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Fotografia da minha autoria |
A escrita da Luísa Sobral não me era totalmente desconhecida, uma vez que as suas canções vão habitando algumas das minhas playlists. Por esse motivo, fiquei bastante curiosa quando soube que se iria aventurar na escrita de um romance e aproveitei que seria leitura conjunta no Livra-te - clube de leitura da Rita da Nova e da Joana da Silva - para a descobrir numa narrativa mais longa e que parte de uma história verídica.
um vínculo com a natureza
Nem Todas as Árvores Morrem de Pé tem «os cinquenta anos mais tristes da história da Alemanha» como cenário de fundo e centra-se na história de duas mulheres «unidas pela desilusão»: Emmi e M. Por um lado, Emmi, nascida pouco tempo antes de Hitler ascender ao poder, apaixona-se perdidamente por Markus, com quem casa e vai viver para a RDA, e sente a sua vida a mudar por causa de uma carta anónima e pelo Muro de Berlim, que a afasta da família. Por outro, M., que nasce «após a divisão das duas Alemanhas, cresce a idolatrar o pai e a colmatar as feridas de uma mãe ausente. À medida que vai crescendo, vai compreendendo que a realidade não é tudo o que vê.
A minha ligação à narrativa foi imediata, não só pela escrita poética, mas também pela estrutura e pelos detalhes. M. tem uma paixão por plantas e esse vínculo trouxe um encanto diferente, até porque nos permite conhecer propriedades e finalidades que parecem encaixar nas mais diversas personalidades. Afinal, flores e pessoas estão mais próximas do que aquilo que podemos julgar e isso torna-se evidente através das suas ações. Ademais, queria compreender de que maneira é que a vida destas mulheres se poderia cruzar e qual o verdadeiro impacto que esse encontro poderia ter para ambas.
Outro aspeto que achei valioso foi a sensibilidade da autora para abordar um tema em específico. Não o posso detalhar para não estragar a experiência de leitura, contudo, creio que o retratou com muita empatia. Aliás, sem romantizar, sinto que estabeleceu um cenário muito credível, aproximando-nos da dor e da luta de uma das personagens.
«Há despedidas tão dolorosas que só uma parte de nós se vai embora. Não temos força suficiente para nos convencermos a partir por inteiro»
O livro tem um ritmo excelente e não se demora em cenários que acrescentam pouco ao enredo. Ainda assim, preferia que tivesse desenvolvido alguns acontecimentos, que nos fizesse passar mais tempo na companhia dos intervenientes, que nos fizesse sentir mais os contrastes ideológicos e, no fundo, que nos permitisse acompanhar de perto algumas decisões, porque acredito que isso nos ajudaria a ficar com menos questões. Inclusive, fica a sensação de que apenas quis concluir a história, mas a verdade é que existiam ramificações que poderia explorar sem que isso prejudicasse a cadência.
Nem Todos as Árvores Morrem de Pé talvez não tenha sido tudo o que idealizei, porém, comoveu-me em alguns capítulos e, sobretudo, deixou-me a pensar, por um lado, que é impressionante como existem relações que minam todas as outras e, por outro, que é possível renascermos e sermos felizes no caos, visto que há sempre alguém para nos amparar e para nos mostrar o verdadeiro significado de pertencer, de estar em casa.
notas literárias
- Gatilhos: Linguagem gráfica e explícita
- Lido entre: 18 e 19 de abril
- Desafio: Clube do Livra-te
- Formato de leitura: Digital
- Género: Romance
- Personagens favoritas: Francesca, Angelo e Klaus
- Pontos fortes: A relação com as plantas, a sensibilidade, a escrita poética
- Banda sonora: Maria Feliz, Luísa Sobral | Sail Along Silv’ry Moon, Billy Vaughn | Dein Name, Uschi Bruning | Camomila, Lázaro
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luísa sobral
nem todas as árvores morrem de pé
4 Comments
Tambem tenho este para ler... sinto que vou recordar muito a minha breve passagem pela Aleamanh no leste, ha 30 anos, 5 anos apos a morte do muro *.*
ResponderEliminarDeixou-me com vontade de ler mais coisas da Luísa Sobral 😊
EliminarEstou a ler atualmente e estou a gostar muito. Uma surpresa boa a escrita da Luísa.
ResponderEliminarBeijinho grande, minha querida!
Que bom, minha querida! Também gostei muito da escrita
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