favoritos de 2024: as publicações
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Fotografia da minha autoria |
A entrada nos 30 não me criou grande mossa, ainda que, eventualmente, possa ter vindo a sentir o peso da aura que se atribui a esta idade, como se fosse a nossa meta. No entanto, entrar nos 30 solteira deu-me outra perspetiva sobre a forma como acolho interações com terceiros, mas não só nesse parâmetro. E é mais no segundo ponto que me quero focar.
Há um pensamento reproduzido que espelha muito a ideia de que, a partir dos 30, quem entra na nossa vida tem de chegar para acrescentar, uma vez que, aparentemente, estamos mais conscientes do que queremos e, se calhar, mais maduros, não tendemos a procurar no outro o que nos falta. Crescemos e aprendemos a gerir-nos, a filtrar o que nos serve e já não temos bem paciência para jogos. Embora concorde com esta visão geral - e me reveja -, nem sempre estou certa do que quero e acho que passamos a vida toda a limar as arestas da nossa personalidade. E senti isso tanto na parte pessoal, como na parte da criação de conteúdo.
Este ano, escrevi/publiquei muito sobre livros, algo que adoro, mas vi-me um pouco assoberbada e com uma crise de identidade digital que se prolongou. Sendo franca, chegou a um ponto em que me questionei, primeiro, sobre o meu propósito e, segundo, sobre a pertinência de continuar. Já não me revia na casa que alicercei com tanto cuidado, mas fui permanecendo, porque não sei ser sem a escrita - e desistir não estava nos planos.
Ainda estou a tentar ajustar o caminho, no entanto, apesar de tudo, partilhei publicações que me encheram o coração, porque nasceram de um lugar muito intimista, muito meu.
estaremos mesmo a incentivar à leitura?
Os livros bons, como também referiu Isabel Alçada, são aqueles que interessam aos leitores. E, para isso, não pode existir uma só lista, não pode existir obrigatoriedade e portas fechadas. É aos respeitarmos as suas individualidades, trazendo-as para o centro da discussão, que lhes garantimos ferramentas que os ajudem a estruturar os seus gostos. Se continuamos a excluir potenciais leitores da leitura, da literatura, o que sobra? É por esse motivo que, antes de me questionar sobre a presença/ausência de um determinado livro no PNL, insisto em perguntar: estaremos mesmo a incentivar à leitura ou estaremos apenas a validar egos?
quando tentamos encaixar onde não pertencemos
Eu sei que o ser humano, por mais bem resolvido que esteja, procura sempre por validação, procura ser aceite e encontrar o seu lugar. O problema é quando essa obsessão tolda tudo o resto e faz com que nos esqueçamos daquilo que é mais importante. Porque, às vezes, investimos tanto de nós para fazermos parte de algo, de alguém, que nos perdemos do lugar onde já pertencemos e que precisamos de cuidar. De repente, é como se nos desligássemos da pessoa que somos e encarnássemos uma personagem, apenas para corresponder a expectativas alheias.
o sofrimento pode ser escrito por quem?
Um dos conselhos que mais vezes vejo reproduzido é que um escritor deve escrever sobre aquilo que conhece. Durante anos, não questionei a afirmação, porque me parecia óbvia: pela proximidade e por trazer uma certa estabilidade a um terreno pantanoso. Mas até que ponto não é uma noção limitativa? Até que ponto não impede que o escritor evolua e, acima de tudo, se descubra? Tenho-me debatido cada vez mais sobre isto.
continuar a escrever, mesmo sem sermos publicados
Acho que me perguntarei muitas vezes se valerá a pena escrever, mesmo quando não nos querem publicar - ainda que não nos digam isso diretamente, mas a ausência de uma resposta for suficiente para compreender a mensagem. No entanto, também tenho a certeza que a resposta continuará a ser a mesma: sempre!
quando passamos a estar sempre atrasados?
Eu sei que, lá no fundo, esta noção permanece vinculada às verdades com que crescemos e que teimam em ficar presas à nossa pele. Sei que é uma consequência de todas as vezes que não conseguimos silenciar, que se manifestam num aparente conselho ou cuidado, mas que evidenciam sempre mais o traço da condescendência e das inseguranças. Por isso, tendemos a sentir-nos em dívida, num plano de prejuízo, porque já definiram todas as etapas do nosso caminho e nós não as alcançamos. Mas será que queremos?
os (a)braços que nos faltam
Sempre fui pessoa de abraços e nunca tive qualquer medo de morrer (da forma como isso se processará é que já não é assim). E em que ponto é que estes pólos se cruzam? Na inevitabilidade de perder os (a)braços de quem parece sustentar o meu mundo. E sendo vários os alicerces, compreende-se que a força do embate não será silenciosa.
o desconforto de ir, o receio de perder
Há eventos que faço questão de ir acompanhada: pela partilha que potenciam, por saber que fazem sentido para os envolvidos e pelas próprias memórias que perdurarão no tempo - e que serão mais um elemento de ligação. Mas e quando não temos quem nos queira acompanhar? Será que a solução será mesmo não ir?
a vida que não termina aos trinta (e a magia das primeiras vezes)
Não sei quando é que passamos a estar sempre com pressa, nem quem definiu que os trinta são o fim da linha. Mas pode ser que, aos sessenta, venha cá escrever-vos que tirei a carta, que fiz uma tatuagem, que a vida deu uma grande volta e acabei por me casar. Ou, então, talvez chegue aqui aos setenta e diga que nada disto aconteceu, que o caminho seguiu como uma brisa ondulante, serena, sem aventuras transformadoras. Ainda assim, terei consciência que a vida não terminou naquele prazo. E, até ao fim, ainda pode ter uma porta entreaberta para uma primeira vez.
seremos mesmo leves ou teremos só medo de sentir?
Estava na minha rotina de segunda-feira, há umas semanas, a escutar Isso Não se Diz, quando o Bruno Nogueira começou a refletir sobre o que é ser leve - de espírito, de personalidade, de emoções. Honestamente, não tenho uma resposta concreta, mas creio que é uma imagem poética, porque transmite a sensação de ficarmos a pairar, como se fôssemos capazes de avançar sem grandes danos, sem grandes consequências.
justificação de falta
Agarrada ao papel, fiquei a pensar na quantidade de coisas que guardamos sem nos virem à memória com regularidade ou que guardamos sem sabermos o que lhes fazer a seguir. E lembrei-me, por exemplo, dos números de telemóvel que ainda não consegui apagar - e que talvez nunca venha a conseguir. Talvez não faça sentido, mas é como se estivesse a deitar fora uma parte tão importante de quem sou.
Este "a vida que não termina aos trinta (e a magia das primeiras vezes)" foi dos meus preferidos. Aliás, vai aparecer lá no blog quando publicar o post com os meus posts preferidos do ano :)
ResponderEliminarO meu coração não aguenta, Inês 😱 muito, muito obrigada! Fico mesmo sensibilizada
EliminarEscreves tão bem, Andreia! :)
ResponderEliminarMuitas dessas publicações, fizeram-me refletir! Obrigada por isso!
www.amarcadamarta.pt
Owwww, obrigada, Marta 🥺
EliminarQue belo ano *.* Tenho mesmo de voltar ao meu Cantinho :)
ResponderEliminarObrigada 🫂 apoio essa ideia!
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