falar piano e tocar francês, martim sousa tavares
Fotografia da minha autoria |
O modo como nos relacionamos com a arte pode assemelhar-se a um funil ou a um caleidoscópio, porque ou nos agregamos a um estilo muito específico ou optamos por estender os nossos horizontes ao máximo. Isso não implica descartarmos tudo o que não nos move ou gostarmos de tudo o que ouvimos/lemos/observamos, apenas mostra que nos vamos redescobrindo, cimentando a nossa identidade. No seu livro de estreia, Martim Sousa Tavares funciona como um mediador entre essas realidades - e não só.
a beleza de ler o martim
Falar Piano e Tocar Francês compila três conceitos que, na sua essência, não se esgotam em ramificações: arte, cultura e humanismo. E é fascinante como, a partir das suas experiências profissionais e pessoais, o maestro procura estabelecer elos entre os três. Por mais que nos pareçam associações improváveis, resultam muito bem, porque a forma como estrutura os seus raciocínios, molda os seus pensamentos e encontra simbolismos e memórias que encaixam em determinadas reflexões agrega-nos. Portanto, ao longo de dezassete capítulos, somos embalados numa onda de encanto.
Por outro lado, sinto que este livro é um exercício de liberdade interessante pela quantidade de pontes que constrói entre os temas, mostrando-nos que as nossas preferências podem ser antagónicas e coexistir em perfeita harmonia. Além disso, incentiva-nos a sermos críticos e a exercermos uma observação mais atenta daquilo que nos rodeia, partindo sempre desta noção: «a beleza está no olhar de quem a vê».
Martim Sousa Tavares, mediando o leitor entre as diferentes formas da beleza e as distintas manifestações artísticas, não se exclui do processo. Ou seja, não se limita a apresentar os factos, permite-nos conhecer os seus pontos de vista e as suas emoções. E desempenha esse papel sem nos fazer sentir que a sua análise é que é a correta, a única possível face àquele assunto. No fundo, é como se também ele fizesse parte do público e estivesse só a partilhar sensações, tal como faríamos com os nossos amigos.
Por outro lado, sinto que este livro é um exercício de liberdade interessante pela quantidade de pontes que constrói entre os temas, mostrando-nos que as nossas preferências podem ser antagónicas e coexistir em perfeita harmonia. Além disso, incentiva-nos a sermos críticos e a exercermos uma observação mais atenta daquilo que nos rodeia, partindo sempre desta noção: «a beleza está no olhar de quem a vê».
Martim Sousa Tavares, mediando o leitor entre as diferentes formas da beleza e as distintas manifestações artísticas, não se exclui do processo. Ou seja, não se limita a apresentar os factos, permite-nos conhecer os seus pontos de vista e as suas emoções. E desempenha esse papel sem nos fazer sentir que a sua análise é que é a correta, a única possível face àquele assunto. No fundo, é como se também ele fizesse parte do público e estivesse só a partilhar sensações, tal como faríamos com os nossos amigos.
«Quando se trata de cultura, tudo acrescenta. E a melhor parte é que, numa cultura de boa-fé, também tudo é compatível»
Um aspeto que acho mesmo fascinante é o facto de a sua escrita ser um espelho da pessoa que é. Passo a explicar: é inegável que o maestro tem imenso mundo e muita cultura geral, no entanto, em nenhum momento é condescendente com o leitor, em nenhum momento o estupidifica, fazendo-o sentir-se inferior por não ter acesso a certos meios ou conhecimentos, até porque não partimos todos da mesma casa. Há um discurso cuidado, por vezes, quase filosófico, mas é claro na mensagem. Podemos não reconhecer todas as referências, no entanto, isso não condiciona a experiência de leitura. Sobretudo, porque também percebemos o entusiasmo com que fala sobre elas. Ademais, Martim Sousa Tavares tem imensa graça e isso transparece nas divagações.
Onde começa a arte? Qual o seu propósito? A função do mediador poderá ou não condicionar a nossa perceção? Haverá limites para a sua intervenção? Mesmo sem chegarmos a respostas fechadas, sinto que vamos refletindo sobre todos estes pontos; refletimos sobre diversidade, sobre o individual versus o coletivo, sobre estética, sobre ética, sobre clássico versus contemporâneo e sobre quem somos tendo em conta os nossos gostos artísticos. E existe sempre a beleza a revestir todas estas camadas.
Falar Piano e Tocar Francês é tão abrangente que há espaço para conversarmos sobre partituras, cidades, memes, filmes e David Bruno. Sinto que foi enriquecedor viajar por este livro e sei que voltarei a ler capítulos específicos por terem entrado para a lista de favoritos, como é o caso de A Beleza Está no Olhar de Quem Vê, Viver em Évora, Tão Mau Que é Bom e Em Defesa das Bactérias. Embora exista uma certa continuidade nos textos (nas ideias), podem ser lidos autonomamente, pela ordem que nos satisfizer. E a arte também é isso: sermos capazes de encontrar o nosso lugar e o nosso ritmo.
🎧 Música para acompanhar: Bebe & Dorme, David Bruno
Onde começa a arte? Qual o seu propósito? A função do mediador poderá ou não condicionar a nossa perceção? Haverá limites para a sua intervenção? Mesmo sem chegarmos a respostas fechadas, sinto que vamos refletindo sobre todos estes pontos; refletimos sobre diversidade, sobre o individual versus o coletivo, sobre estética, sobre ética, sobre clássico versus contemporâneo e sobre quem somos tendo em conta os nossos gostos artísticos. E existe sempre a beleza a revestir todas estas camadas.
Falar Piano e Tocar Francês é tão abrangente que há espaço para conversarmos sobre partituras, cidades, memes, filmes e David Bruno. Sinto que foi enriquecedor viajar por este livro e sei que voltarei a ler capítulos específicos por terem entrado para a lista de favoritos, como é o caso de A Beleza Está no Olhar de Quem Vê, Viver em Évora, Tão Mau Que é Bom e Em Defesa das Bactérias. Embora exista uma certa continuidade nos textos (nas ideias), podem ser lidos autonomamente, pela ordem que nos satisfizer. E a arte também é isso: sermos capazes de encontrar o nosso lugar e o nosso ritmo.
🎧 Música para acompanhar: Bebe & Dorme, David Bruno
Fiquei fã do Martim, enquanto pessoa, depois da entrevista no Alta Definição. Tenho muita curiosidade em ler este livro e ler a tua resenha aumentou-a.
ResponderEliminarVou levar a sugestão, claro!
Beijinho grande, minha querida!
Fico fascinada a ouvi-lo, porque é mesmo uma pessoa com imenso mundo e muito terra a terra. Acho que a sua escrita o demonstra bem
EliminarVais gostar ☺️
Não conhecia, mas parece ser giro!
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