favoritos de 2024: os momentos

Fotografia da minha autoria



O despertador tocou cedo, uma vez que creio ter encontrado uma nova tradição anual: ir escrever favoritos para a Miss Pavlova, mais concretamente, para a loja da Ribeira. Desta vez, fi-lo enquanto me deliciava com um cappuccino e um prato de ovos turcos.

A descer a rua de Mouzinho da Silveira, tentei organizar pensamentos e passar o ano em revista, mentalmente, para que fosse mais simples de fazer esta retrospetiva. Mas nunca é, nem poderia ser, já que há um laço emocional a pairar, a despertar sensações, a abrir feridas, a embalar sonhos. Nunca poderia ser fácil, porque condensar uma viagem tão oscilante em meia dúzia de parágrafos parece sempre insuficiente, pouco justo.

Janeiro trouxe muitas vidas dentro e uma operação esperada, mas cuja data não estava definida, apanhando-nos de surpresa (não foi comigo e correu tudo bem, mas foram horas de nervos à flor da pele). Fevereiro desabrochou como uma tulipa. Março ondulou entre a nostalgia e os saltos de fé. Abril cobriu-se de festa, cravos e reencontros. Maio foi caótico e aumentou a família do coração. Junho trouxe-me o melhor e o pior. Julho, por oposição, reservou-me algum descanso e muitas questões sobre o meu caminho no digital. Agosto mostrou-me o quanto estava cansada de 2024 e de lidar com perdas. Setembro veio com aroma a outono e a Feira do Livro do Porto. Outubro pareceu uma versão 2.0 de janeiro, sendo quase como um lento jogo de xadrez. Novembro, por seu lado, manifestou-se como uma brisa. E dezembro foi aquilo que mais precisava: colo (mesmo que também tenha vacilado).

Este ano, permitiu-me viver momentos extraordinários, a magia das primeiras vezes e celebrar histórias de amor bonitas. No entanto, também me tirou o tapete de uma forma inesperada. Como escreveu Susana Amaro Velho, em Descansos, «à morte dos outros era sempre possível sobreviver-se», mas ainda estou a descobrir como se gere este luto que parece ausente e se faz notar em situações estratégicas. Gosto de olhar para as situações de um modo positivo, até porque também foi isso que aprendi com aqueles que perdi, mas às vezes é difícil. Agora que reflito sobre isto, esta talvez tenha sido uma das maiores lições de 2024: nem tudo se resolve logo, a dormência talvez se prolongue. Por mais que as feridas possam deixar de estar expostas, continuam a precisar que respeitemos o seu tempo, o processo, para que sarem.

Abro o caderno das coisas maravilhosas e percebo que há fragmentos encantadores que me foram salvando, mesmo que pareça um exagero, principalmente de pensamentos turvos. Por isso, quis dividir estes favoritos em duas categorias: pessoal e cultural.


os momentos pessoais

Os 32 chegaram com muito amor e aproveitei a ocasião para celebrar, primeiro, com música e livros e, segundo, com palavras que me definem.

      

É curioso ver como o tempo avança e há histórias que transbordam. No meio de dias menos bons, vi a família a aumentar, quer a de sangue, quer a de coração. Primeiro, veio a Lúcia, a filha da minha melhor amiga e do meu cunhado. Depois, porque o coração alarga sempre para acolher mais pedaços de amor, veio o meu primo Tomás. Sou uma tia e prima muito babada.

   

Viajar de avião ainda não se tinha proporcionado, mas a despedida da minha afilhada/sobrinha de coração veio mudar isso. Adorei a experiência, a sensação de liberdade e esta noção de não existir validade para as primeiras vezes. Repetirei, só ainda não sei em que altura.

      

A faculdade e, em particular, a praxe trouxeram-me pessoas muito especiais. A Cristiana foi uma delas e, aliás, é uma das que mais gosto de manter por perto. Vi a história com o Adriano a crescer e, embora estivesse a torcer pelo Jeremias (😂), fiquei radiante quando anunciaram o casamento. Foi um momento de sonho, completamente à imagem de ambos, que me deixou comovida e de coração cheio. Não sei se existem almas gémeas, mas sei que eles os dois se complementam e que têm aquele brilho no olhar de quem está onde mais deseja. Senti-me mesmo uma privilegiada por o celebrar com eles. Que sejam sempre casa um do outro.

      

A Corrida do Dragão é uma celebração única para a cidade, em particular para os adeptos do FC Porto, porque podemos levar o emblema do clube ao peito. Por mais tentadora que seja essa imagem, devo confessar que nunca esteve nos meus planos correr os 10 quilómetros: não só porque não tinha qualquer preparação física para esse desafio, mas também porque não sou entusiasta da corrida. No entanto, acabei por integrar o evento através da caminhada solidária, cujo valor da inscrição revertia totalmente para a Liga Portuguesa Contra o Cancro. Foi uma experiência inesquecível: pelo momento em si, por ver tantas pessoas juntas para a mesma finalidade, pelo próprio percurso e, claro, por começar e acabar num sítio que me diz tanto. Até fiquei com vontade de me inscrever na próxima edição, vejam bem. Veremos.

      

Ir ao Estádio do Dragão não é uma constante. Aliás, passo mais tempo sem ver um jogo ao vivo do que na bancada (algo que gostava de alterar no próximo ano, admito). E acho que, em parte, também é por isso que cada reencontro é tão especial. Sinto-me sempre em casa!

   

Outros momentos felizes: Ter dois poemas publicados na revista Ofélia, jantar com a Sofia e a Rita no Federica e conhecer a Marisa Vitoriano.


os momentos culturais

Assistir a este evento numa sala cheia, sem preconceitos espelhados, sem desconforto e com a plateia a reagir aos vários tópicos em discussão foi maravilhoso. De repente, era como se estivéssemos entre amigos e não numa sala de teatro. E acredito que esta proximidade só é possível pela energia que as duas transparecem e pelo trabalho que desenvolvem com o podcast. Elas ocupam muito bem o lugar de fala do qual dispõem e fazem isso sem qualquer tipo de moralismo. Vê-las a desconstruir ideias e a dar visibilidade a temas vitais para o ser humano - e para as relações intra e interpessoais -, não duvido, torna-nos melhores pessoas.

Pata de Ganso teve espaço para falar sobre problemas de joelho, medos, erva, aldeias de sexo e relações familiares. E percebe-se que o texto é de alguém que se está a descobrir. Não sei se, para ele, é um bom ou um mal sinal perceber que «a pessoa que se está a tornar pode não ser a que sempre idealizou», mas, pelo que vi em palco, o caminho é promissor. Estou cada vez mais fã da sua voz na comédia e do percurso que está a construir, porque encontrou o seu lugar, mas pode sempre voar mais alto.

Diogo é o seu texto mais intimista e quis filmá-lo numa sala que acompanhasse essa essência. Embora compreenda o objetivo, confesso que não deixou de me surpreender que o fizesse no M.Ou.CO, porque não seria uma escolha óbvia para um espetáculo de comédia. Ainda assim, agora que aconteceu, defendo que fez todo o sentido e que a dinâmica funcionou. Porque, ali, sabíamos que estávamos num lugar seguro.

      

O propósito desta tour é, naturalmente, dar a conhecer o seu trabalho mais recente, SNTMNTL, lançado em março, mas o alinhamento combinou temas de outros discos. E adorei descobrir como é que os foi interligando, como é que os foi tornando fios da mesma história. Acho que as suas canções anteriores são passíveis disso, no entanto, sem que perdessem a sua identidade singular, revestiu-as com uma imagem mais eletrónica, complementando toda a intenção presente neste novo capítulo musical.

Nunca os tinha visto ao vivo, portanto, estava entusiasmada e expectante. Do Zee, esperava uma atuação mais enérgica; do Slow, esperava uma presença mais intimista. Em ambos os casos, foi notório que a narrativa do concerto foi construída ao detalhe e que, se pensar nisso, até encontram uma forma de se complementarem. O Van Zee começa a conquistar o seu lugar e sinto que, durante o concerto, houve mesmo uma noção de espetáculo, houve a preocupação de, sem esquecer a música, proporcionar um momento de entretenimento, que levasse o público a navegar no seu mar. Na atuação do Slow J, pelos vídeos que vi de outros eventos, sinto que ele nos convidou a entrar em casa, de uma forma muito descontraída e confortável. E fê-lo com uma especial atenção à banda, que teve várias ocasiões de destaque.

O maior evento de anti-ajuda do ano chegou à Invicta. E a prova de que estávamos todos a precisar de algo idêntico foi a afluência às bilheteiras online: tanto que temi que não fôssemos conseguir, mas, no fim, correu tudo bem. É que as coisas acontecem como têm de acontecer e, afinal, estava escrito nas estrelas irmos a este espetáculo. Joana Marques, como Coach de Baixa Performance que se preze, não veio sozinha e reuniu o melhor grupo de gurus de desenvolvimento pessoal, para nos inspirarem com as suas histórias (des)motivacionais. E, admito, a nossa vida nunca mais será igual.

      

O mote «por mais solar que seja o coração» preservou o «lume da palavra» que é tão característica da FLP. E após largos períodos de paciência, sem qualquer cobrança, chegou a altura de celebrar Eugénio de Andrade, o aclamado poeta da luz.

Sombra, segundo a própria, é «um confessionário de ruindades sobre o nosso lado mais sombrio, mesquinhozinho e egomaníaco no papel de mães, filhas, amigas e amantes». Numa espécie de sessão de psicoterapia de grupo, estivemos uma hora e meia a rir sobre traumas, males, excentricidades e erros que se repetem. Acusei o toque quando falou dos filhos únicos, mas eventualmente acabei por superar essa afronta dolorosa.

A vida é feita de ironias: embora tivesse a referência, não cresci próxima de Silence 4. Excluindo um tema ou outro, não era o grupo musical que enchia a casa. Mais tarde, numa carreira a solo, David Fonseca também não me despertou essa atenção e passei muito tempo sem escutar as suas canções. Honestamente, não vos sei explicar o que me afastava do seu registo, apenas sei que não era um artista que procurasse incluir na minha banda sonora. Só que neste processo de descobrir a minha identidade, em todas as camadas que a compõem, percebi que foi um nome que foi conquistando o seu espaço. Por isso, foi com zero surpresa que acabei no Coliseu do Porto a assistir ao seu concerto.

      

Conteúdo do Batáguas - em vídeo e ao vivo - é descontraído e alucinado, mas não deixa de nos fazer pensar numa série de questões que nos moldam enquanto pessoas e enquanto sociedade. E sei que é por isso que gosto tanto de o acompanhar: porque é preciso ter um olhar minucioso para equilibrar a estupidez e a crítica, de modo a que nos pareça que é só um momento de entretenimento. Mas, depois, fica a ecoar em nós.

O bilhete estava guardado desde o meu aniversário, em abril, não só para que não o perdesse, mas também para que não acusasse o toque de uma espera um pouco longa. Como já tive oportunidade de partilhar, descobri Os Quatro e Meia por acaso, mas conquistaram-me logo pela sonoridade, pelo tom descontraído e pela humildade. E vê-los ao vivo é sempre um momento indescritível, por isso, não perderia este concerto.

      


2025, sê gentil ✨

Comentários

  1. Destacaria dois momentos felizes de 2024: férias de verão em Lisboa e a chegada da nova edição do meu Ao Teu Lado.
    Para 2025 quero regressar aos concertos, ler mais livros e continuar a lutar pelo meu livro.

    Feliz 2025, minha querida, com tudo o que mais desejares.

    Beijinho grande!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Que ótimos momentos, minha querida!
      Espero que 2025 seja tudo aquilo que desejas ✨️🍀

      Eliminar
  2. 2024 foi Magico com a nossa ida à DisneylandParis *.* Por mim vivia la para sempre na casa da Belle rodeada de livros hehe :) é dawueles anos que nao queremos que terminem mas mantenho a esperança que se acreditarmos e trabalharmos 2025 vai ser tao bom ou melhor ainda *.* Para 2025 quero continuar a tratar da Natureza e do Planeta com a ajuda do meu "litter-picker" (apanha lixo) nas minhas caminhadas :) Feliz Ano Novo 2025 *.*

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Fico feliz por 2024 ter sido generoso contigo, minha querida. Espero que 2025 lhe siga o exemplo ✨️🍀

      Eliminar

Enviar um comentário