ALMA LUSITANA || AVEIRO: PARA ONDE VÃO OS GUARDA-CHUVAS

Fotografia da minha autoria



Tema: Um livro para morar


A cidade de Aveiro fascina-me. Não só por ser doce como os ovos moles e ter uma viagem de Moliceiro que parece um quadro, mas também por ter uma energia que me faz sentir em casa. Por isso, se um dia tivesse de voar para outro lugar, este seria um destino prioritário. Como acredito que os livros são sítios maravilhosos para morarmos, só podia abraçar um de Afonso Cruz para o tema de fevereiro do Alma Lusitana.

«[...] nunca tinha visto nada tão grande aparentar ser tão pequenino»

Para Onde Vão os Guarda-Chuvas abriga um mundo de histórias e de personagens com percursos distintos e, aparentemente, autónomos, mas que encontram uma forma de se interligarem. Tendo o Oriente como pano de fundo, através de efabulações e traços mais fantásticos, somos capazes de estabelecer uma ponte com o nosso quotidiano, porque todos procuramos algo na vida, mesmo que os nossos contextos divirjam. Além disso, é o retrato fiel do «equilíbrio desequilibrado» do universo, que nos coloca à prova e nos leva a reconsiderar decisões e a ponderar uma maneira de quebrar as barreiras que ainda envolvem o ser humano.

«Cada coisa que existe neste mundo é transparente, 
mas nós teimamos em vê-las opacas»

A sensibilidade com que o autor conduz o enredo é quase poética. E esta sua capacidade desarma-me a cada nova leitura, pois explora temas poderosos, sérios e pertinentes, despertando o nosso lado mais emocional. E eu dei por mim a rir com algumas passagens, a sentir o peito apertado e as lágrimas a formarem-se no olhar. Porque a humanidade desta narrativa é, de facto, surpreendente. Confesso que o final me pesou, sobretudo, pela incerteza, mas talvez o objetivo seja mesmo esse, para que reflitamos sobre os «ses» da vida, as escolhas que adiamos, as crenças que nos movem - e que, por vezes, nos afastam dos demais - e as pessoas que se cruzam no nosso caminho, tecendo elos tão particulares. Com elementos simbólicos, não é só a mancha textual que cativa: há uma bela linha ilustrativa que complementa a mensagem.

«[...] não ficaria nada para trás, nem pensar, já bem basta tudo aquilo que perdemos, que nos é retirado sem que possamos fazer algo para o impedir»

Esta obra é uma peça de tapeçaria. E, nos mil fios entrelaçados, conversamos sobre medo, perdão, religião, solidão, sonhos e paixões. Em simultâneo, é sobre famílias, sobre a forma como são tratadas as mulheres, sobre miséria, sobre fragilidade e sobre amor. Mantendo um registo dicotómico, tanto transmite segurança, como expõe o terror, reunindo passagens mais gráficas. E, acima de tudo, oscila entre o desespero e a esperança, porque confronta-nos com a desigualdade, a importância da educação, a violência e as pessoas-luz que estão dispostas a cuidar dos outros, silenciando julgamentos da sociedade.

«Há pessoas que caminham a olhar para os próprios pés, 
há outras que caminham a olhar para os pés dos outros»

Para Onde Vão os Guarda-Chuvas faz-nos questionar o destino daqueles e daquilo que perdemos, mas também nos permite sarar as feridas. Apela à tolerância, ao respeito pelas diferenças e à possibilidade de preenchermos os nossos vazios. Num universo com tantas pessoas que se cruzam e permanecem desconexas, desafiamos o desconhecido, acalentando o poder dos reencontros. Com licença, pudesse eu chorar estrelas.

«Estamos a meio da noite, ainda perdidos nos sonhos»


Disponibilidade: Wook | Bertrand

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Comentários

  1. Nunca li nada do autor, tenho mesmo que me aventurar, pois, as tuas resenhas deixaram-me curiosa.

    Beijinho grande!

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  2. Tenho muita curiosidade em ler este livro 🧡 Saudades de Aveiro, a minha segunda cidade preferida de Portugal 🌈🥰

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    1. É maravilhoso, minha querida *-* também tenho muitas saudades de lá ir

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  3. Não conhecia!!!
    Gostei muito! <3

    www.pimentamaisdoce.blogspot.com

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  4. Confesso que não conheçia esse livro, mas parece ter uma historia bem bonita
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  5. Penso ser este o livro de Afonso Cruz, que tem por base um episódio da vida de Gandhi.
    Já tive para o ler, mas o tamanho assustou-me.

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    1. Sim, é este :)
      Bem sei que sou suspeita, mas lê-se muito bem, Magui. Quase nem damos pela quantidade de páginas

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  6. Ainda não li nada de Afonso Cruz, mas a cada opinião que leio, tenho mais vontade! Em março, faço anos e já me vejo a quebrar a meta de não adquirir mais livros. Vou comprar uns quantos dele, pois estou muitoooooo curiosa!!! 😍😍😍 Este parece-me também um excelente livro, com temas tão bons. Opa, assim fica difícil escolher um primeiro livro dele para ler. 😂 Para o tema deste mês, ainda não sei o que ler. 😐 Espero conseguir ler algum livro para este tema ou então, terei de fazer outro tema este mês. Beijinho 😘😘

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    1. Pelo Afonso Cruz vale muito a pena quebrar essa meta :p
      Apesar de tudo, não sei se sou a melhor pessoa para dizer qual o livro mais indicado para começar, porque tenho adorado todos. Ainda assim, diria para escolheres Os Livros que Devoraram o Meu Pai ou O Pintor Debaixo do Lava-Loiças. Mas este também é extraordinário!

      Sem pressões, minha querida. Além disso, estás completamente à vontade para alterares a ordem dos temas

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  7. De regresso a casa, digo simplesmente que já tinha saudades da tua escrita.
    EXCELENTE assim como a fotografia 💙

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  8. Não conhecia nem o livro e penso que o autor também não. Obrigado pela partilha!
    *Também adoro (adoramos) Aveiro!!

    Beijos e abraços.
    Sandra C.
    Bluestrass

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    1. Sinto-me que me repito sempre a falar de Afonso Cruz, mas a verdade é que tornou-se, rapidamente, um dos meus autores de eleição. Se tiveres curiosidade/oportunidade, recomendo imenso!
      É uma cidade maravilhosa *-*

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  9. Pareceu-me ser o meu género de leitura e abordar temas muito interessantes. Já há algum tempo que quero ler Afonso Cruz, inclusive tenho cá em casa o Flores por ler.
    Beijinhos :)

    Six Miles Deep

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    1. É um livro maravilhoso, com muita humanidade dentro. Recomendo *-*
      Também já li o Flores e gostei bastante

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  10. Ofereci este livro há imenso tempo a uma amiga minha. Desde então que o tenho na lista. Já li vários do Afonso, mas este ainda não o aduiri!

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