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Fotografia da minha autoria |
«Uma autobiografia intensamente catártica»
Avisos de Conteúdo: Sexismo, Cenas/Linguagem Explícitas
O tema de junho do Ler a Diferença foi «para além do amor romântico» e eu respondi à proposta com Maremoto, de Djaimilia Pereira de Almeida. No entanto, adicionei uma das sugestões da Elga (@quemmelera) à lista: como já tinha lido Sem Amor, de Alice Oseman, aproveitei para investir no livro de Maia Kobabe.
IDENTIDADE DE GÉNERO E UM LONGO PROCESSO DE ACEITAÇÃO
Género Queer é uma novela gráfica autobiográfica sobre a jornada de Maia para «se identificar como pessoa não binária e assexual» e, inclusive, para se «assumir perante a família e a sociedade». Assim, com um tom catártico, faz uma abordagem extraordinária sobre questões de género e o longo processo de aceitação.
«Foi a primeira vez que me lembro de ouvir referências queer na letra de uma canção»
Nestas páginas, tão cheias de vida, de dúvidas, de exploração e de quebra de estereótipos, abre-nos a porta para uma série de situações, desde a infância até à idade adulta, para nos mostrar uma vulnerabilidade que é tão delu e, no entanto, tão transversal. Ademais, Kobabe consegue envolver-nos nas inseguranças, no desnorte, nas perguntas que crescem em surdina e que, não tão raras vezes assim, ficam sem resposta.
«O conhecimento de uma terceira opção repousava como uma semente sobre o solo»
Numa bolha de privilégio (que não deixa de o ser), sei que nunca cresci a questionar o meu género, portanto, por mais empática que procure ser, há dores que não posso sentir, há conflitos que não estão próximos, mas Maia permite que desconstruamos isso muito bem e compreendamos a extensão desta realidade. Por consequência, envolve-nos nos problemas sistemáticos, corroborando que o mundo não se faz só de um lado A ou de um lado B: existem infinitas rotas paralelas que podemos percorrer, e todas são válidas, desde que nos respeitemos - e o respeito é vital para que se fomente a mudança e a sociedade seja um espaço seguro.
«Não quero ser uma rapariga. Também não quero ser um rapaz. Só quero ser eu»
Em simultâneo, achei muito interessante a batalha interior entre o silêncio e a fala, porque acredito que alguém que se sinta confuse se questione sempre sobre a pertinência de abordar determinados temas, a pertinência de partilhar a sue visão/experiência, atendendo a que não sabe a reação dos demais. Deste modo, acho de máxima importância ter incluído tópicos como menstruação, masturbação, desenvolvimento corporal, fantasias, emoções e ligações familiares. Todos estes parâmetros pautaram a vida deste autore, por esse motivo, ao ser franque na partilha, aproxima-nos da luta delu e de tantas outras pessoas queer que passam pelas mesmas privações sociais, por serem demasiadas as normas de género que nos catalogam e que nos restringem.
«Algo que perdi quando cortei o cabelo: unidade visual com a minha
família de cabelo comprido. Ganhei: confiança, felicidade»
Neste seguimento, choca-me sempre que se banam livros com estas temáticas: 1) porque se impede que outras pessoas se revejam nas histórias; 2) porque impossibilita que contactemos com realidades distintas e as entendamos; 3) porque, como afirmou Maia Kobabe, «banir livros com temáticas de género é como dizer a quem se identifica com eles que a sua história não é bem-vinda». Educar para a diferença e para a aceitação fica, deste modo, amplamente condicionado se continuarmos a manter uma narrativa que não aceita todes.
«O que usaria se o dinheiro não fosse um problema?»
Género Queer é um retrato intimista, que também se torna valioso pelas reflexões que deixa nas entrelinhas.
🎧 Música para acompanhar: Born This Way, Lady Gaga
◾ DISPONIBILIDADE ◾
10 Comments
Acho muito importante ler sobre a diferença, os livros que abordam essa temática não deviam ser banidos, porque são de extrema importância.
ResponderEliminarDesconhecia este livro, vou levar a sugestão.
Beijinho grande, minha querida.
Continua a chocar-me que se banam livros dentro deste género, porque é mesmo um atentado à liberdade individual. Conseguiria compreender, caso promovessem qualquer tipo de discriminação, desigualdade, violência, entre outros, agora, bani-los só porque mostram que o mundo tem mais do que um caminho, é abrir um precedente para que se fomentem os mesmos estereótipos e preconceitos.
EliminarVale a pena descobrir
Um dos meus temas preferidos, sem duvida! Muito obrigada pela sugestao, minha querida *.*
ResponderEliminarAcho que vais gostar de o ler!
EliminarJá li e gostei muito! :)
ResponderEliminarOh, que bom! Foi uma surpresa incrível *-*
EliminarQue gostei bastante da sua partilha, me parece ser mais uma boa sugestão
ResponderEliminarBeijinhos
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Muito obrigada 😍
EliminarEu acho muito triste ter que viver pedindo licença para se ter o direito de ser quem é. E na verdade, ninguém tem nada com isso! Por que não viver e deixar viver?
ResponderEliminarConcordo totalmente, Ana! Seria tão mais fácil e melhor se deixássemos as pessoas serem quem são, sem julgamentos, sem cobranças, com a liberdade a que têm direito
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