bolo negro, charmaine wilkerson
Fotografia da minha autoria |
Gatilhos: Violência
O livro de Charmaine Wilkerson atraiu-me pela capa e pela premissa intrigante, afinal, não resisto a um bom drama familiar. No entanto, foi ficando na estante e só agora é que senti o chamamento para o descobrir - e, assim, concluir o desafio de 12 livros para 2024.
as fronteiras que se traçam pelo tempo
Bolo Negro permite-nos conhecer os irmãos Byron e Benny, que se reencontram ao fim de oito anos por causa da morte súbita da mãe. Eleanor «deixou-lhes um bolo no congelador com a críptica instrução de que o deverão partilhar "na altura certa"» e uma gravação áudio, que lhes revelará informações desconhecidas. Confusos, para além de terem de gerir um doloroso processo de luto, veem-se envolvidos numa série de segredos para os quais não estavam preparados. Será que isso os aproximará ou só aumentará a distância entre ambos?
Os ingredientes para ser conquistada estavam cá todos e a verdade é que permaneci curiosa com a história, só que não foi tudo aquilo que imaginei, até porque não me relacionei em pleno com as personagens. Acho que a autora fez um trabalho interessante na sua construção, mas a estrutura não jogou a seu favor. Os capítulos são alternados entre os pontos de vista de diferentes personagens e, além disso, transitam entre o passado e o presente, o que acaba por criar um certo desequilíbrio na forma como a história nos chega, diminuindo o seu impacto. E eu estava mesmo à espera de ser arrebatada por esta dinâmica.
«Podemos olhar para alguém e não fazer realmente a mínima ideia do que essa pessoa guarda no seu interior»
Fiquei mais investida nos acontecimentos que dizem respeito ao passado, confesso, porque queria compreender a história desta mãe e como é que aquilo que não contou aos filhos os moldou. Por outro lado, também achei fascinante a ideia de irmos preenchendo espaços vazios através de narrativas externas e de aproveitarmos as oportunidades que nos aparecem no caminho, mesmo que sejam moralmente questionáveis. Acima de tudo, senti que há um enorme espírito de sobrevivência a pairar nestas páginas.
Bolo Negro socorre-se da história de uma família para nos fazer refletir sobre desigualdades de género, culpa, saudade, perda, cultura e identidade, quase como se houvesse uma herança silenciosa, por vezes oculta, a passar por várias gerações.
🎧 Música para acompanhar: True Colors, Cyndi Lauper
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