A POESIA NA MINHA ESTANTE

Fotografia da minha autoria


«Tu és poesia»


O meu dialeto escrito manifestou-se, primeiro, em verso. Em rimas inocentes, num olhar de criança a descobrir o mundo. Por consequência, foram folhas e folhas em branco a conquistarem voz, de modo despretensioso, só pelo fascínio de comunicar através de palavras desenhadas, por vezes inventadas, a palpitarem no lado esquerdo do peito. E foi durante esse tempo que compreendi que a poesia tece sonhos em linhas curtas, que contam o lado misterioso das histórias.

No entanto, houve uma fase da minha existência em que me distanciei deste género. Não por o querer menos, mas por me ter convencido que me faltavam as faculdades certas para o interpretar. E que seria ainda menos capaz de o continuar a escrever com toda a dignidade. Nesta cegueira momentânea, omiti o mais importante: a poesia é sentimento. É a emoção inexplicável, aquando da leitura de Poetas que nos desarmam. Por isso, muito mais que decifrar o significado das suas entrelinhas, o segredo é sentir esse desconhecido. Porque é belo. E é a janela que nos mostra todo esse universo de sensações que habita a nossa alma.

Pacientemente, regressei às origens, recuperando a poesia nos meus devaneios de escrita. Além disso, quero que sejam mais os livros poéticos a colorir as minhas estantes, porque têm uma delicadeza que me comove. Afinal, desprendendo-me um pouco da modéstia, também sou feita de poesia e pretendo que as leituras em que mergulho o reflitam.


QUATRO LIVROS DE POESIA QUE RECOMENDO


 O Sol e as Suas Flores, Rupi Kaur 
Estabelece uma ligação atenciosa entre palavras, mensagem e ilustrações, enquanto marca uma epifania, uma rutura e, posteriormente, uma mudança. Por consequência, parecem existir diversas vozes, de todas as componentes que habitam em nós. E há um grito: de revolta, de resistência, de resiliência. Esta obra lê-nos a alma, ensina-nos a perdoar e a valorizar a empatia. Através de poemas plurais e, acredito, intemporais, compreendemos que há sempre luz, colo e um porto de abrigo. Há amor. E é nesta caminhada vulnerável que perdemos vigor para depois brotarmos em flor [opinião completa aqui].

 Paz Traz Paz, Afonso Cruz 
Transborda pensamentos mágicos. Com uma voz inocente, mas igualmente inquietante, a narradora desarma-nos com a sua capacidade de desafiar a lógica, de analisar para lá do óbvio. Partindo, então, de meditações sábias, sentimos o pulsar imprevisível da vida espelhado em versos absolutamente inspiradores e marcantes. Afonso Cruz, ao comunicar connosco sobre o amor, a saudade, as memórias e a esperança, transporta-nos para mais uma encruzilhada [opinião completa aqui].

 A Árvore Que Não Fazia Sombra, Gonçalo Câmara 
O haiku é uma forma curta de poesia japonesa, que eu desconhecia, mas que me foi apresentada, indiretamente, por Gonçalo Câmara. No seu mais recente livro, que se divide em quatro capítulos tão especiais, somos embalados por traços imagéticos, focados em pequenas trivialidades que nos marcam, porque se aproximam do nosso quotidiano, das nossas emoções e de pensamentos soltos que nos atribuem sentido. Com a consciência de procurar registar momentos que não se querem efémeros, há uma energia serena e delicada, que torna a sua escrita memorável.

 Fósforos e Metal Sobra Imitação de Ser Humano, Filipa Leal 
Esta obra é um misto de conselhos para quem entra nos quarenta e uma exposição de escultura, mantendo um tom despretensioso, sarcástico e bastante relacional. Porque, com honestidade, equilibra aspetos do quotidiano com experiências pessoais e familiares. E, assim, deambulamos por fragmentos da sua infância e sentimentos mais atuais, proporcionando-nos uma leitura intimista, que facilmente se cola à nossa pele - mesmo que a descubramos num sopro [opinião completa].

Extra: Diogo Piçarra em Pessoa também figuraria muito bem nesta lista, porque não só parte da poesia de Fernando Pessoa, como o próprio Diogo se reinventa nela, inspirando-nos a seguir o mesmo caminho criativo.


POESIA À ESPERA DE SER LIDA


 Poesia, Sophia de Mello Breyner Andresen 
«Assim surgia uma língua, nova e límpida. Era o ano de 1944, Sophia publicava o primeiro livro, com o mais justo dos títulos: Poesia. Todos os livros seguintes poderiam receber o mesmo baptismo, o mesmo nome preciso: essa condição de poesia, que é feitura do poema, trabalho oficinal, mas também resgate entre ruínas e morte, renascimento da exaltação. Ou seja: agon, combate pela forma, combate contra as ruínas do mundo, surpresa final das mãos nunca vazias. Pois esta poesia nasce num lugar esgotado, deserto; e é apesar das ruínas que de tudo se ergue o poema. Forte, elemental, sim; mas jorrando do terror, de ruínas que não falam, de uma língua herdada já exangue».

 Dia do Mar, Sophia de Mello Breyner Andresen 
«A poeta busca a perfeição, a pureza e a harmonia, utilizando alguns lugares recorrentes como o mar, a praia, a casa e o jardim. Visitando a infância, onde aprendeu a ouvir as vozes das coisas, o mar é aqui uma fonte de purificação e um lugar onde tudo adquire sentido. Como escreve Gastão Cruz, no prefácio, «Uma tensão dialéctica percorre "Dia do Mar": o poeta divide-se entre a sensação de viver intensamente o milagre do mundo, e a consciência da impossibilidade duma vivência plena dessa maravilha, realmente apenas reservada aos deuses».

 Entre o Deserto e a Montanha, Gonçalo Câmara 
«É mais do que um livro de poesia. É uma viagem. É poesia em viagem e não poesia de viagem. Gonçalo Câmara tem viajado pelo mundo à procura das palavras. Dos desertos da América do Sul às montanhas asiáticas, passando pela beleza desmesurada das cidades da Rota da Seda, tudo serve de inspiração para a poesia. Este livro é também uma travessia onde o autor se dá a conhecer. A si, às suas inquietações, ao que o inspira. Aqui estão poemas escritos durante as suas viagens ao Sri Lanka, Uzbequistão, Quirguistão, Turcomenistão, Colômbia, Patagónia ou até mesmo pelo coração. A poesia é outra forma de viajar».


POESIA NA MINHA LISTA DE DESEJOS




Que livros de poesia aconselham?

Comentários

  1. Os do José Luís Peixoto (a criança em ruínas, a casa, a escuridão, gaveta de papéis e regresso a casa), "O Dia do Mar", "Infinito/Somos feitos da mesma terra" da Sara Afonso, "Diogo em Pessoa".

    Beijinho grande e bom domingo!

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    1. O Dia do Mar terminei hoje e adorei! Diogo Piçarra em Pessoa aparece como extra, mas a verdade é que poderia ter sido uma das minhas escolhas, porque acho que está um livro excelente. Tenho os de JLP na lista de desejos :)

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  2. Como é sempre bom ter essas recomendações, acho que não conhecia nenhum que acabou por falar
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  3. Ótimas indicações de livros de poesias, com certeza são livros com poesias maravilhosas, Andreia bjs.
    http://www.lucimarmoreira.com/

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    1. Dos que conheço, recomendo imenso. Os restantes, estou muito curiosa :)

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  4. R. Obrigada querida Andreia.
    Beijinhos

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    1. Sei que não posso fazer muito, mas, qualquer coisa, estou à distância de uma mensagem, querida Amélia

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  5. Ultimamente tenho lido mais poesia. Admiro-me por estar a conseguir e, sobretudo, por estar a adorar! Poesia da Sophia roubou-me o coração. Foi a primeira vez que li poesia dela e adorei! O Sol e as Suas Flores para mim foi melhor do que Leite e Mel.
    Quero muito ler Raiz de Orvalho e outros poemas e Publicação da mortalidade. 😍😍

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    1. Awww, que bom! Fico mesmo feliz por ler isso *-*
      A poesia de Sophia tem um toque nos arrebata por completo.
      Daqui uns tempos, estaremos a conversar sobre esses livros!

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  6. Escrevo muito mais poesia do que leio, mas quero mudar isso. Vou guardar as tuas sugestões :D

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    1. Acontece-me o mesmo :) se te aventurares em alguma, diz-me o que achaste

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  7. Estou a ler "O sol e as suas flores" em português do Brasil e estou a adorar. Que poesia maravilhosa. A ligação entre os poemas que contam uma história e as ilustrações que os acompanham são elementos magníficos.
    Também quero ler mais poesia, nomeadamente livros de Florbela Espanca e Sophia de Mello Breyner Andresen.
    Beijinhos

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    1. Foi dos livros que mais gostei de ler até agora. Quero ver se leio os restantes da autora, porque sinto que valem bem a pena!
      Estamos juntas nessa missão :D

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