memórias analógicas
Fotografia da minha autoria |
A imagem da minha primeira máquina está nítida, mas sobre o momento em que tirei a primeira fotografia não posso dizer o mesmo. Acho que, lá no fundo, o meu fascínio por esta arte também foi uma tentativa de responder - ou contornar - o que vamos perdendo com o tempo: se for eternizando esses fragmentos, talvez eles não se esfumem no meio de tantos outros.
Habituei-me, então, a levar a câmara compacta para todo o lado, tal como confidenciei nesta publicação. Contudo, quando tive de a substituir e comprei uma DSLR, deixou de ser prático transportá-la todos os dias, mas ter o telemóvel por perto resolve parte da questão. Independentemente do recurso, tirar fotografias é uma constante da qual não abdico.
Talvez exista um tom nostálgico a pesar (mais, até, do que o criativo), mas a verdade é que sou das que para inúmeras vezes durante um passeio para fotografar flores, portas, paisagens, a forma das nuvens, um arco-íris, animais num parque; sou das que regista os pratos de comida, mensagens escritas em escadas, parades cobertas de cor e bailes de rua. Por oposição, não sou das que gosta de estar do lado de lá da objetiva, mas convidem-me para estar atrás da câmara e eu fico com o dia feito. Eu sei que nada disto desacelera o tempo, sei que nada disto impede que as coisas terminem, nem que as pessoas partam, mas poderei sempre regressar.
Fotografo para que tudo fique, mesmo que seja «em outra vida, em outro mundo». E, de fundo, já só ouço a voz de Bad Bunny, cujo álbum DeBí TiRAR MáS FOToS chegou na altura perfeita, embalando-me nesta convicção de que não existem fotografias a mais. Sendo franca, continuo a preferir uma galeria cheia, com registos desfocados, à sensação de arrependimento e vazio.
memórias analógicas
Parte do encanto de fotografar prende-se com a revelação. Numa era cada vez mais tecnológica, compreendemos que esse hábito não é tão comum, que tiramos fotografias indiscriminadamente, porque não temos de nos preocupar com a duração do rolo, e que já não somos revestidos por uma certa ansiedade antes de vermos o resultado. Por outro lado, temos outras vantagens nessa transição, atendendo a que há uma margem maior para o erro, para armazenar memórias e, inclusive, para evitarmos desperdícios, porque podemos escolher se queremos ou não revelar determinada fotografia. Como em tudo, vamos descobrir sempre prós e contras, o certo é que o primeiro cenário preserva uma aura mágica, talvez emocional.
Estou sempre a dizer que quero percorrer os meus álbuns digitais e construir físicos, pelo menos, de alguns passeios, para que, daqui a uns anos, possa repetir a experiência de os abrir e deliciar-me a recordar aqueles momentos. É extraordinário como parece que aqueles pedaços de papel têm som, cheiro e um conforto que não encontramos em mais parte alguma. Apesar de continuar a adiar essa concretização, este mês, revivi um pouco dessa dinâmica.
No meu aniversário, fui surpreendida com uma máquina fotográfica descartável, com o pretexto de a usar na minha viagem a Madrid, e senti-me a recuar no tempo. Não a gastei toda na capital espanhola, por isso, diverti-me a usá-la noutras ocasiões e estava muito curiosa para ver como é que as fotografias ficaram. Acho que não a soube usar muito bem, mas já só quero repetir a experiência, mesmo não tendo ficado com uma recordação em papel como esperava.
A vida, como canta Bad Bunny, «é uma festa que um dia acaba», mas estes registos farão sempre parte «da minha dança inesquecível». Deixo-vos com algumas das minhas memórias.
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