manhã, adília lopes

Fotografia da minha autoria



O nome de Adília Lopes andava a ecoar no meu imaginário há algum tempo, mas, por qualquer motivo que não sei definir, fui adiando esse encontro. E o mais curioso é que nas últimas edições da Feira do Livro do Porto, quando visitava a Flâneur, havia sempre um exemplar a despertar a minha atenção: só não sei se pelo título curto ou se pela capa que faz lembrar a cobertura de um bolo. Ou pela combinação de ambos. Seja como for, para me motivar a descobrir a sua escrita, adicionei-a ao Alma Lusitana.


uma aparente simplicidade

Manhã, como revelou numa entrevista, concentra-se no primeiro tempo da vida. Por isso, fazemos uma viagem até à sua infância, recuperando memórias de lugares que habita e que conhece como a palma da sua mão, de pessoas, de leituras, de episódios que não a deixaram triste, mas abismada. Como se de um álbum se tratasse, continua a travessia pela adolescência, pelos espaços que marcaram o seu crescimento, pelas referências literárias, pelas angústias, pelo aproveitamento escolar e pelo quotidiano.

Fiquei surpreendida com a facilidade com que este livro se lê: por um lado, porque são textos e versos curtos e, por outro, porque a forma como se expressa é acessível. Aliás, parece existir uma certa inocência nas palavras de Adília Lopes, que a despoja de formalidade, que a torna próxima e que a leva a assumir um tom mais confessional. Ainda assim, nesta aparente simplicidade, existe uma carga emocional muito rica.

«Chego à janela porque preciso de ar e de árvores. Ah, se não fosse esta velhinha janela onde me vou debruçar para ouvir a voz das cousas, eu não era a que sou»

Talvez não enquadrasse esta obra no género poético, porque, embora encontremos poemas, temos mais pensamentos soltos, quase como se estivéssemos perante um diário. Não obstante, talvez o propósito seja mesmo esse: desconstruir a imagem que temos da poesia, uma vez que a podemos encontrar nas mais distintas manifestações.

Manhã não se revelou uma leitura consensual, atendendo a que nem todas as entradas me marcaram. No entanto, fascinou-me a forma como conjuga trivialidades, como se torna leve e cómica com tão pouco e como «dá uma importância excessiva às coisas». Numa das partilhas, a poeta afirmou que continuava «a pensar como quando tinha 4» anos e eu acho isso extraordinário, porque demonstra que ainda preserva a capacidade de se deslumbrar e de observar o mundo com ingenuidade, sem receio do ridículo.


🎧 Música para acompanhar: Manhã, Janeiro


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

Comentários

  1. Confesso que fiquei curiosa! :)

    www.amarcadamarta.pt

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  2. Sigo você faz tempo e sempre agradeço por um dia ter feito isso. O que não dá para calar nem agradecer foi essa MACONHA IN RIO.Que vergonha! Um país como o nosso com milhares de excepcionais músicos e cantores abaixar a calça para essa degradação cultural importada que só enche os bolsos dos seus organizadores. Rock in Rio sem rock, só uma imensa nuvem de maconha sobre nossas cabeças.Lastimável ainda cultivarmos aquilo que o grande jornalista, ensaísta e dramaturgo Nelson Rodrigues dizia: O povo brasileiro tem COMPLEXO DE VIRA-LATA!
    Vergonha esse tipo de agressão cultural à musica brasileira que o poder do capital enfia goela abaixo de nós todos praticam.Realmente não temos vergonha na cara!
    E vocês viram que quem salvou a parte musical do MACONHA IN RIO, foram os artistas brasileiros.No nossos blogs HUMOR EM TEXTO e FALANDO SÉRIO descobrirão que nossa cultura musical brasileira e muito mais competente!
    Um abração carioca.

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  3. Muito curiosa! *.*

    Beijinho grande, minha querida!

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