irreversível
Fotografia da minha autoria |
A nova série policial da RTP leva-nos até à Figueira da Foz por causa do homicídio de uma jovem de 17 anos. Na tentativa de solucionar o crime, compreenderemos que há segredos muito mais profundos, pontas soltas e várias relações duvidosas. Portanto, «crime e suspense são ingredientes» presentes neste argumento de Bruno Gascon.
depois de assistir ao primeiro episódio
Irreversível permite-nos conhecer Júlia Mendes, uma psicóloga atormentada pelo seu passado, e Pedro Sousa, um inspetor determinado, mas cuja energia também me parece um pouco desconcertante, como se existem questões por resolver. Em parceria, procurarão encontrar o culpado, enquanto «lutam contra os seus próprios demónios».
Adorei, de imediato, a escolha do local das filmagens, porque acho que a Figueira da Foz, pelas suas características e por ser uma cidade costeira, colocam em evidência a aura misteriosa das cenas e um vínculo familiar, dando a sensação de que todos se conhecem. Portanto, também rapidamente perceberemos que cada uma daquelas pessoas tem algo a esconder e que estarão dispostas a tudo para proteger os seus ente queridos. Mas será que vale tudo? Será que a verdade salva ou trará mais infortúnio?
Estava mesmo curiosa com o desenrolar da série, que tem um elenco de luxo: não só para unir todas as pontas que permanecem soltas, mas também por ser um texto que explora temas atuais e tão urgentes, como o bullying, o abuso infantil, a perda, a comunicação, a influência das burocracias nos processos e o impacto da saúde mental.
Adorei, de imediato, a escolha do local das filmagens, porque acho que a Figueira da Foz, pelas suas características e por ser uma cidade costeira, colocam em evidência a aura misteriosa das cenas e um vínculo familiar, dando a sensação de que todos se conhecem. Portanto, também rapidamente perceberemos que cada uma daquelas pessoas tem algo a esconder e que estarão dispostas a tudo para proteger os seus ente queridos. Mas será que vale tudo? Será que a verdade salva ou trará mais infortúnio?
Estava mesmo curiosa com o desenrolar da série, que tem um elenco de luxo: não só para unir todas as pontas que permanecem soltas, mas também por ser um texto que explora temas atuais e tão urgentes, como o bullying, o abuso infantil, a perda, a comunicação, a influência das burocracias nos processos e o impacto da saúde mental.
depois de terminar a série
A história de Irreversível fragmenta-se, então, em dois planos: no principal, temos uma investigação policial acerca da morte de uma adolescente; no secundário, temos uma mãe a quem retiraram a filha bebé. Ambos os casos, ocorridos no mesmo local, aparentam ter uma narrativa independente, mas será que acabarão por se cruzar?
O que ecoa é quase indecifrável, há sinais contraditórios, pistas labirínticas e uma sensação constante de se caminhar para um beco sem saída. No caderno onde vou fazendo anotações, enquanto vejo séries e/ou filmes, registei vários pensamentos, mas foram mais as perguntas que escrevi, porque estava a sentir-me como as personagens: a começar a duvidar de todos os intervenientes. Portanto, fiquei sempre com mais suspeitas do que certezas e isso, para mim, foi um dos pontos mais estimulantes.
Por outro lado, havia uma espécie de neblina a pairar, a impedir que as intenções fossem claras, isentas de qualquer tensão. De repente, como passamos muito tempo com os protagonistas, foi como se os víssemos a fecharem-se sobre si mesmos, ainda que não existisse qualquer tipo de culpa nos seus gestos. Mas, uma vez que a emoção tende a falar mais alto do que a razão, ocultar parecia ser a solução mais imediata.
Um dos aspetos que mais me fascinou e incomodou na mesma medida foi o contraste das reações. O choque consegue ser paralisante, principalmente quando advém de uma perda, mas houve sempre algo a inquietar-me, como se as peças estivessem fora de sítio, como se a verdade estivesse a um palmo de distância e não fossemos capazes de a alcançar. E mantive-me neste limbo até às cenas finais, totalmente imprevisíveis.
Irreversível está cheia de camadas, muito bem oleadas para que nenhuma apareça a mais. Explora temas duros e necessários, mas em nenhum momento senti que estão ali para preencher uma quota qualquer. Muito pelo contrário, surgem explanados porque, infelizmente, não são uma mera representação criativa. Por isso, dei por mim, muitas vezes, a pensar no número de casos que poderiam encaixar nesta narrativa obscura.
Não quero aprofundar em demasia, para não correr o risco de revelar pormenores essenciais, mas permitam-me só reforçar a pluralidade dos assuntos, uma vez que nos mostra a decadência da droga, a fragilidade da justiça, os limites que se transpõem pelo desespero, a falta de aceitação, a necessidade de fazer justiça pelas próprias mãos e a linha ténue que separa o lado pessoal do lado profissional. Ademais, há um jogo de manipulação tremendo, quase perverso, como se agissem em nome de algo maior.
As pontas soltas foram sendo atadas devagar e há um momento em que tudo se torna mais nítido. Atrevo-me, até, a dizer que chegamos a compreender os motivos que desencadearam a mudança de personalidade, visto que existem traumas que anulam tudo o que fomos, mas percebemos que não pode valer tudo, porque isto não é um jogo. Escudando-se no amor, há mesmo quem esteja disposto a tudo para proteger as escolhas de um passado recente. Mas será que o conseguirá fazer sem ser descoberto?
A vida pode mudar num ápice, da maneira mais improvável. E, de facto, há desfechos que não se revertem. Ainda assim, no meio de tantas sombras, talvez exista espaço para a redenção. Irreversível parece-me uma excelente demonstração disso. Disso, e do quanto a verdade e a mentira não são conceitos lineares. Que série extraordinária!
Por outro lado, havia uma espécie de neblina a pairar, a impedir que as intenções fossem claras, isentas de qualquer tensão. De repente, como passamos muito tempo com os protagonistas, foi como se os víssemos a fecharem-se sobre si mesmos, ainda que não existisse qualquer tipo de culpa nos seus gestos. Mas, uma vez que a emoção tende a falar mais alto do que a razão, ocultar parecia ser a solução mais imediata.
Um dos aspetos que mais me fascinou e incomodou na mesma medida foi o contraste das reações. O choque consegue ser paralisante, principalmente quando advém de uma perda, mas houve sempre algo a inquietar-me, como se as peças estivessem fora de sítio, como se a verdade estivesse a um palmo de distância e não fossemos capazes de a alcançar. E mantive-me neste limbo até às cenas finais, totalmente imprevisíveis.
Irreversível está cheia de camadas, muito bem oleadas para que nenhuma apareça a mais. Explora temas duros e necessários, mas em nenhum momento senti que estão ali para preencher uma quota qualquer. Muito pelo contrário, surgem explanados porque, infelizmente, não são uma mera representação criativa. Por isso, dei por mim, muitas vezes, a pensar no número de casos que poderiam encaixar nesta narrativa obscura.
Não quero aprofundar em demasia, para não correr o risco de revelar pormenores essenciais, mas permitam-me só reforçar a pluralidade dos assuntos, uma vez que nos mostra a decadência da droga, a fragilidade da justiça, os limites que se transpõem pelo desespero, a falta de aceitação, a necessidade de fazer justiça pelas próprias mãos e a linha ténue que separa o lado pessoal do lado profissional. Ademais, há um jogo de manipulação tremendo, quase perverso, como se agissem em nome de algo maior.
As pontas soltas foram sendo atadas devagar e há um momento em que tudo se torna mais nítido. Atrevo-me, até, a dizer que chegamos a compreender os motivos que desencadearam a mudança de personalidade, visto que existem traumas que anulam tudo o que fomos, mas percebemos que não pode valer tudo, porque isto não é um jogo. Escudando-se no amor, há mesmo quem esteja disposto a tudo para proteger as escolhas de um passado recente. Mas será que o conseguirá fazer sem ser descoberto?
A vida pode mudar num ápice, da maneira mais improvável. E, de facto, há desfechos que não se revertem. Ainda assim, no meio de tantas sombras, talvez exista espaço para a redenção. Irreversível parece-me uma excelente demonstração disso. Disso, e do quanto a verdade e a mentira não são conceitos lineares. Que série extraordinária!
Simplesmente genial!!! Deixou-me com um no no estomago por ser tao real... infelizmente :'( Margarida Vila-Nova é genial! Gosto muito dela *.*
ResponderEliminarAs suspeitas estavam cá toda, mas conseguiram confundir-me até ao fim. Que série incrível 😍
EliminarPercebo-te perfeitamente!