pequenos mundos, caleb azumah nelson

Fotografia da minha autoria


Gatilhos: Álcool, Violência, Luto


A escrita de Caleb Azumah Nelson foi uma das surpresas mais bonitas do ano anterior, por isso, estava desejosa de o ler noutras histórias. Agora que tive essa oportunidade, sinto-me em condições de afirmar que se está a tornar num caso sério de admiração, porque voltou a desarmar-me.


quando só a dança faz sentido

Pequenos Mundos é a história de Stephen, um jovem cuja fé parece ter-se perdido, mas que encontra na música e na dança a força matriz das suas crenças. Além disso, acompanhamo-lo ao longo de três verões e nas metamorfoses que se vê quase forçado a abraçar, já que está tudo a mudar.

A forma como o protagonista vive e descreve a música é inspiradora, uma vez que conseguimos sentir esse vínculo tão visceral. É entre diferentes ritmos e batidas que encontra um propósito, que expia medos e hesitações, que reúne forças para conhecer melhor as suas raízes e projetar o futuro. Quando tudo se afigura caótico e demasiado sufocante, é a música que lhe permite respirar.

Sinto que fui avançando na leitura com o coração nas mãos, porque teve partes lindíssimas, mas igualmente dolorosas. Stephen teve de gerir desamores, dinâmicas familiares que nem sempre compreendeu, a sensação de ficar para trás e perdas que lhe tiraram o tapete. Neste compasso, teve de aprender a superar o desgosto, a mágoa e as saudades. Acima de tudo, teve de aprender isso enquanto tentava descobrir a sua verdadeira identidade.

«Cada nota que eu tocava era vacilante e estrídula, o tom produzido num lugar fundo de mim mesmo, cheio de dor. Mas, pelo menos, eu tinha este espaço. Que acontece àqueles que não têm lugar para exprimir o que lhes dói e não conseguem contar as suas histórias? Que acontece a essas histórias que só podem ser ditas?»

Este livro é sobre o que não é dito, o que se guarda e o que ecoa no silêncio. É sobre como todos os ecossistemas que construímos nos ajudam a encontrar o nosso lugar. É sobre as pessoas que voltam sempre e que têm o dom de diminuir a solidão que nos habita. E comoveu-me bastante por tudo isto. Principalmente, comoveu-me porque Stephen lutou para conquistar a sua liberdade e o caminho nunca se revelou fácil.

Pequenos Mundos brilha pelo enredo e pela construção de personagens. Ademais, mesmo que não tenha a pretensão de ser bandeira dessa causa, reflete o quanto os traumas podem condicionar aqueles que amamos e demonstra a importância de, pondo as expectativas e o ego de lado, acreditarmos naquilo que os nossos são capazes de fazer, sem receio de o revelarmos. Porque a música salva e o mundo pode ficar um lugar insuportável se desaparecer, mas é o amor e o espaço que nos dão para sermos quem somos que enriquecem a nossa dança. E não temos de dançar sempre sozinhos.


🎧 Música para acompanhar: Sweet Life, Frank Ocean.

📖 Outro livro lido: Mar Alto


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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