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Fotografia da minha autoria |
Gatilhos: Guerra, Luto, Violência
A incerteza consome, vai-nos destruindo lentamente, de um modo subtil, até minar qualquer rasgo de alento, de esperança, mas parece existir algo que nos impede de sucumbir em pleno. E a novela gráfica de Keum Suk Gendry-Kim vai oscilando entre esses estados.
famílias separadas pela guerra
A Espera conta-nos a história de Gwijá, uma mulher de 92 anos, a viver na Coreia do Sul, que ainda «mantém o desejo de reencontrar o filho mais velho», sete décadas depois de se terem «separado quando seguia numa coluna de refugiados que fugiam do norte». É através desse testemunho que contactamos com um trauma que se entranhou como um legado.
A Guerra da Coreia, em 1950, desencontrou famílias inteiras, deixando-as em lados opostos «de uma fronteira intransponível», o que provocou consequências a longo prazo, muitas delas irreversíveis. O impacto da colonização, das ações políticas e de um passado que lhes escapou por entre os dedos, sem que pudessem controlar a narrativa, reverberou por várias gerações, intensificando a dor.
Estava à espera de encontrar uma narrativa dilacerante, afinal, o tempo não apaga as feridas e há cicatrizes demasiado profundas. Além do mais, tendo em conta o acontecimento central, estava à espera de encontrar retratos de desigualdade, de dificuldade, de violência, de desalento, de angústia e, claro, de horror. E foi tudo isso que encontrei, comovendo-me em várias partes desta novela gráfica. Por mais que não consigamos sentir na pele a dor daquele(s) momento(s), é fácil - e imediato - colocarmo-nos no lugar das personagens.
«A promessa que fiz à minha mãe há tanto tempo alojou-se num canto do meu coração e foi-se tornando sólida como uma rocha»
Senti que foi bastante cruel a forma como tudo se processou, até mesmo a iniciativa de promover o encontro entre as famílias que continuaram a depender da sorte, da arbitrariedade, mas, por outro lado, há um tom de esperança a pairar, a embalar os passos daqueles que viveram tudo isto na primeira pessoa - e, em boa verdade, os nossos também.
A Espera é sobre as vidas em suspenso, sobre aquilo e aqueles que não se esquecem e sobre resiliência. É sobre o que não se vê e o que se vê em demasia. E é sobre os limites que se transpõem para se sobreviver. Sublime!
🎧 Música para acompanhar: The Waiting, George Fitzgerald & Lawrence Hart
4 Comments
Pela descrição parece-me um livro um pouco duro para ler e nesta altura prefiro leituras mais leves.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Será preferível deixá-lo para outra altura, então, porque é bastante duro
EliminarEsta autora é incrível. Já li as duas novelas gráficas e são excelentes, apesar de muito duras.
ResponderEliminarQuero muito ler as outras 😍
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