ENTRELINHAS || O AVÔ TEM UMA BORRACHA NA CABEÇA
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Fotografia da minha autoria |
«O que fazer quando alguém de quem
gostamos nos começa a esquecer?»
A perda definitiva da memória é uma condição que me inquieta, porque não controlamos a sua evolução e, sobretudo, porque nos priva daquilo que nos permite contar a nossa história. Por essa razão, considero fundamental conversarmos sobre doenças degenerativas, tal como o Alzheimer, por mais complexas que sejam. Porque desmistificámo-las.
«Parecia que muitas vezes era o avô quem se entusiasmava
mais com as coisas que víamos e descobríamos»
O Avô Tem Uma Borracha na Cabeça é uma extraordinária história de amor. Não no sentido romântico, mas na sua essência cuidadora, uma vez que, através do olhar inventor de um neto, somos confrontados com o esquecimento de um avô, que vai progredindo e transitando de perdas de memória temporárias para o limbo angustiante que deixa pesados espaços em branco. Assim, procurando preservar os seus fragmentos mais valiosos, o nosso protagonista inconformado embarca numa missão particular. Porque é duro aceitar que aquela pessoa já não é quem conhecemos. E nem sempre é fácil gerir a angustia, o desassossego e o futuro incerto. Mas, homenageando os laços de amizade, reveste-se a esperança e inventa-se uma cura - mesmo que afirmem que não existe.
«Os meus pais acabrunharam. Murcharam. Encolheram»
Este livro transborda de detalhes maravilhosos. E se, por um lado, o texto de Rui Zink emociona-nos, por outro, as ilustrações de Paula Delecave criam um contexto bastante proximal. Além disso, este trabalho de equipa evidencia algo que necessita ser revisto: a relutância dos adultos em falarem com as crianças sobre assuntos delicados. Até que ponto é benéfico contar-lhes a verdade? Qual será o impacto dessa conversa? Será que compreenderão? Todas estas questões são válidas, até porque apenas querem protege-las do sofrimento. No entanto, creio que a falta de transparência torna-se mais prejudicial, porque pode encaminhar a criança para cenários hipotéticos ainda mais perigosos, transformando o problema em algo maior. Portanto, sermos honestos, mostrando-nos disponíveis para lhes minimizar as dúvidas, é sempre mais saudável. Não só porque validamos as suas preocupações, mas também porque proporcionamos um momento de aprendizagem mútua.
«Eu não podia deixar isso acontecer»
Há um turbilhão de emoções em cada frase e nas entrelinhas. Há sensibilidade. E há colo. Em simultâneo, mostra-nos que podemos seguir uma de duas rotas: revoltarmo-nos com o facto de a outra pessoa se ir esquecendo de nós [sem ter culpa] ou, então, sentirmos que, por continuarmos a saber quem ela é, somos capazes de criar alternativas. Se calhar, em fases distintas, até experienciamos ambas as situações - é natural. Contudo, ainda que não aceitemos o desfecho, encontramos alguma paz por sabermos que permanecerá sempre no nosso coração.
«O que estás a fazer? (perguntaram)»
O Avô Tem Uma Borracha na Cabeça guarda uma mensagem imprescindível: o amor é mais forte do que o esquecimento. Por isso, que nunca percamos a vontade de ser o lápis na vida de todos aqueles que nos são tanto.
«E escrevi e desenhei tudo o que pude»
// Disponibilidade //
Esta história deve ser incrível pela forma como aborda uma temática tão actual. Vou levar a sugestão para ler.
ResponderEliminarBeijinho muito grande!
É daquelas histórias que se leem num sopro, mas que permanecem connosco por muito, muito tempo!
EliminarA perda da memória é cada vez mais frequente nos idosos, principalmente porque a esperança de vida é maior que no passado.
ResponderEliminarDeve ser um livro muito interessante.
Continuação de boa semana, querida amiga Andreia.
Beijo.
Sim, é mesmo, Jaime! Com uma abordagem simples, mas delicada, ajuda a explorar esta questão.
EliminarObrigada e igualmente :)
Quero-o ler já há muito tempo. Acho que os pais deveriam explicar de forma real o que acontece. Chamar pelos nomes o que realmente está acontecer. Neste caso, ainda que fosse difícil mostrar em palavras o que é de facto o Alzheimer e não, arranjar maneira de contornar esta situação da melhor maneira.
ResponderEliminarO meu pai não tem Alzheimer, mas desde que sofreu o primeiro AVC que esquece-se de muita coisa e não se lembra, por exemplo, de uma grande parte da minha infância (que eu lembro-me com muita facilidade). Isto remete-me ao ponto em que vou ter de explicar aos meus futuros filhos o que de facto, ele tem. Se o pressionarmos, ele bloqueia, esquece e fica frustrado. Muitas vezes, não gosta que o auxiliemos, dando-lhe umas pistas do que ele está a tentar relatar-nos da sua memória, só que tudo isto, para ele, é como se ele fosse um incapaz que nem sabe armazenar conteúdo, nem sabe geri-lo. Atualmente, temos sempre de acompanha-lo em todas as consultas, pois não se lembra. Repetimos dezenas de vezes a mesma coisa. É cansativo. Acredito que para todos é. Só que há que ter mais paciência, uma empatia maior, para poder darmos o colo que ele precisa e sermos também o seu apoio. Infelizmente, acho que com o tempo, ele vai esquecer praticamente quase tudo. É triste sabermos que temos memórias com aquela pessoa e que esta não se recorda delas, mas há sempre a opção de lhe relembrarmos essas mesmas “páginas em branco” que se foram eliminando.
Este livro, acredito que é poderoso, pelo seu conteúdo e pela lição que nos fica. Definitivamente, terei de adquiri-lo e quem sabe, relê-lo, no futuro. É uma excelente recomendação! 🤍
Dependendo do contexto em que estamos, também adequamos o nosso discurso para abordar os mais diversos temas. O mesmo se aplica às crianças. É natural que não compreendam certas coisas de imediato, porque ainda se estão a desenvolver, mas elas são mais resilientes e intuitivas do que pensamos. E mesmo que não detetem a grandiosidade do problema, percebem que algo não está bem.
EliminarAcredito que seja ainda mais complicado, porque ele sente-se capaz de muita coisa, então, ter a sensação de que está dependente de alguém custa; é um processo moroso e que exige, de facto, muita paciência. Gostava de ter palavras mais acertadas, mas envio toda a força!
«É triste sabermos que temos memórias com aquela pessoa e que esta não se recorda delas, mas há sempre a opção de lhe relembrarmos essas mesmas “páginas em branco” que se foram eliminando», também sinto isso. E acho que é o que me vai confortando.
A história lê-se num sopro, mas tem uma mensagem inesquecível. Aconselho!
Deve ter mesmo uma história bastante incrivel, mas nunca tinha ouvido falar desse livro
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem post novos todos os dias
É muito bonita e delicada, recomendo!
EliminarNão conhecia o livro.
ResponderEliminarUma lição, não só para as crianças, mas para todos nós.
«Uma lição, não só para as crianças, mas para todos nós», tal e qual, Magui!
EliminarExcelente recomendação de leitura.
ResponderEliminarBem-hajas.
Tudo de bom.
Aconselho-a imenso!
EliminarIgualmente :)
Que história tão bonita 🥰🌈
ResponderEliminarÉ mesmo uma ternura! Vivia neste livro *-*
EliminarUma bela recomendação de leitura :)
ResponderEliminarhttps://checkinonline.blogspot.com/
Se tiver oportunidade, recomendo :)
EliminarEsta obra já está na minha lista há bastante tempo! :)
ResponderEliminarwww.amarcadamarta.pt
Vale muito a pena!
EliminarMuito obrigado pela sua delicada recensão.
ResponderEliminarEu é que agradeço pelo comentário! E por esta obra tão maravilhosa
EliminarJá tinha ouvi falar deste livro sobretudo aqui no teu blog, mas ainda não li. :)
ResponderEliminarSe tiveres oportunidade, recomendo. É fantástico!
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