nuno nepomuceno

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Linguagem Gráfica e Explícita


Os livros de Nuno Nepomuceno foram-me sugeridos com bastante entusiasmo e, em 2021, acabei por mergulhar na série Afonso Catalão, lendo os cinco primeiros volumes de seguida. Três anos (e vários meses) depois, voltei a esse universo para descobrir o seu tão aguardado desfecho. Só não estava a contar com uma experiência tão diferente.


uma sensação agridoce

A Noiva Judia é um thriller psicológico, construído a partir dos «cinco elementos de um filme». Além disso, é inspirado no homicídio do poeta, maestro e cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, combinando informações de outras histórias reais. Desta maneira, cruzamo-nos com linhas narrativas distintas, ficando a dúvida: estarão interligadas?

Na tentativa de unirmos as pontas soltas, viajaremos até Cambridge, Amesterdão e Veneza, uma vez que cada uma destas cidades esconde dados importantes para os crimes descritos no enredo. O corpo de um escritor famoso é encontrado numa praia deserta, brutalmente agredido, e surgem teorias acerca do culpado, porque, embora um jovem tenha confessado a autoria do crime, existem provas que apontam para a sua inocência. Por outro lado, a noiva da vítima, uma conhecida colecionadora de arte, decidi vir a público, o que levanta algumas questões sobre a relação e sobre o facto de poder estar implicada no sucedido. Para adensar o mistério, é descoberto o corpo de uma mulher. Terá sido apenas um caso isolado ou será mais uma camada desta teia?

A premissa intrigou-me desde o início, não só pela estrutura, pela complexidade dos detalhes e por se debruçar em várias frentes, mas também pelas motivações que nos fazem questionar acerca da humanidade das personagens. Ademais, sendo o final de uma série literária que me tinha marcado tanto, estava à espera de encontrar mais certezas do que dúvidas. O problema é que senti tudo demasiado inconstante.

Perdoem-me se revelo mais do que devia, mas achei os saltos temporais confusos. Por norma, não é algo que me condicione, aliás, até aprecio quando a narrativa é pouco linear, no entanto, neste enredo, sinto que acabou por prejudicar, até porque foram introduzidas informações pouco relevantes para a história (no meu entender, claro). Num policial/thriller, anseio que o autor nos tente ludibriar e desviar do caminho certo, mas não me parece que tenha sido esse o caso. Acredito que um trabalho de edição diferente pudesse limar essas arestas, tornando a leitura menos labiríntica.

«- É quando os nossos inimigos dormem, que devemos preparar-nos para os surpreender»

A certo ponto, confesso, senti-me desmotivada, chegando mesmo a questionar a imagem que criei dos exemplares anteriores, porque houve fragilidades neste livro que não me pareceram isoladas. Será que, quando os li, estava numa bolha de críticas tão positivas que influenciaram a minha perceção? Isto diz mais sobre mim do que sobre este livro, reconheço, mas a verdade é que cheguei ao fim com uma sensação agridoce.

Houve aspetos que não funcionaram muito bem comigo, nomeadamente a relação do título com toda a obra e o aparecimento de algumas personagens secundárias. Além disso, considero que teria sido mais benéfico se começasse a atar as pontas soltas mais cedo, para não passar a sensação de um desenlace célere. Por oposição, não posso deixar de destacar o trabalho de pesquisa do autor, que se nota ser meticuloso, bem fundamentado, conferindo maior movimento às cenas e despertando diferentes impressões, como se fizéssemos parte de todo este universo cheio de intrigas.

Creio que a escrita do Nuno Nepomuceno tem imenso potencial e gosto da maneira como cruza política e religião e como consegue que os enredos se mantenham independentes, mas ganhem outro fulgor quando lidos pela ordem de lançamento - este talvez seja o único que não aconselhe a ler sem conhecerem os anteriores. Em simultâneo, acho valioso e importante que esta obra nos permita refletir e debater sobre homofobia, transfobia, pedofilia, ciúmes, violência contra mulheres e relações extraconjugais. Perante tudo isto, não havia necessidade de complicar a fórmula.

A Noiva Judia, sendo uma despedida de Afonso Catalão, parece-me deixar portas entreabertas, o que me fez pensar na possibilidade de, mais tarde, vermos outras personagens a assumirem protagonismo, explorando narrativas paralelas. Ainda que não tenha correspondido às minhas expectativas, há uma aura sombria a pairar e somos sempre confrontados pelos segredos do passado, pelas meias-verdades e pelo desejo de vingança. Enquanto leitores, funcionamos como peões de um jogo perverso.


🎧 Música para acompanhar: Desolate Beauty, Richard Lacy

📖 Outros livros lidos: A Célula Adormecida | Pecados Santos | A Última Ceia | A Morte do Papa | O Cardeal (opinião completa sobre todos os livros da série Afonso Catalão)


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Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

Comentários

  1. Conheço o autor, mas ainda não li nada dele😊

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  2. Andreia gostei de saber da sua opinião sobre o livro, obrigada por compartilhar bjs.
    http://www.lucimarmoreira.com/

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  3. Já ouvi falar imenso do autor, mas ainda não senti aquele apelo pela sua obra.

    A tua resenha deu-me vontade de ir à aventura.

    Beijinho grande, minha querida!

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  4. Gostei do início desta série mas à medida que fui avançando nos últimos também fiquei com essa sensação de tudo ficar mais confuso e "trapalhão". Não sei se o autor se começou a fartar dos personagens e quis despachar-se para acabar com os livros. Ainda assim, há sempre informação valiosa nas obras e por isso vou querer ler este também, é o unico que me falta :)

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    1. Sim, também fiquei com essa sensação e acho que, para final de série, precisava de outra abordagem.
      De qualquer das formas, acho que vale a pena terminar ☺️

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