favoritos de 2024: os livros
Fotografia da minha autoria |
Os livros fizeram morada em mim, por isso, têm presença vitalícia nas viagens de balanço anual. Embora seja a lista mais complexa de definir, traz-me um aconchego especial ver que estive acompanhada por histórias tão distintas, impactantes, em vários casos, encontrando fôlego quando a realidade nem sempre foi gentil. Afinal, existem palavras que são colo.
Apesar de tudo, estava com a sensação de não me ter cruzado com uma obra que me tivesse deixado completamente apaixonada, ao ponto de a referir quase ao segundo. No entanto, olhando para a estante dos lidos, compreendi que era uma imagem falaciosa: posso não ter sido insistente a recomendar algumas delas, mas as narrativas permanecem por perto, a pairar, interligadas à memória emocional. E eu adoro perceber como essas narrativas foram crescendo com o tempo, com o amadurecimento, cumprindo o propósito de emocionar, de ficar.
À semelhança de anos anteriores, priorizei o Alma Lusitana e a tbr nas caixas de madeira. Arrisquei e criei o Ler Djaimilia, separei 12 títulos que pretendia descobrir em 2024 e estive atenta ao clube do Livra-te. Todos estes cruzamentos literários despertaram anotações interessantes, quer pelos enredos que fui lendo, quer pelas curiosidades que fui acumulando.
antes dos favoritos, algumas curiosidades literárias
Vou avançar alguns dados numéricos, porque não acho que sejam o mais importante neste cenário (como a quantidade de livros e de páginas e mesmo as percentagens nos diferentes géneros), e concentrar-me naquilo que me entusiasmou verdadeiramente.
📚 De acordo com o The Storygraph, aplicação à qual aderi no decorrer deste ano, tive vários moods de leitura, sendo que os que mais se destacaram foram: reflexivo, emocional e triste;
📚 Autoras mais lidas: Djaimilia Pereira de Almeida (9), Ana Pessoa (4), Francisca Camelo (3) e Sally Rooney (3);
📚 Fiz três releituras: As Coisas Que Faltam (Rita da Nova), A Importância do Pequeno-Almoço (Francisca Camelo) e Pessoas Normais (Sally Rooney);
📚 Cruzei-me com personagens memoráveis: Stoner (Stoner, John Williams), Ellwood, Gaunt, Devi e Hayes (In Memoriam, Alice Winn), Figueira (A Ilha das Árvores Desaparecidas, Elif Shafak), Ana Magdalena Bach (Vemo-nos em Agosto, Gabriel García Márquez), Olive Kitteridge (Olive Kitteridge, Elizabeth Strout), Yunjae (Amêndoas, Won-Pyung Sohn), Francesca e Maddalena (A Malnascida, Beatrice Salvioni), Peter e Ivan (Intermezzo, Sally Rooney) e Stephen (Pequenos Mundos, Caleb Azumah Nelson);
📚 Li: 62 autores novos; 78 autoras e 33 autores; 69 portugueses e 40 estrangeiros.
Nem todos os encontros foram felizes, aliás, tive mais desilusões literárias do que aquelas que estava a contar, no entanto, fechei o ano com um saldo muito positivo.
agora, sim, as estrelas da companhia (e com menções honrosas)
Stoner alberga, também escolhas, a importância do trabalho, «um casamento destrutivo» e um «lar envenenado». Alberga muitas guerras internas, saúde mental e um novo fôlego. Acompanhando a vida de William desde a infância até à sua morte, esta obra reforçou a minha admiração por histórias sem personagens heroínas. Talvez não seja uma obra que mudará a minha vida, talvez nem me recorde dela pelo enredo em si, embora algumas passagens se tenham colado à minha pele, mas amadurecerá com o tempo. Além disso, houve vários momentos que me deixaram emotiva e a refletir sobre tudo o que poderia ter sido e não foi.
A Ilha das Árvores Desaparecidas tem um equilíbrio maravilhoso e desenrola-se numa dinâmica que me estimula ainda mais, que é a lógica do «mostrar e não contar». Elif Shafak explica apenas o necessário e, depois, dá margem para que o leitor imagine e retire as suas ilações. Além disso, revelou-se uma história fabulosa sobre tradições e pertença.
Quando os Rios se Cruzam, fazendo justiça ao nome, cruza vários elementos e houve um em particular que me fez oscilar: seria uma metáfora ou literal? Este jogo prendeu-me ainda mais à cidade, à protagonista, à travessia entre o passado e o presente. Sendo uma viagem permanente, deixou-me a pensar não só no impacto das amizades femininas (outra das minhas partes favoritas) e nos desafios que enfrentamos quando estamos longe do que conhecemos, mas também nesta possibilidade de descobrirmos coisas sobre nós que pareciam escondidas - será que uma decisão diferente nos impediria de as vermos? Há uma parte de quem somos que é fruto das escolhas que fazemos, mas há outras que dependem do que não controlamos. Num livro em que as dinâmicas familiares estão muito presentes, também fiquei a refletir se, ao procurarmos dar espaço a partes de nós mais silenciosas, nos conseguimos realmente libertar do que sempre esteve ali, agregado a quem julgamos ser.
É impressionante como as suas crónicas nos levam do riso às lágrimas com facilidade e de uma forma tão natural. Como nos validam, como exercitam a empatia e nos transmitem a sensação de nos estarmos a ver ao espelho, num reflexo transversal. Na lista de favoritas destaco Devia ir Mais a Tondela, Casem e Deixem os Outros em Paz, Confissões Irrelevantes, Os 73 Segredos de Mentes Milionárias Para Uma Vida Zen, Ler é Sexy, Umbiguidade e Inté - esta última desarmou-me e fez-me sucumbir na última frase.
Esta novela gráfica, de Alix Garin, faz-nos sentir cada emoção, cada etapa, capa decisão. Foi, sem qualquer dúvida, uma das mais bonitas que já li: pelas temáticas que aborda, por nos consciencializar para uma batalha tão silenciosa e desgastante, pela sensibilidade e pelo humor que também floresce nas peripécias entre as duas. Não me esquecerei.
O Meu Pai Voava é uma carta de amor. É feito de um tempo que se guarda e de um tempo futuro que se perde. Transborda de saudade e de um traço poético que se agrega à despedida. No meio da neblina, do inverno que nos habita sem hora de ida, Tânia Ganho encontrou uma maneira de preservar os dias luminosos, os vínculos afetivos e familiares que nos impedem de sucumbir, que nos permitem pertencer. Há dias demasiado longos. Contudo, também há pessoas que nunca deixarão de existir.
A Malnascida revoltou-me e emocionou-me, porque tem uma série de detalhes memoráveis, que espelham que a vulnerabilidade não nos enfraquece e que há sempre quem saiba qual é o lugar certo da luta. Este livro só peca por ser curto, porque ficaria mais tempo nesta história, a acompanhar o estreitar de laços desta amizade que, para mim, é uma das mais bonitas que já li na ficção.
Intermezzo é complexo, emocionalmente denso e acredito que é uma história que vai crescendo em nós. Sendo o trabalho mais maduro de Sally Rooney, não deixa de transparecer a sensibilidade que lhe reconhecemos, mostrando-nos a importância de perdoar e o poder da aceitação. É necessário continuar a viver, a conseguir ver para lá do luto, e estas personagens - este livro - vieram fazer morada em mim. Não lhes largarei a mão.
Pequenos Mundos brilha pelo enredo e pela construção de personagens. Ademais, mesmo que não tenha a pretensão de ser bandeira dessa causa, reflete o quanto os traumas podem condicionar aqueles que amamos e demonstra a importância de, pondo as expectativas e o ego de lado, acreditarmos naquilo que os nossos são capazes de fazer, sem receio de o revelarmos. Porque a música salva e o mundo pode ficar um lugar insuportável se desaparecer, mas é o amor e o espaço que nos dão para sermos quem somos que enriquecem a nossa dança. E não temos de dançar sempre sozinhos.
Falar Piano e Tocar Francês é tão abrangente que há espaço para conversarmos sobre partituras, cidades, memes, filmes e David Bruno. Sinto que foi enriquecedor viajar por este livro e sei que voltarei a ler capítulos específicos por terem entrado para a lista de favoritos, como é o caso de A Beleza Está no Olhar de Quem Vê, Viver em Évora, Tão Mau Que é Bom e Em Defesa das Bactérias. Embora exista uma certa continuidade nos textos (nas ideias), podem ser lidos autonomamente, pela ordem que nos satisfizer. E a arte também é isso: sermos capazes de encontrar o nosso lugar e o nosso ritmo.
Furriel Não é Nome de Pai é, acima de tudo, um trabalho de empatia e de dignidade fabuloso. Embora não seja possível anular o passado, reverter o que viveram, a autora assumiu a missão de tentar unir estas famílias e, sem julgar escolhas, também não escondeu o desalento e a frustração que sentiu durante o processo. Como alguém destacou, há uma grande diferença entre «aceitar um filho e conhecê-lo», no entanto, Catarina Gomes trouxe um aconchego diferente a esta obra: por sabermos que aquelas pessoas não ficaram esquecidas. Ela deu-lhes voz, reunindo o que ficou por contar.
Mãe, Doce Mar seria extraordinário se fosse apenas a história de um reencontro entre uma mãe e um filho, mas vai muito para lá dessa barreira. Talvez seja um pouco sobre aquilo que tentamos recuperar e que nos vai escapando como uma brisa, talvez seja sobre como a literatura nos liberta ou sobre a própria noção de família. Talvez seja um manifesto sobre tudo isto e sobre a necessidade de sabermos onde atracar. Com um tom honesto e uma escrita lindíssima, fui arrebatada do início ao fim, uma vez que nada nos prepara para as reviravoltas, nem para tudo aquilo que nunca chegou a ser.
As leituras de 2024 estão praticamente fechadas (estou a concluir A Origem dos Dias, de Miguel d' Alte) e não podia deixar de incluir três menções honrosas: A Casa Holandesa, de Ann Patchett, Querido Edward, de Ann Napolitano, e Descansos, de Susana Amaro Velho.
Os livros serão sempre o meu passaporte favorito para viajar sem sair do lugar ♥
Este foi o ano em que li menos, sinal de que regressei à escrita.
ResponderEliminarTerminei a bibliografia do João Tordo com o novo livro dele: Os Dias Contados. Que adorei.
Continuei a reler a obra do José Luís Peixoto.
Foi um ano marcado por algumas releituras.
Beijinho grande, minha querida!
Tenho de voltar ao João Tordo, ando com saudades da sua escrita!
EliminarTão bom *-*
"Li" Ouvi Stoner e gostei muito *.* Quando os rios se cruzam fez-me viajar ate Italia :) Dos meus preferidos do ano sao: The Happiest Men On Earth e Tomorrow, and Tomorrow and Tomorrow :) Ah e tambem The Testaments da Margaret Atwood :)
ResponderEliminarStoner ficou com o meu coração 🥺
EliminarTenho de ir ao da Margaret Atwood!