a mão que mata, lourenço seruya

Fotografia da minha autoria


Gatilhos: Referência a Doença Oncológica, Assédio e Violação; Violência


O nome de Lourenço Seruya estava no meu radar, contudo, uma série de desencontros fez com que demorasse a chegar à sua obra. Uma vez que as minhas leituras tiveram uma atualização tecnológica, achei que era a desculpa perfeita para, finalmente, o ler.


uma narrativa com potencial

A Mão Que Mata transporta-nos para uma mansão na Serra de Sintra, numa manhã de inverno, porque foi encontrado um cadáver. A família Ávila estava toda reunida para «formalizar as partilhas patrimoniais, na sequência do falecimento do patriarca», mas longe de imaginar que o momento seria interrompido de uma forma tão intensa. É neste ponto da narrativa que «o inspetor Bruno Saraiva e a sua brigada da PJ» surgem para dar início a uma investigação peculiar, uma vez que as opiniões sobre o culpado e as suas motivações parecem divergir. Uma coisa é certa: alguém está a mentir e não se poupará a esforços para que o segredo não seja revelado, conseguindo escapar impune.

Quando iniciei a leitura, senti-me a regressar ao ambiente de As Dez Figuras Negras, de Agatha Christie, e fiquei entusiasmada com esse detalhe, porque acho interessante ver como é que, a partir de um espaço limitado, o autor consegue desenvolver a narrativa, como é que consegue que as personagens se movimentem de um modo tão enigmático e sem que as restantes percebam as suas jogadas. Talvez por esse motivo, sem nunca ter entrado naquela casa, foi como se estivesse lá, a assistir de um lugar privilegiado. Tendo a rainha do crime como uma das suas referências, mas sem que isso o fizesse perder a sua voz, Lourenço Seruya foi lançando várias pistas, deixando-nos à deriva.

Admito, no entanto, que nem sempre apreciei a escrita e o rumo que o enredo tomou: por um lado, porque achei algumas cenas pouco verosímeis e, por outro, porque achei que o texto necessitava de uma revisão um pouco mais cuidada, para limar detalhes que, a meu ver, não acrescentam consistência à história. Ademais, creio que algumas descrições pecam por não se distanciarem de certos estereótipos - não precisava disso.

«Sabe o que é vermos desaparecer tudo aquilo que nos fez apaixonar por uma pessoa?»

No extremo oposto, não posso deixar de referir o quanto adorei a premissa e o facto de vermos um foco maior na investigação. Ficamos a conhecer fragmentos das vidas das personagens, o que nos ajuda a compor o cenário e, sobretudo, a traçar o perfil do potencial criminoso, mas isso não nos desvia do objetivo: descobrir o culpado. Em simultâneo, gostei que o autor introduzisse várias camadas a este enredo, mas sem o tornar confuso. Pelo contrário, manteve uma linha temporal fluída, consistente e fácil de acompanhar. E acredito que isso ajudou a que sobressaíssem os detalhes certos.

Queria ter visto um equilíbrio maior entre personagens, até porque isso fez com que algumas perguntas ficassem em suspenso, e diálogos menos forçados. Ainda assim, achei valiosas as reflexões sobre o facto de não escolhermos o sítio onde nascemos, sobre o impacto que as relações familiares têm na construção da nossa identidade e sobre a ganância que nos inflama por dentro, desvirtuando os valores que nos regem.

A Mão Que Mata não é perfeito, no entanto, tem potencial. Comecei a desconfiar do verdadeiro autor do crime mais cedo do que seria suposto, mas não foi algo que me tivesse condicionado a leitura, até porque, sendo honesta, fiquei mais investida nos motivos que o levaram a agir daquela maneira. E os detalhes finais desarmaram-me.


🎧 Música para acompanhar: Banshee, Arches


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

Comentários

  1. Também ando de olho num Kobo para ler mais ebooks e porque quero reformular a minha estante. Quero estar em formato físico apenas os autores dos quais tenho obra completa. Os outros na estante do kobo.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Ainda estou numa fase muito inicial de uso, mas estou rendida, porque é prático, é leve para ser transportado e acho que nos permite arriscar mais em autores que não conhecemos tão bem. E a realidade é que também acabamos por poupar mais

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  2. Não gostei nada deste livro, na altura comprei-o novo e fui cheia de expectativas. Fiquei triste, e com muito pouca vontade de continuar a série, confesso. Mas não quero desistir porque os próximos volumes passam-se em Coimbra e arredores, a minha zona, que não costuma ter tanto destaque na literatura. Vamos ver :)

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    1. Oh, que pena 😔 acho que o livro tem algumas fragilidades, a começar pela revisão, mas até achei que tinha potencial.
      Já me disseram que os próximos estão melhores e espero mesmo que sim. Se leres, depois diz-me o que achaste 🥰

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  3. Andreia já ouvi falar do livro uma boa sugestão pra ler bjs.

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  4. Ainda não li, mas tenho muita vontade.
    Beijinhos

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  5. Sinto que vou querer muito ler este livro...

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    1. Eu disse que o Kobo ou o Kindle eram uma excelente opcao *.* Estou rendida ha ja uma decada :) Agora para ajudar nas lides tenho a companhia dos audiobooks :)

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    2. Acho que se lê muito bem!
      Um ótimo aliado, sem dúvida 🤌🏻

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  6. Li os quatro. O que se passa na aldeia do Piódão (Crime na aldeia) foi o meu preferido.

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