OS LIVROS QUE NÃO
SÃO PARA TODOS
SÃO PARA TODOS
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Fotografia da minha autoria |
«Conhecer o outro lado do mundo»
O manto de histórias vai unindo retalhos, construindo sonhos em planos narrativos. Nesta estrada de múltiplas rotas, descobrimos que a literatura, com a sua voz própria, serve-nos com propósitos distintos, despertando emoções singulares em cada leitor. Portanto, é injusto compartimentar sensações em caixas padronizadas. E permaneço à margem, sempre que me cruzo com apreciações que soam a verdades absolutas.
O DESENCADEADOR DA PROBLEMÁTICA
Os nossos gostos são tão diversificados, que é natural que não nos identifiquemos com certos livros, independentemente do género, do autor, do tempo. E existem inúmeras justificações para fundamentarmos a nossa crítica menos favorável. Por isso, faz-me bastante confusão, quando encontro frases como esta: «não é um livro para toda a gente».
SERÁ QUE ALGUM LIVRO O É?
Creio que não, porque até a obra mais consensual terá alguém que não foi conquistado pela sua história [de repente, lembro-me da vez em que me disseram que não compreendiam o que as pessoas viam de especial n' O Principezinho]. E não há algo de errado nessa divergência de perceções. Aliás, apenas demonstra uma pluralidade que nos enriquece e que deveria ser utilizada como impulso de partilha e discussão saudável, porque evoluímos imenso enquanto amantes das palavras.
Mais que um estímulo intelectual - ainda que o seja -, considero a leitura um estímulo emocional, portanto, é normal que alguns livros nos marquem e outros passem mais despercebidos no nosso coração. Assim, utilizar expressões como a supracitada, embora não seja com essa intenção, transmite uma imagem de superioridade, como se, por termos apreciado a narrativa, fôssemos melhores ou pertencêssemos a um grupo privilegiado de seres iluminados. Quando não é, de todo, o caso.
COMO EM TUDO, HÁ EXCEÇÕES
Marcar este pensamento como aviso de conteúdo é, pelo contrário, uma manifestação benéfica, pois previne o leitor de possíveis gatilhos. Nesse sentido, sou a primeira a apoiar o seu uso, porque devemos fazer o que está ao nosso alcance para promover leituras seguras para os mais diversos públicos. Portanto, sinto que temos de ser conscientes na maneira como partilhamos opiniões - literárias ou não. Porque, apesar de defender que somos responsáveis pelo que dizemos e não pelo que os demais interpretam, convém não descurarmos a transparência.
Contudo, manifestá-lo numa partilha isolada ou não fundamentada, acaba por retirar qualquer propósito, evidenciando um julgamento que não tem lógica de ser alimentando [mas posso estar apenas a ser picuinhas].
PARA TODOS, UM LIVRO
A literatura deve ser isenta de elitismos, de juízos de valor, porque é um bem demasiado precioso para o envolvermos - e perdermos - em não questões. Sendo assim, acredito, nenhum livro é para toda a gente. Pelo contrário, a literatura pode ser, desde que incentivada pelos estímulos certos - e sem censurar críticas opostas às nossas. Então, que saibamos sempre aproveitar a boleia que os livros nos oferecem.
28 Comments
Trouxeste uma questão muito interessante que me fez recordar duas situações distintas: a primeira vez que li o Principezinho e de facto não fiquei nada maravilhada e quando li a edição especial do José Luís Peixoto, fiquei rendida. Talvez ainda não tivesse despertado para o livro. E recuo no tempo ao 12º ano quando li O Mundo de Sofia, detestei o livro, não tinha maturidade para o ler e foi um sacrifício, ainda está encostado na estante, mas fará parte da TBR de Abril. Senti essa diversidade de opiniões com o meu último livro, havia leitores que gostavam muito e outros que se identificavam menos. O bom da leitura é sermos todos diferentes e um livro despertar experiências quase opostas.
ResponderEliminarBeijinho grande!
Adoro a versão do JLP ❤️
EliminarSinto que faz mesmo parte do nosso processo de crescimento. Por isso, é natural que algumas obras só nos digam algo, quando atingimos a maturidade certa para as acolher. E, uma vez que que não é uma caminhada transversal, despertamos para esses livros em ocasiões distintas, mas a magia também é essa.
EliminarPrecisamente! Até porque, consciente ou inconscientemente, acabamos por interpretar a história consoante as nossa vivências
É maravilhosa *-*
EliminarO interessante dos livros e da literatura é que o mesmo livro tem efeitos e interpretações muito variadas nos leitores.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Sem dúvida, Francisco! E é tão bom quando conversamos sobre essas interpretações diversificadas :)
EliminarObrigada e igualmente
Disseste tudo 🧡🧡🧡 O que seria do azul se todos gostassem so do amarelo...
ResponderEliminarO que não pode faltar é respeito de parte a parte, porque há espaço para sentirmos os livros de formas muito distintas :)
EliminarOra nem mais :)
Eliminar❤️
EliminarNão podemos ter todos as mesmas opiniões sobre os livros. Existem livros que nos remetem a grandes emoções e outros que não nos satisfazem por completo. Não devemos censurar opiniões das outras pessoas, só porque achamos o contrário. Acredito que também não há isso de "não é um livro para toda a gente", porque os livros são para todos. Todos temos a nossa personalidade e também uma perspetiva da vida e isto também influencia como olhamos para um livro e, daí podem sair opiniões mais positivas ou menos. Não é por não gostar de um livro que não o irei recomendar, porque para mim pode não ser bom e para outros ser o melhor livro de sempre. Há que ter sempre isto em mente, quando escrevemos uma opinião. É o que tenho em conta, antes de escrever as minhas criticas.
ResponderEliminarA magia da literatura também é essa: é perceber que o mesmo livro pode despertar sensações e interpretações antagónicas. E esta tudo bem!
EliminarClaro que sim, concordo, por isso é que vamos ter opiniões diferentes. Consciente ou inconscientemente, as nossas vivencias e o nosso conhecimento têm peso durante a leitura, encaminhando-nos por caminhos distintos.
Desde que a nossa opinião seja informativa e fundamentada, e nunca impositiva, há espaço para a mostrarmos. Temos é de ter esse cuidado, sem dúvida.
Tenho visto no Instagram que várias pessoas com maior afinidade à leitura têm falado muito sobre este tema: o elitismo literário. A mim revolta-me ver leitores serem criticados pelas escolhas literárias que fazem. Cada um gosta de ler o que lhe dá alento e alegria e não deveria ser julgado por isso, mas infelizmente é muito vulgar acontecer. E entristece-me. Todos temos direito às nossas opiniões, mas não podemos magoar os outros só porque diferem de nós. Obrigada por trazeres este tema ao blog. =) Um beijinho
ResponderEliminarTira-me completamente do sério quando se julgam gostos literários, porque não temos de apreciar todos os mesmo. E aquilo que é uma leitura maravilhosa para mim, pode não ser para outra pessoa. E está tudo bem.
Eliminar«Todos temos direito às nossas opiniões, mas não podemos magoar os outros só porque diferem de nós», é tão isto!
Eu é que agradeço pelo retorno *-*
Ora aqui está um bom tema para discussão! Concordo contigo, todas as pessoas são diferentes e o que agrada a um pode não agradar a outra pessoa. Aliás, acho que é aí que está a beleza da literatura, termos todos opiniões diferentes. No entanto tal como dizes, é preciso saber sustentar as opiniões e dizer não gosto ou gosto, porque x.
ResponderEliminarAndreia, aproveito para propor um tema, pois gostava de saber a tua opinião. Recentemente li um livro 'Ninth House' que me deixou bastante chocada pela forma como a autora abordava temas sensíveis como é o caso da violação e das drogas. No meu vídeo disse que este tipo de livros deveriam ter trigger warnings nas capas, porque de facto podem ser livros sensíveis para determinados públicos. Gostava de saber o que achas, se os livros devem de facto ter avisos ou isso é de certa forma spoilar a história? Apercebi-me hoje que toquei num tema sensível na comunidade literária...
Beijocas grandes!!!
Também acredito que sim, até porque, sem esses pontos divergentes, acabamos por andar em círculo, não alargamos horizontes e ficamos a achar que só há uma forma de interpretar um livro, quando não é verdade.
EliminarDizer que «não é um livro para toda a gente», só porque alguém não gostou, parece-me tão redutor. Sobretudo, porque se está a focar algo evidente: é normal que nenhum livro seja para toda a gente, porque temos gosto diferentes.
Tema anotadíssimo! Obrigada pelo desafio, vou tentar trazê-lo o quanto antes para o blogue. Mas, de um modo geral, acho que deviam trazer esses avisos de conteúdo, ainda para mais, quando a sinopse pode induzir em erro. Não sinto que seja uma forma de spoilar a história. Pelo contrário, creio que seja uma maneira de tornar a leitura mais segura.
É isso! É importante ter várias perspetivas, até porque nunca estamos certos...
EliminarEu também acho que não está a spoiler a história, muito pelo contrário. Para além disto, evita que o autor perca leitores, porque se eu sei que tem x, então escolho não ler. Contudo se não sabia e li e detestei, posso perder a vontade de ler os outros livros dele.
Exatamente. E há sempre aspetos que nos passam mais despercebidos.
EliminarVistas bem as coisas, acho que a questão do spoiler nem se coloca, porque não estás a descrever a narrativa, estás apenas a centrar-te no tema que pode ser um gatilho.
Sim, sim, também. Se sabemos que aborda um assunto que nos incomoda, evitamos comprar. Não sabendo, corremos esse risco e, inclusive, podemos ser injustos com o autor
Nem sempre todo podemos gostar, não é mesmo acho que há mesmo uma basta gama de livros e hostórias bem diferentes para conhecer
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem post novos todos os dias
Claro, faz parte, porque os nossos são sempre diferentes :)
EliminarAcho que também depende da idade em que lemos certas obras.
ResponderEliminarQuando eu andava no 9.ano, dei Eurico o presbítero, de Alexandre Herculano, não querendo tirar valor à obra, não acredito que seja este tipo de livro que motive um adolescente para a leitura.
Neste momento estou a ler um livro que rendeu muito comercialmente e de que toda a gente fala, A amiga genial de Elena Ferrante e ainda não me agarrou.
Sim, também, porque nem sempre temos maturidade suficiente para abraçar determinadas obras.
EliminarEu entendo a necessidade de incluir alguns livros para análise, ainda para mais, por fazerem parte do nosso património cultural. No entanto, sinto que, depois, se falha na abordagem. Em Portugal ainda se lê pouco e se não estimulamos as crianças/os adolescentes com histórias que lhes despertem interesse, é mais complicado.
Eu detestei todas as obras que estudei no secundário, por exemplo, porque a abordagem não me cativou. Não basta chegar e debitar, é preciso haver algo mais.
Quanto ao livro A Amiga Genial, também tive uma pequena desilusão. Achei que a história me ia arrebatar, mas não aconteceu. No final, penso que lhe atribui 4 estrelas, porque, apesar de tudo, a relação de amizade tem camadas muito interessantes, mas não fiquei com vontade de avançar para os volumes seguintes
A leitura enriquece o ser humano. A forma como entendemos cada história que lemos também depende da fase da vida que estamos a passar.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Sem dúvida, Isa! Influencia bastante, mesmo que achemos que não
EliminarOlá,
ResponderEliminarTexto maravilhoso. Vemos ainda tanta discussão desnecessária sobre o livro ser bom ou não, quando o ponto fundamental é simplesmente o gosto do leitor. Nunca vai agradar todos, e temos que normalizar isso.
Beijo!
www.amorpelaspaginas.com
Precisamente, Ray! É normal que o mesmo livro agrade mais a uns do que a outros, porque temos gostos distintos. E está tudo bem.
EliminarÉ tão bom quando podemos partilhar perspeticas diferentes.
Muito obrigada!
Subscrevo totalmente!
ResponderEliminar♥
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