Entre Margens

Fotografia da minha autoria



«A vida é feita de momentos colecionáveis»


Fevereiro. Este mês foi um pouco mais sereno, isto se excluir a componente desportiva da equação. Ainda assim, trouxe-me uma luz de esperança na Liga dos Campeões, fazendo-me transbordar de orgulho - é este o nosso caminho. Além disso, trouxe-me a emoção do Festival da Canção e um breve apaziguar das saudades que me arrebatam. Entre várias reorganizações das estantes, registei momentos muito especiais.



«Fica tanto por dizer
Quando vou embora
As amarras são feitas de betão
E eu tento não ceder

Se te quero agora
Finjo outra missão
Para te dar a mão

[...]

Espero outro sol nascer
Quem sabe evapora
Esse gelo atrai
Mas queima quem não se cuidar

[...]

Ah! Vou ficar nesta paragem
Sim, guarda a próxima viagem para mim
Que há amor se houver vontade
Mata-me a saudade»

Fotografia da minha autoria



«Em Chatlam nada é o que parece»


O traço camaleónico de um autor entusiasma-me, porque acredito que o seu talento não se esgota num único registo [mesmo que manifeste uma preferência]. Isso não significa que seja excelente em todos, mas acho louvável que corra o risco de sair de uma zona de suposto conforto. Portanto, foi de peito aberto que acolhi o thriller de João Tordo, cuja escrita conquistou-me em Ensina-me a Voar Sobre os Telhados.

«Mas quem é que, naquela idade, não se põe a sonhar com coisas impossíveis?»

A Noite em Que o Verão Acabou apresenta dois planos narrativos - Portugal e os Estados Unidos - e dois planos temporais - 1998 e 1987. Porém, há algo a uni-los: Pedro Taborda, a família Walsh e dois homicídios. E é a forma como esses caminhos se cruzam, primeiro com uma certa inocência, que proporciona uma leitura visceral e tão vertiginosa, visto que tem camadas emocionais e morais que nos desorganizam por dentro. Além disso, mantendo o nosso pensamento em alvoroço, incentiva-nos a formular hipóteses para desvendar o mistério, desconstruindo-as de seguida. Porque nada é o que aparenta.

«Todas as histórias nascem do mesmo lugar»

Neste jogo de probabilidades e muitos enganos, não encontramos um segundo de sossego. Não só pelos crimes que necessitam de ser resolvidos, mas também por nos confrontar com a disfuncionalidade familiar, a solidão, o abandono, a vingança, o medo e a tristeza. E por, simultaneamente, demonstrar as feridas que permanecem em aberto, o poder dos nossos sonhos e as decisões singulares que podem mudar todo o curso da nossa vida. Resgatando aflições credíveis, compreendemos que o apego tem a capacidade de toldar o nosso discernimento, sendo fundamental libertarmo-nos de preconceitos, de quimeras e dos fantasmas do passado, para sermos capazes de evoluir.

«Os comités liberais das faculdades quiseram fazer de 
mim um exemplo de como o dinheiro não compra tudo»

O número de páginas de uma obra não me intimida, até porque há casos que nos envolvem num sopro. E sinto que, neste exemplar em concreto, são todas necessárias para sermos absorvidos no enredo. E é fascinante como João Tordo consegue criar a ilusão de ser uma história verídica, com inúmeros detalhes, sinais e pontos de vista. Sem qualquer quebra de ritmo, fiquei agarrada a este labirinto de reviravoltas geniais.

«Entregou-me um envelope branco com o meu nome escrito na parte da frente. 
Abri-o. No interior havia uma folha de papel A4, com uma frase escrita a lápis»

A Noite em Que o Verão Acabou é quase um livro dentro de outro livro. Sustentando-se num fio condutor sólido, divide-se em questões bastante pertinentes, conversas sobre amor e novas oportunidades. E mostra-nos que o nosso percurso pode acolher várias falhas. No entanto, sem abdicar de quem somos, há uma verdade que nos impulsiona a recomeçar.

«Aquele caso era, na verdade, uma história de amor. Ou mais de uma»


// Disponibilidade //

Wook: Livro | eBook
Bertrand: Livro | eBook

Nota: O blogue é afiliado da Wook e da Bertrand. Ao adquirirem o[s] artigo[s] através dos links disponibilizados estão a contribuir para o seu crescimento literário - e não só. Muito obrigada pelo apoio ♥

Fotografia da minha autoria



«O silêncio diz muita coisa»


Foi contigo que aprendi que também se ama em silêncio, numa dança infinita de olhares e de abraços de cumplicidade. Porque tudo é descomplicado, quando comunicamos sem palavras, privilegiando o conforto e a familiaridade que apenas dois corpos livres interpretam.

Desprendo-me da insegurança que uma expressão mal dita pode provocar, para compreender que me conheces melhor sempre que me observas a escutar conversas improváveis entre trutas e tartarugas. E até a gargalhada estridente que partilhamos é mais sonora por ficarmos assim: envolvidos numa inércia de ruídos. Era capaz de ficar neste estado a minha vida inteira, se te tivesse sempre comigo - não sei até que ponto este silêncio resultaria tão bem com qualquer outra pessoa.

No entanto, reconheço, era capaz de começar a sentir saudades do teu tom rouco, charmoso. Mas sabe-me bem permanecer calada ao teu lado. Porque me amas sem rodeios. És a minha pessoa. Talvez, por isso, não precise de te falar para que sintas, exatamente, o que te quero dizer.


M, 10.04.2015

Fotografia da minha autoria


Tema: Um livro para morar


A poesia é um género para morar - ainda que, por vezes, eu seja aquele amigo que atravessa o mundo, desligado, e demora a regressar, tornando-se quase num estranho. Por essa razão, influenciada pela Rita da Nova, apontei novamente a Aveiro e ao Alma Lusitana, porque o livro da Filipa Leal abriu-me as portas de casa e convidou-me a permanecer.

«Sei que eu e os meus irmãos tivemos sempre
uns dos outros as partes melhores»

Fósforos e Metal Sobre Imitação de Ser Humano é um misto de conselhos para quem entra nos quarenta e uma exposição de escultura, mantendo um tom despretensioso, sarcástico e bastante relacional. Porque, com honestidade, equilibra aspetos do quotidiano com experiências pessoais e familiares. E, assim, deambulamos por fragmentos da sua infância e sentimentos mais atuais, proporcionando-nos uma leitura intimista, que facilmente se cola à nossa pele - mesmo que a descubramos num sopro.

«Não é a terra que é estreita, sou eu»

Fiquei, particularmente, presa à primeira parte. No entanto, toda a obra, que também apresenta poesia em prosa, é fantástica. Porque é sobre ser, sobre generosidade, sobre aprender a dividir, sobre amores, desamores e ilusões. E, por consequência, é sobre metamorfoses. Com um traço utópico e outro que consegue ser a luz da nossa realidade, perdemo-nos nos seus versos, sentindo tudo. Fósforos e Metal Sobre Imitação de Ser Humano tem mesmo a essência certa. Que obra de arte!

«Queria os teus olhos a fecharem-se comigo por dentro e tu por dentro de mim»


// Disponibilidade //

Wook: Livro | eBook
Bertrand: Livro | eBook

Nota: O blogue é afiliado da Wook e da Bertrand. Ao adquirirem o[s] artigo[s] através dos links disponibilizados estão a contribuir para o seu crescimento literário - e não só. Muito obrigada pelo apoio ♥

Fotografia da minha autoria


«A pergunta não é como, mas quando»


O meu apreço por séries não pertence a uma gaveta desconhecida, atendendo a que o partilho sempre que o coração o pede. Porque eu sou feita de histórias longas, que me permitem estabelecer vínculos mais profundos com as personagens - tal como nos livros. Por isso, deixo que os episódios se sucedam, tecendo um manto de temporadas sem igual.

Fotografia da minha autoria



«Um clássico da literatura americana»


Fevereiro traz no seu regaço uma celebração particular, uma vez que, nos Estados Unidos da América, é o mês da Black History, procurando assinalar «as concretizações dos negros na sua História». Como acredito que há datas e lutas que devem ser transversais a todas as comunidades, resgatei da minha estante o livro de Alice Walker, que não só é a seleção do Clube de Leitura Leituras Descomplicadas, como também pertence à lista de obras que pretendo ler antes dos trinta.

«Ela tem medo. Mas eu digo pra ela Eu tomo conta de ti»

A Cor Púrpura, escrito num registo epistolar, é um manifesto contra o ódio, a desigualdade e a violência. Embora nos receba com um autêntico murro no estômago, visto que apresenta um relato cru dos acontecimentos, não deixa de acalentar uma certa dose de ternura e inocência. Ainda assim, não posso prosseguir sem alertar para a presença de gatilhos, porque são claros os abusos - sexuais e emocionais -, o desrespeito pelas mulheres, a crueldade e a ponte com um passado de escravatura. Há um traço desumano que nos revolta e que nos faz repensar os nossos comportamentos em relação aos demais, por isso é que esta história permanece tão atual. Porque, enquanto a cor de pele for mais importante, serão sempre mais os muros a separar-nos.

«Mas eu não sei lutar. Só sei me manter viva»

A palavra de ordem parece ser sobreviver. No entanto, a autora construiu uma narrativa de contrastes, mostrando que há mais mundo para além do conformismo e da submissão. Assim, gradualmente, vamos sendo confrontados por uma bela metamorfose da nossa protagonista, que descobre a sua voz. Escrevendo cartas a Deus, na tentativa de entender o que está a acontecer na sua vida, é na companhia de Sofia e, sobretudo, de Sugar que Celie floresce, libertando-se dos fantasmas do passado. E é este vínculo que evidencia o forte impacto da sororidade.

«Ter alguém pra onde fugir. Uma ideia tão doce era insuportável»

Este livro, para além de se centrar no racismo e na violência, também foca os efeitos de uma educação precária. Contudo, um dos aspetos mais fascinantes da tradução de Tânia Ganho é a ressalva da existência de marcas de oralidade da comunidade negra rural - aliás, uma escolha que provém da própria Alice Walker -, aproximando-nos do contexto das personagens. Portanto, como alguém mencionou, «é a arte a imitar a vida», incluindo-nos no processo com outra intimidade, até porque revela um nível de honestidade e vulnerabilidade que nos desarma.

«Nunca ninguém me amou, digo»

A Cor Púrpura é uma viagem intensa e bastante emocional, na qual se expõem medos, dúvidas e desejos, ao mesmo tempo que se promove um reencontro espiritual. E é, acima de tudo, uma demonstração de redenção, de empoderamento e de amor. Principalmente, o próprio. Porque, por vezes, sentimos que algo é errado, mas não possuímos meios para inverter essa condição. Apesar disso, quando se cruzam verdadeiros caminhos de empatia e fraternidade, o destino pode ser distinto, permitindo-nos recomeçar. Mesmo que o mundo nem sempre seja um lugar seguro, há pessoas que se transformam numa casa inquebrável.

«Toda a gente aprende alguma coisa na vida»


// Disponibilidade //

Wook: Livro | eBook
Bertrand: Livro | eBook

Nota: O blogue é afiliado da Wook e da Bertrand. Ao adquirirem o[s] artigo[s] através dos links disponibilizados estão a contribuir para o seu crescimento literário - e não só. Muito obrigada pelo apoio ♥



«Tem o cheiro das flores
Tem um sorriso do céu
Tem manias, costumes
De um doce favo de mel

Fotografia da minha autoria



... Raposas!

[O meu fascínio por raposas começou cedo, porque um dos filmes da minha infância - e pelo qual, ainda hoje, nutro um carinho especial - é o Papuça e Dentuça. Sendo um dos protagonistas o animal referido, perdi-me de encantos pelas suas feições. Mais tarde, ao embarcar no extraordinário mundo d' O Principezinho, reforcei esse elo emocional. Além disso, a raposa simboliza o valor da amizade, que permanece para lá do tempo e de todas as diferenças. Astutas, de natureza solitária, são animais magníficos. Mesmo que lhes possam atribuir uma conotação mais negativa, encará-las-ei sempre com um simbolismo inspirador].

Fotografia da minha autoria



«Nós partilhamos o ingrediente, tu escolhes o livro»


A literatura e a culinária são duas artes distintas, mas acalentam a capacidade de caminhar de mãos entrelaçadas, porque os livros têm os temperos certos para nos deixarem deliciados. Portanto, a Andreia Moita [Andreia Moita], a Joana Clara [Às Cavalitas do Vento], a Vânia Duarte [Vânia Duarte] e a Catarina Alves de Sousa [Joan of July], movidas por esta premissa, em 2017, deram asas ao Páginas Salteadas.

Fotografia da minha autoria



«O que fazer quando alguém de quem 
gostamos nos começa a esquecer?»


A perda definitiva da memória é uma condição que me inquieta, porque não controlamos a sua evolução e, sobretudo, porque nos priva daquilo que nos permite contar a nossa história. Por essa razão, considero fundamental conversarmos sobre doenças degenerativas, tal como o Alzheimer, por mais complexas que sejam. Porque desmistificámo-las.

«Parecia que muitas vezes era o avô quem se entusiasmava 
mais com as coisas que víamos e descobríamos»

O Avô Tem Uma Borracha na Cabeça é uma extraordinária história de amor. Não no sentido romântico, mas na sua essência cuidadora, uma vez que, através do olhar inventor de um neto, somos confrontados com o esquecimento de um avô, que vai progredindo e transitando de perdas de memória temporárias para o limbo angustiante que deixa pesados espaços em branco. Assim, procurando preservar os seus fragmentos mais valiosos, o nosso protagonista inconformado embarca numa missão particular. Porque é duro aceitar que aquela pessoa já não é quem conhecemos. E nem sempre é fácil gerir a angustia, o desassossego e o futuro incerto. Mas, homenageando os laços de amizade, reveste-se a esperança e inventa-se uma cura - mesmo que afirmem que não existe.

«Os meus pais acabrunharam. Murcharam. Encolheram»

Este livro transborda de detalhes maravilhosos. E se, por um lado, o texto de Rui Zink emociona-nos, por outro, as ilustrações de Paula Delecave criam um contexto bastante proximal. Além disso, este trabalho de equipa evidencia algo que necessita ser revisto: a relutância dos adultos em falarem com as crianças sobre assuntos delicados. Até que ponto é benéfico contar-lhes a verdade? Qual será o impacto dessa conversa? Será que compreenderão? Todas estas questões são válidas, até porque apenas querem  protege-las do sofrimento. No entanto, creio que a falta de transparência torna-se mais prejudicial, porque pode encaminhar a criança para cenários hipotéticos ainda mais perigosos, transformando o problema em algo maior. Portanto, sermos honestos, mostrando-nos disponíveis para lhes minimizar as dúvidas, é sempre mais saudável. Não só porque validamos as suas preocupações, mas também porque proporcionamos um momento de aprendizagem mútua.

«Eu não podia deixar isso acontecer»

Há um turbilhão de emoções em cada frase e nas entrelinhas. Há sensibilidade. E há colo. Em simultâneo, mostra-nos que podemos seguir uma de duas rotas: revoltarmo-nos com o facto de a outra pessoa se ir esquecendo de nós [sem ter culpa] ou, então, sentirmos que, por continuarmos a saber quem ela é, somos capazes de criar alternativas. Se calhar, em fases distintas, até experienciamos ambas as situações - é natural. Contudo, ainda que não aceitemos o desfecho, encontramos alguma paz por sabermos que permanecerá sempre no nosso coração.

«O que estás a fazer? (perguntaram)»

O Avô Tem Uma Borracha na Cabeça guarda uma mensagem imprescindível: o amor é mais forte do que o esquecimento. Por isso, que nunca percamos a vontade de ser o lápis na vida de todos aqueles que nos são tanto.

«E escrevi e desenhei tudo o que pude»


// Disponibilidade //

Wook: Livro | eBook
Bertrand: Livro | eBook

Nota: O blogue é afiliado da Wook e da Bertrand. Ao adquirirem o[s] artigo[s] através dos links disponibilizados estão a contribuir para o seu crescimento literário - e não só. Muito obrigada pelo apoio ♥

Fotografia da minha autoria



«Isto é música para o teu frigorífico»


O chá é a minha bebida de eleição. No entanto, como sou feita de contrastes, também aprecio cerveja. E tenho uma predileção maior pela artesanal, porque o seu travo mais genuíno, bem perto das origens, não mascara a sua robustez. Por essa razão, entusiasmo-me sempre que me cruzo com projetos e marcas que demonstram o seu compromisso vincado de valorizar uma cerveja que saiba a cerveja. Assim como faz a Musa.

Fotografia da minha autoria



Tema: Um livro fora da tua zona de conforto


Livros: um passaporte de cultura, conhecimento e entretenimento. Por vezes, com esses fragmentos a ocorrerem em simultâneo. Embora aprecie o aconchego de estilos e autores que caminham de mãos entrelaçadas às minhas preferências, também invisto em rotas improváveis. Portanto, para o tema de fevereiro de Uma Dúzia de Livros, libertei-me da minha zona de conforto e aventurei-me na banda desenhada de Marjane Satrapi.

«Para me esclarecer, compraram-me livros»

Persépolis é um relato na primeira pessoa, dividido em duas partes imprescindíveis: a infância e o regresso às origens. Assim, através da história da protagonista, somos confrontados pela realidade de uma nação inteira, subjugada por fundamentalistas mercenários, que se movimenta numa onda de desigualdades, dificuldades, mudanças e extremismos, evidentes em sucessivos massacres. Na cidade de Teerão, no Irão, o clima político é instável e há uma revolução a adquirir forma. E Marj, de dez anos, observa tudo com um misto de inocência e irreverência, mas com uma vontade imensa de compreender o que a rodeia e, sobretudo, de fazer a diferença. Para tal, procurou instruir-se.

«Senti tanta vergonha... e tanta pena dela»

Desenrolando memórias e situações dramáticas, há um tom muito franco nesta narrativa aos quadradinhos, aproximando-nos de uma história que, não sendo a nossa, não podemos ignorar. Porque denuncia o fanatismo, a opressão e o machismo. Por outro lado, acentua a importância da família e a necessidade de verbalizarmos o nosso inconformismo, apesar dos riscos explícitos, ainda para mais, sendo mulher. Porque o medo é uma arma poderosa, assim como a informação. E só uma sociedade informada se opõe aos regimes repressivos que deformam mentalidades.

«Voltei-me para vê-los pela última vez»

Esta obra é extremamente humana e tem ilustrações monocromáticas fabulosas. Além disso, não deixa de ser irónico o toque poético e humorístico presente no texto. Talvez porque, mesmo no meio do caos, a intimidade e a ternura dos nossos - e daqueles com quem nos cruzamos - seja uma salvação. Focando questões como a emigração, os vícios, a depressão e o quanto é errado julgarmos um país por crimes de terceiros, também nos fala de amor, de fé, de superação e de perdão.

«O que quer que eu diga? Que me tornei o vegetal que me recusava a ser?»

Persépolis é feito de fronteiras, mas também de estratégias para quebrar esses muros sociais e políticos. E é o retrato da emancipação de uma menina-mulher inspiradora, que luta pela sua liberdade, recusando-se a aceitar que este direito pertença a um grupo restrito.

«Decidi encarar aquele pequeno problema como um sinal. 
Era altura de pôr fim ao passado e de olhar para o futuro»


Disponibilidade: Wook | Bertrand

Nota: O blogue é afiliado da Wook e da Bertrand. Ao adquirirem o[s] artigo[s] através dos links disponibilizados estão a contribuir para o seu crescimento literário - e não só. Muito obrigada pelo apoio ♥

Fotografia da minha autoria



Tema: Mala + Flor


Dois desconhecidos
Algures, num mundo sem tempo
[e, talvez, sem nexo]

- Estiveste a guardar aí as tuas lágrimas?
- Não! Não caberiam em tão compacto espaço
- Então, o que levas ao ombro?
- Apenas uma carteira envelhecida.
- Pesa?
- O quê? A fita entrelaçada?
- Não, isso não...
- Então?
- O que escondes no seu interior.
- Ah! Nem por isso.
- Mas é valioso?
- É mais isso, sim.
- Será que me podias mostrar?
- Só se prometeres guardar segredo.
- Prometo!
- É que na minha mala guardo flores.
- Porquê?
- Porque não posso transportar o mundo cá dentro
- E qual é a lógica disso?
- Oferecer o que me sai do peito.
- Em pétalas?
- Em ramos sortidos de tulipas, amores perfeitos e jasmins.
- Oh!
- Queres um?



«Já não sabe onde anda
Chega tarde nem reclama
Beija todos os que ama
Tira a roupa e vai para a cama

Fotografia da minha autoria



«A rádio não é timbre, é emoção»


As minhas viagens de carro são sempre feitas de rádio ligado. Por muito que aprecie escutar o silêncio, conforta-me ir em direção ao destino na companhia de música e das conversas que se sucedem nos intervalos das mesmas. Porque há uma sensação de proximidade e descoberta que encurta a distância - a física e, também, a emocional.

Em 1946, a United Nations Radio emitiu, pela primeira vez, um programa para seis países. E, desde 2012, a 13 de fevereiro, celebra-se o Dia Mundial da Radio. Sendo um meio de comunicação por excelência, é louvável a sua capacidade para se reinventar; para acompanhar o progresso e adaptar-se às mudanças e às necessidades dos ouvintes. Nem tudo é perfeito, claro. E sinto que o caminho permanece longo no que diz respeito à aposta na música portuguesa, por exemplo. Mas há passos a serem fomentados nesse sentido. E, assim, equilibrando a informação e o entretenimento, usam as suas vozes para nos falarem ao coração.

Cresci quase fidelizada a uma estação. A antiga Rádio Cidade [agora Cidade FM], pelo projeto em si, esteve presente em grande parte da minha vida. Porém, com o tempo - e a maturidade -, senti vontade de escutar outros registos e percebi que eram os locutores que me conectavam com aquela casa e não tanto o inverso. Por isso, fui alargando horizontes, passando a comprometer-me mais com as pessoas e menos com os grupos de rádio, acompanhando-as nas suas transições de carreira e sem me sentir culpada. Porque faz tudo parte do percurso.

Portanto, nesta data comemorativa, partilho aquelas que são as minhas vozes da rádio. Embora sejam tão distintas, há algo que as une: o profissionalismo, a cadência, a generosidade comunicativa, a sobriedade, o equilíbrio e, naturalmente, o amor às palavras faladas.


📻 Filipa Galrão 
[A voz. Ficaria horas a ouvi-la, porque transmite imensa paz].

📻 Gonçalo Câmara 
[Sinto que a sua voz transborda serenidade e poesia. Muita poesia].

📻 Vera Fernandes 
[É impossível não ficarmos cheios de energia na sua companhia].

📻 Rui Maria Pêgo
[comunicador nato, que me deixa sempre fascinada pela elegância com que guia os programas. Além disso, tem um sarcasmo que aprecio]

📻 Nuno Markl
[inconfundível, criativo e com uma característica 
que adoro: não se leva demasiado a sério]


Poderia, ainda, incluir nesta lista: Joana Azevedo, Catarina Palma e Joana Marques. Contudo, sem qualquer desfeita pelos seus trabalhos, os cinco nomes anteriores são um exemplo do que a rádio tem de melhor.


Quem são, para vocês, as vozes da rádio?

Fotografia da minha autoria



«De copo sempre cheio»


Seduzes-me com um copo
De Porto aveludado
De um toque maduro
E inebriante a balançar
Nos meus lábios carmim
Que cedem a essa investida

Fotografia da minha autoria


«Dolorosamente bonito»


A minha família é a minha fortaleza. E eu sei que não só me ampara as quedas, como também se senta ao meu lado no chão, para que nunca permaneça só. Portanto, dilacera-me o coração, quando me cruzo com histórias em que esse colo é negligente, porque ninguém deveria ser confrontado por uma dor assim. Muito menos uma criança. E foi por isso que o romance de Delia Owens desafiou os meus limites emocionais.

«Foi então que viu que a mãe levava uma maleta azul na mão»

Lá, Onde o Vento Chora combina preconceito, crime, sobrevivência e amor. Quando, aos seis anos, Kya é abandonada pela mãe e, aos poucos, vê a sua estrutura familiar a desintegrar-se, é obrigada a crescer à força, a tornar-se autossuficiente e a lutar contra o julgamento que a sociedade assumiu ser o mais correto para a descrever. E essa questão, para além de ser uma injustiça tremenda, traz repercussões no seu crescimento. Porque quebra-se a confiança, a esperança e a possibilidade de viver uma fase da sua vida que deveria ser maravilhosa. Por consequência, acentua-se o sofrimento e a solidão.

«- Eu podia ensinar-te a ler, sabes?»

A autora construiu uma narrativa em duas linhas temporais, transformando a Natureza numa personagem secundária imprescindível. Aliás, o amor ao Pantanal é inspirador, sobretudo, por ser um local de pertença, enquanto o resto se assemelha a uma miragem. Além disso, Owens retira-nos da nossa zona de conforto, fazendo-nos sentir desenquadrados, pois é duro perceber que somos mais rápidos a afastar do que a compreender aqueles que nos rodeiam, não lhes concedendo espaço para serem parte de algo maior. Assim, embarcamos numa viagem visceral, analisando os efeitos do desrespeito e da intolerância.

«As pessoas carentes acabavam sempre por se magoar»

O isolamento, as feridas que permanecem abertas e o sentimento de culpa moldaram o percurso da protagonista, acalentando a sua resiliência - e, até, alguns traços incoerentes. E se, por um lado, senti receio por ela, por outro, também aprendi a confiar no seu discernimento, visto que encontrou formas de se proteger e de não perder, por completo, a sua essência. Nesta história que coloca um gatilho no alcoolismo, na discriminação, na negligência, no bullying e na violência, Kya foi sempre um alvo fácil para os juízos de valor de terceiros, mas tornou-se numa mulher corajosa, superando as rejeições.

«-Está tudo bem. Este sítio é nosso!»

Esta história é cruel, mesmo que aparente uma certa simplicidade na narração. E desarmou-me, ainda mais, com o seu final inesperado. Ainda assim, percebemos que Lá, Onde o Vento Chora é possível recomeçar.

«É claro que a linguagem utilizada no tribunal não era tão poética como a do pantanal»


// Disponibilidade //

Wook: Livro | eBook
Bertrand: Livro | eBook

Nota: O blogue é afiliado da Wook e da Bertrand. Ao adquirirem o[s] artigo[s] através dos links disponibilizados estão a contribuir para o seu crescimento literário - e não só. Muito obrigada pelo apoio ♥

Fotografia da minha autoria



«Seja gentil»


O presente é incerto. A pandemia virou-nos do avesso e acentuou dificuldades económicas, sociais e mentais. Por isso, mais do que nunca, é fulcral apelarmos ao bom senso, fazendo da empatia o nosso impulso. Porque, enquanto parte de uma sociedade, não podemos ignorar o que nos rodeia, sobretudo, se pudermos tornar os passos dos nossos pares mais leves. Facilita mesmo muito se soubermos dividir contrariedades. E se aprendermos a cuidar com toda a honestidade.

É certo que não temos capacidade para auxiliar todos aqueles que necessitam desse colo. Ainda assim, isso não pode ser justificação para permanecermos de braços cruzados. Por vezes, fazemos a diferença estando. Noutras, é preciso uma doação mais concreta. E, dependendo da nossa disponibilidade, vamos gerindo o grau do contributo que podemos oferecer. Há alturas em que nos sentimos impotentes, porque não temos margem de manobra suficiente e queremos ser parte da solução. Mas podemos sê-lo, visto que temos ao nosso alcance uma ferramenta imprescindível: o meio digital. Neste mundo quase sem fronteiras, o passa a palavra ainda tem poder para mudar o desfecho da história.

Estarmos atentos é a melhor estratégia para identificarmos o problema e percebermos como podemos contribuir para que este diminua. E podemos ir desde os gestos mais simbólicos aos mais expansivos. Todos contam, desde que feitos com as intenções certas. Por isso, e consciente que esta teia é muito mais densa, partilho três maneiras de ajudarmos.


FICAR EM CASA

É a expressão que mais temos ouvido, mas sinto que nunca será de mais reforçá-la, até porque continua a haver quem não tenha compreendido a gravidade do que estamos a viver. A não ser que seja mesmo necessário saírem, fiquem em casa. Protejam-se. Protejam os vossos. E não saturem os profissionais que, neste momento, estão em ponto de rutura, com tanto trabalho entre mãos. A irresponsabilidade de um põe em causa a saúde de todos. Por favor, não olhem apenas para o vosso umbigo. Esta situação não é fácil para ninguém, por isso, não a agravemos.


CAMA SOLIDÁRIA

O confinamento obrigou o Sistema Nacional de Saúde a enfrentar desafios acrescidos, por isso, há profissionais a precisar de conforto e de descansar. Foi com esta premissa em mente que nasceu o projeto Cama Solidária, que pretende angariar autocaravanas ou casas, perto dos hospitais e centros de saúde, para que aqueles que estejam na linha da frente não sucumbam de cansaço. Assim, podemos contribuir de várias formas: seja ao disponibilizar casa/caravanas/terreno, seja em regime de voluntariado, seja num plano de doações alimentares e/ou monetárias. Para mais informações, visitem o site camasolidaria.pt.


UNIÃO AUDIOVISUAL

A Cultura, tão essencial à nossa vida, foi um dos setores mais penalizados com a pandemia. Num meio que envolve tantos profissionais, vários foram aqueles a ter a vida do avesso e a ver o seu futuro adiado. Portanto, de modo a revertermos um pouco essa situação, podemos ajudar a União Audiovisual doando para o seguinte IBAN:

PT50 0035 0402 0005 4127 630 70


Sei que iniciei os tópicos anteriores a referir para ficarem em casa. Porém, se tiverem alguém próximo a necessitar de apoio, disponibilizem-se, por exemplo, para lhe ir fazer as compras. Estejam perto por chamada, porque as saudades são duras, mas ouvir a voz dos nossos acalma. E, sobretudo, cuidem de vocês. Por vocês. E porque só assim poderão ser colo para mais alguém. Se precisarem de conversar ou sentirem que posso ajudar de outra maneira, as portas desta casa estarão sempre abertas. Sejamos responsáveis por um amanhã melhor!


Sabem de mais iniciativas solidárias a merecer destaque?

Mensagens mais recentes Mensagens antigas Página inicial

andreia morais

andreia morais

O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


o-email
asgavetasdaminhacasaencantada
@hotmail.com

portugalid[arte]

instagram | pinterest | goodreads | e-book | twitter

margens

  • ►  2025 (136)
    • ►  julho (12)
    • ►  junho (19)
    • ►  maio (21)
    • ►  abril (22)
    • ►  março (21)
    • ►  fevereiro (19)
    • ►  janeiro (22)
  • ►  2024 (242)
    • ►  dezembro (24)
    • ►  novembro (17)
    • ►  outubro (17)
    • ►  setembro (18)
    • ►  agosto (12)
    • ►  julho (23)
    • ►  junho (20)
    • ►  maio (23)
    • ►  abril (22)
    • ►  março (21)
    • ►  fevereiro (21)
    • ►  janeiro (24)
  • ►  2023 (261)
    • ►  dezembro (23)
    • ►  novembro (22)
    • ►  outubro (22)
    • ►  setembro (21)
    • ►  agosto (16)
    • ►  julho (21)
    • ►  junho (22)
    • ►  maio (25)
    • ►  abril (23)
    • ►  março (24)
    • ►  fevereiro (20)
    • ►  janeiro (22)
  • ►  2022 (311)
    • ►  dezembro (23)
    • ►  novembro (22)
    • ►  outubro (21)
    • ►  setembro (22)
    • ►  agosto (17)
    • ►  julho (25)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (31)
  • ▼  2021 (365)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (31)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (31)
    • ►  julho (31)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ▼  fevereiro (28)
      • MOLESKINE 2021 || O MELHOR DE FEVEREIRO
      • JUKEBOX || A PRÓXIMA VIAGEM
      • ENTRELINHAS // A NOITE EM QUE O VERÃO ACABOU
      • AS MINHAS VIAGENS DE METRO #83
      • ALMA LUSITANA || AVEIRO: FÓSFOROS E METAL SOBRE IM...
      • CAIXA MÁGICA || MAIS SÉRIES PORTUGUESAS
      • LEITURAS DESCOMPLICADAS || A COR PÚRPURA
      • JUKEBOX || SÓ TU
      • #154 M DE...
      • PÁGINAS SALTEADAS: CHOCOLATE QUENTE EM PERSÉPOLIS
      • ENTRELINHAS || O AVÔ TEM UMA BORRACHA NA CABEÇA
      • CERVEJA MUSA
      • UMA DÚZIA DE LIVROS 2021 || FEVEREIRO: PERSÉPOLIS
      • STORYTELLER DICE || NA MINHA MALA GUARDO FLORES
      • JUKEBOX || JÁ NÃO SABE ONDE ANDA
      • DIA MUNDIAL DA RÁDIO: AS MINHAS VOZES FAVORITAS
      • MÁQUINA DE ESCREVER || UM COPO DE PORTO
      • ENTRELINHAS || LÁ, ONDE O VENTO CHORA
      • SER SOLIDÁRIO: 3 FORMAS DE AJUDARMOS
      • ALMA LUSITANA || AVEIRO: PARA ONDE VÃO OS GUARDA-C...
      • GIRA-DISCOS || VAMOS CONVERSAR
      • JUKEBOX || VAI NÃO VAI
      • #153 M DE...
      • FESTIVAL DA CANÇÃO 2021
      • ENTRELINHAS || TRILOGIA 1Q84
      • APLICAÇÕES LITERÁRIAS
      • MÁQUINA DE ESCREVER || A CHAMA SEM DANÇA
      • CRISE DE IDENTIDADE: SER CONVIDADA DE UM PODCAST
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2020 (366)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (31)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (31)
    • ►  julho (31)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (29)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2019 (348)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (29)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (16)
    • ►  julho (31)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2018 (365)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (31)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (31)
    • ►  julho (31)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2017 (327)
    • ►  dezembro (30)
    • ►  novembro (29)
    • ►  outubro (31)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (17)
    • ►  julho (29)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (24)
    • ►  abril (28)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (20)
  • ►  2016 (290)
    • ►  dezembro (21)
    • ►  novembro (23)
    • ►  outubro (27)
    • ►  setembro (29)
    • ►  agosto (16)
    • ►  julho (26)
    • ►  junho (11)
    • ►  maio (16)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (29)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2015 (365)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (31)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (31)
    • ►  julho (31)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2014 (250)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (28)
    • ►  setembro (23)
    • ►  agosto (13)
    • ►  julho (27)
    • ►  junho (24)
    • ►  maio (18)
    • ►  abril (16)
    • ►  março (14)
    • ►  fevereiro (11)
    • ►  janeiro (15)
  • ►  2013 (52)
    • ►  dezembro (13)
    • ►  novembro (10)
    • ►  outubro (9)
    • ►  setembro (11)
    • ►  agosto (9)
Com tecnologia do Blogger.

Copyright © Entre Margens. Designed by OddThemes