As vantagens de ser invisível!

A Mel, d' O mundo de Mel, lançou um desafio aos seus leitores: escrever um texto cujo título teria que ser «As vantagens de ser invisível» (saibam o motivo aqui). O texto escolhido seria, posteriormente, publicado no seu blogue e, além disso, o vencedor ganharia um vestido da marca LeMiserable. O maior requisito é que cada participação fosse o mais genuína possível. Não podia perder esta oportunidade, precisamente por ser um desafio de escrita. Senti as palavras a ganharem forma quase automaticamente. E fiquei mesmo feliz quando soube que tinha sido o meu texto o escolhido. Hoje partilho-o convosco!

«As vantagens de ser invisível»

Deambulei ao teu encontro. Ansiei a vida toda pelo momento em que o meu corpo sentiria o calor do teu abraço meigo e protetor.

Sinto-me segura de mim quando te encontro no lado esquerdo do meu peito, nesse lado fiel onde a saudade de ti se estende a todas as memórias que construímos, tão frágeis como um castelo de cartas; tão certas como um mar revolto em dia de tempestade.

Estou à tua frente. Esse teu olhar azul-infinito trespassa-me como se eu não passasse de uma sombra; um pedaço invisível do teu caminho. Alcanço-te e não te sinto. Os teus braços rejeitam-me como se não me visses. E as lágrimas que controlo a custo não aguentam mais: rolam pelo meu rosto pálido de mágoa. 

Luto contra as amarras que me parecem prender e tu foges de mim sem precisares de sair do lugar. Permaneço sentada ao teu lado, sentada no sofá onde um dia sonhei adormecer no teu colo. Preciso que acaricies os meus caracóis entre os teus dedos, apenas como um sinal de como sabes que ali estou - e me queres. 

Estás imóvel, alheado num mundo só teu. E neste silêncio que me rasga a pele, encontrei a única vantagem lógica de ser invisível perante ti: a dor da rejeição será menor. E talvez me fragmente em poucos pedaços, porque não sentirás as minhas lágrimas angustiadas no teu ombro; nem se perpetuará no tempo uma espécie de prova física do meu amor - aquele que nunca serás capaz de retribuir por não saberes quem sou.

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