poesia, eugénio de andrade
Fotografia da minha autoria |
Os poemas de Eugénio de Andrade foram-me acompanhando de um modo pontual, quase sempre integrados no contexto académico. Embora tenha bem presente alguns dos seus versos, como «Cai o silêncio nos ombros e a luz/impura, até doer./É urgente o amor, é urgente/permanecer», acabei por nunca o priorizar para além das análises feitas em sala de aula. Porém, surgiu a oportunidade ideal para reverter a situação.
versos que soam a proximidade
Poesia reúne todos os livros poéticos do autor, «a partir da última edição revista em vida pelo [próprio] e com prefácio de José Tolentino Mendonça», e um dos aspetos que mais me impressionou foi a facilidade com que nos envolve nas suas palavras, até porque, creio, isso ajuda a desconstruir a seriedade que se continua a atribuir a este género literário - não o diminui se a abordagem for mais próxima do leitor. Uma vez que é um exemplar extenso, com mais de seiscentas páginas, tentei prolongar a leitura ao máximo, para descobrir os seus mundos devagar, no entanto, falhei redondamente. Quanto mais lia, mais queria ler e tornou-se difícil prosseguir sem esta companhia.
Quando leio poesia, questiono-me se estou a ser capaz de decifrar todas as suas camadas, se estou a conseguir extrair a verdadeira mensagem daqueles versos, porque não quero passar por eles de um modo superficial, mas com Eugénio de Andrade também compreendi que é provável que não esteja, mas que isso talvez não seja o mais importante. Existirá uma ligeira neblina a impedir o entendimento total, já que não somos nós os autores, mas retiraremos todas as aprendizagens que nos servirem. Ademais, ficará sempre alguma coisa, porque as emoções que despertam não têm de ser eruditas e interpretadas ao detalhe mais profundo. E acho que essa é parte da magia de ler poemas, já que vamos oscilando entre a incerteza e a identificação.
São vários os títulos aqui compilados e é interessante constatar que existem temas transversais a todos eles. Neste grupo, é notório que a Natureza é uma temática que lhe diz bastante, ao ponto de ver na cidade Invicta «a pequena praça onde há tantos anos aprendo metodicamente a ser árvore». Atendendo a que foi o autor homenageado da mais recente edição da Feira do Livro do Porto, razão pela qual me aventurei nesta obra, foi curioso regressar à Avenida das Tílias e relembrar algumas das palavras que li. Ainda que apenas se refira às flores e não aos Jardins do Palácio de Cristal, achei muito bonita esta ponte entre o livro e um local que, por si só, transborda poesia.
Quando leio poesia, questiono-me se estou a ser capaz de decifrar todas as suas camadas, se estou a conseguir extrair a verdadeira mensagem daqueles versos, porque não quero passar por eles de um modo superficial, mas com Eugénio de Andrade também compreendi que é provável que não esteja, mas que isso talvez não seja o mais importante. Existirá uma ligeira neblina a impedir o entendimento total, já que não somos nós os autores, mas retiraremos todas as aprendizagens que nos servirem. Ademais, ficará sempre alguma coisa, porque as emoções que despertam não têm de ser eruditas e interpretadas ao detalhe mais profundo. E acho que essa é parte da magia de ler poemas, já que vamos oscilando entre a incerteza e a identificação.
São vários os títulos aqui compilados e é interessante constatar que existem temas transversais a todos eles. Neste grupo, é notório que a Natureza é uma temática que lhe diz bastante, ao ponto de ver na cidade Invicta «a pequena praça onde há tantos anos aprendo metodicamente a ser árvore». Atendendo a que foi o autor homenageado da mais recente edição da Feira do Livro do Porto, razão pela qual me aventurei nesta obra, foi curioso regressar à Avenida das Tílias e relembrar algumas das palavras que li. Ainda que apenas se refira às flores e não aos Jardins do Palácio de Cristal, achei muito bonita esta ponte entre o livro e um local que, por si só, transborda poesia.
«Toda a poesia é luminosa, até/a mais obscura/O leitor é que tem às vezes,/em lugar de sol, nevoeiro dentro de si./E o nevoeiro nunca deixa ver claro./Se regressar/outra vez e outra vez/e outra vez/a essas sílabas acesas/ficará cego de tanta claridade./Abençoado seja se lá chegar.»
Eugénio de Andrade refere, ainda, que desde cedo se encontrou «desinteressado de coisas que interessavam à maioria» e sinto que isso se reflete nas suas preocupações, nas duas deambulações, apesar de também se centrar em assuntos influentes para qualquer ser humano. E é nesta falaciosa transversalidade entre a visão do poeta e as nossas observações que nos vamos redescobrindo e debruçando noutros focos de luz.
Poesia é cúmplice, de uma transparência que se resguarda e de um jogo de palavras que nos desarma e nos embala. Mesmo que continue a considerar que não entendi tudo, senti-me aconchegada nos poemas, quase como se partilhássemos algum nível de intimidade e a sua sensibilidade fosse uma generosa passagem de testemunho. Envolvida numa espécie de silêncio, podia jurar que o estava a ler à beira da sua tília.
🎧 Música para acompanhar: Urgentemente, A garota não
Poesia é cúmplice, de uma transparência que se resguarda e de um jogo de palavras que nos desarma e nos embala. Mesmo que continue a considerar que não entendi tudo, senti-me aconchegada nos poemas, quase como se partilhássemos algum nível de intimidade e a sua sensibilidade fosse uma generosa passagem de testemunho. Envolvida numa espécie de silêncio, podia jurar que o estava a ler à beira da sua tília.
🎧 Música para acompanhar: Urgentemente, A garota não
Este precisa de vir ca para para casa *.*
ResponderEliminarVale muito a pena 😍
EliminarDeixaste-me mesmo curiosa com este livro.
ResponderEliminarJá vou acrescentá-lo à Wishlist da WOOK.
Beijinho grande, minha querida!
É maravilhoso! Adoro como a sua poesia consegue ser tão próxima
EliminarAndreia é um bom livro pra ler, adoro poesias bjs.
ResponderEliminarÉ mesmo, Lucimar
EliminarNão sou fã de poesia, mas conheço o autor de "vista" 😊
ResponderEliminarAcaba por ser um autor com alguma presença no nosso percurso escolar :)
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