ENTRELINHAS ||
LÁ, ONDE O VENTO CHORA

Fotografia da minha autoria


«Dolorosamente bonito»


A minha família é a minha fortaleza. E eu sei que não só me ampara as quedas, como também se senta ao meu lado no chão, para que nunca permaneça só. Portanto, dilacera-me o coração, quando me cruzo com histórias em que esse colo é negligente, porque ninguém deveria ser confrontado por uma dor assim. Muito menos uma criança. E foi por isso que o romance de Delia Owens desafiou os meus limites emocionais.

«Foi então que viu que a mãe levava uma maleta azul na mão»

Lá, Onde o Vento Chora combina preconceito, crime, sobrevivência e amor. Quando, aos seis anos, Kya é abandonada pela mãe e, aos poucos, vê a sua estrutura familiar a desintegrar-se, é obrigada a crescer à força, a tornar-se autossuficiente e a lutar contra o julgamento que a sociedade assumiu ser o mais correto para a descrever. E essa questão, para além de ser uma injustiça tremenda, traz repercussões no seu crescimento. Porque quebra-se a confiança, a esperança e a possibilidade de viver uma fase da sua vida que deveria ser maravilhosa. Por consequência, acentua-se o sofrimento e a solidão.

«- Eu podia ensinar-te a ler, sabes?»

A autora construiu uma narrativa em duas linhas temporais, transformando a Natureza numa personagem secundária imprescindível. Aliás, o amor ao Pantanal é inspirador, sobretudo, por ser um local de pertença, enquanto o resto se assemelha a uma miragem. Além disso, Owens retira-nos da nossa zona de conforto, fazendo-nos sentir desenquadrados, pois é duro perceber que somos mais rápidos a afastar do que a compreender aqueles que nos rodeiam, não lhes concedendo espaço para serem parte de algo maior. Assim, embarcamos numa viagem visceral, analisando os efeitos do desrespeito e da intolerância.

«As pessoas carentes acabavam sempre por se magoar»

O isolamento, as feridas que permanecem abertas e o sentimento de culpa moldaram o percurso da protagonista, acalentando a sua resiliência - e, até, alguns traços incoerentes. E se, por um lado, senti receio por ela, por outro, também aprendi a confiar no seu discernimento, visto que encontrou formas de se proteger e de não perder, por completo, a sua essência. Nesta história que coloca um gatilho no alcoolismo, na discriminação, na negligência, no bullying e na violência, Kya foi sempre um alvo fácil para os juízos de valor de terceiros, mas tornou-se numa mulher corajosa, superando as rejeições.

«-Está tudo bem. Este sítio é nosso!»

Esta história é cruel, mesmo que aparente uma certa simplicidade na narração. E desarmou-me, ainda mais, com o seu final inesperado. Ainda assim, percebemos que Lá, Onde o Vento Chora é possível recomeçar.

«É claro que a linguagem utilizada no tribunal não era tão poética como a do pantanal»


// Disponibilidade //

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Comentários

  1. Fiquei curiosa com este livro, já li boas opiniões sobre ele.

    Obrigada pela sugestão.

    Beijinho grande!

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  2. Fiquei muito curiosa com essa história, que infelizmente é uma realidade mais do que imaginamos.
    Bom dia para ti.

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  3. Pela descrição (exemplar, como sempre) parece ser um livro interessante.
    Continuação de boa semana, querida amiga Andreia.
    Beijo.

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  4. Nunca li nada da escritora americana.
    Logo que os bibliotecas abram, vou procurar esse livro.
    Gosto de sair da minha zona de conforto, quando leio um livro.

    Felizmente a minha família foi sempre a minha fortaleza: agora é sempre.

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    1. Também tenho gostado, cada vez mais, de o fazer 😊

      Isso é tão, tão bom!

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  5. Acho que esse livro é dos meus! Adoro histórias que envolvem aprendizado, que deixam uma lição de vida.
    Ótima resenha!

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  6. Não acredito!!! Corri na Amazon para adquirir o livro, e ele está lá assim:
    "capa comum, $558,54 + $25,00 de frete. O vento aqui chorou.

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  7. Se já o desejava ler muito, agora com a tua opinião, quero ler para ontem 😂 Acho tão importante lermos histórias assim. Quem costuma julgar muito os outros, também deveria ler este tipo de livros para ver como é estar no outro lado. Está na minha lista há meses! Vamos ver se em 2021 consigo lê-lo finalmente. Beijinho 😘😘

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    1. Recomendo imenso a leitura! Consegue dura e angustiante, mas também ter pontos doces e cheios de força. Acompanhar o crescimento da personagem é fascinante

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  8. Gostei tanto do teu review que acabei de adquirir o audiobook deste livro :)

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    1. Owwww 😍😍 espero que te supreenda. Depois diz-me o que achaste

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  9. Nestes tempos tão atípicos, é bem vinda uma sugestão para leitura.
    Grato.
    Tudo de bom.

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  10. Deve ser bastante interessante, mas ainda não conhecia mesmo essa leitura

    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  11. Eu sou das poucas pessoas que não se sentiu encantada por este livro. Os meus santos e os do livro não bateram. Reconheço a beleza da escrita, reconheço a beleza das descrições mas simplesmente não consegui criar ligação com as personagens nem com a narrativa. Talvez tenha começado a racionalizar demasiado e isso poderá ter fragilizado o livro aos meus olhos. :)

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  12. Tenho visto esse livro pela web e ando com vontade, mas com o isolamento anda-me a custar histórias pesadas ainda mais com crianças da idade do meu filhote, mas fica na lista!

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    1. Compreendo, é uma leitura mais pesada e, talvez, nesta altura não seja a mais indicada

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  13. Já estive tentada a ler, mas tenho receio de não gostar.

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    1. É sempre um risco, seja qual for o livro. Pessoalmente, adorei :)

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  14. Mais um de que todos falam e eu sem o ler... estou a resistir para conseguir ler os que tenho em casa, mas assim é difícil <3 <3 <3

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    1. No momento em que sentires mais oportuno, e se te fizer sentido, irás lê-lo :)

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