queima das fitas do porto: van zee & slow j

Fotografias da minha autoria


«São noites a dar uma volta ao mundo»


O mês de maio traz a festa favorita de qualquer estudante (ou de grande parte, vá), a Queima das Fitas do Porto. Tenho ido todos os anos, desde que entrei para a faculdade, mas confesso que, desta vez, o meu estado de espírito não estava alinhado com o evento. Em 2023, fui no último sábado e, embora tenha adorado o momento (muito pela companhia), a verdade é que senti que já não era bem o meu lugar. Se o Queimódromo falasse, contaria muitas histórias peculiares, mas as caras começam a ser menos conhecidas. Ficam as memórias, mas já é diferente o que nos leva a voltar.

A saudade também nos faz falta, como canta o Dillaz. E acho que prefiro continuar a sentir saudades daquilo que aconchega o lado esquerdo do peito, do que insistir por não saber largar a mão, quando for a hora. Era neste comprimento de onda que estava, até que começaram a apresentar os artistas desta edição. Escolhas tiveram de ser feitas, porque com o passar dos anos surgem outras responsabilidades, mas, ao ver um dos nomes, compreendi que, se calhar, também ainda não era a altura da despedida.


Fomos no domingo (5/5), muito por culpa do Slow J, que é, sem qualquer dúvida, um dos artistas que mais admiro. Mas, antes, assistimos ao concerto do grande Van Zee.

Nunca os tinha visto ao vivo, portanto, estava entusiasmada e expectante. Do Zee, esperava uma atuação mais enérgica; do Slow, esperava uma presença mais intimista. Em ambos os casos, foi notório que a narrativa do concerto foi construída ao detalhe e que, se pensar nisso, até encontram uma forma de se complementarem. O Van Zee começa a conquistar o seu lugar e sinto que, durante o concerto, houve mesmo uma noção de espetáculo, houve a preocupação de, sem esquecer a música, proporcionar um momento de entretenimento, que levasse o público a navegar no seu mar. Na atuação do Slow J, pelos vídeos que vi de outros eventos, sinto que ele nos convidou a entrar em casa, de uma forma muito descontraída e confortável. E fê-lo com uma especial atenção à banda, que teve várias ocasiões de destaque. Acho isso formidável, porque, de facto, ele não está sozinho em palco e é bom sentir que são todos incluídos.

Admito que não me recordo das circunstâncias em que descobri o Zee, mas rendi-me à sua voz de imediato - e é impressionante escutá-la ao vivo. Além disso, do.mar foi um dos álbuns que marcou o meu ano de 2023 (e continua nesse registo, em 2024), por isso, fiquei mesmo feliz por escutar vários dos seus temas. Acho que está um trabalho muito sólido e fiquei a gostar ainda mais de algumas músicas por tê-las ouvido ao vivo - não deixo de ficar fascinada por compreender que conseguem ganhar uma nova camada. E aproveito este parágrafo para partilhar o meu pico de excitação quando o Bispo subiu a palco para cantarem a Bênção (que partilham com Mizzy Miles). Estou viciada neste tema incrível, portanto, sem surpresa, foi um dos pontos altos da noite.


Quanto ao Slow J, sei que nenhuma palavra fará justiça ao artista brilhante que ele é, mas quero reforçar que as músicas dele parecem curar qualquer ferida, ainda que toquem em temas tão urgentes; temas que expõem as fragilidades do ser humano e tudo aquilo que precisamos de melhorar enquanto sociedade. Ademais, ele sente tanto as palavras que canta, que é impossível isso não passar para quem o ouve/acompanha. A própria linguagem corporal é de quem procura abraçar-nos, ainda que pareça muito centrado na sua bolha. Houve vários versos que não fui capaz de reproduzir, porque não tenho qualquer destreza vocal, mas dei por mim a admirar só a sua presença.

O reportório não incluiu apenas Afro Fado - que, para mim, é um dos álbuns mais inacreditáveis dos últimos temas - e foi bom fazer esta travessia por canções mais antigas. A forma como as interligou resultou na perfeição, evidenciando o quanto é um músico camaleónico, versátil, porém irreconhecível na sua identidade.

Foram dois concertos distintos, mas creio que as atuações encaixaram muito bem e é por isso que acabo por estabelecer algumas pontes entre ambos. E se houve algo que também guardei deles os dois foi os sorrisos em palco e o ar de quem faz o que gosta. Vai soar a lugar comum, mas eles nasceram para isto e foi bom perceber que, ali, vibraram em cada segundo. E que nós, no recinto, fomos inebriados por esta entrega.


Sem conversas que quebrassem o ritmo, interpelaram o público nos momentos certos, o que fez com que a partilha fosse mais bonita e que estivéssemos sincronizados no mesmo dialeto. Voltei a casa de coração cheio e a desejar vê-los novamente. Se foi a despedida? Não asseguro. Mas, caso tenha sido, fechei este ciclo da melhor maneira.

Comentários

  1. É sempre especial vermos aos vivo os artistas que admiramos. *.*

    Já ando com saudades de um bom concerto.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Sinto que é das melhores coisas que temos na vida!
      Espero que venha algum para breve, minha querida

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  2. Confesso que nunca tinha ouvido falar do Zee.
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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    1. É um artista que está a conquistar cada vez mais espaço :)

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  3. Existem concertos que nos marcam.. entendo bem o que queres dizer!

    Bjxxx
    Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

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  4. Tenho grandes memorias da Queima *.* Gostei muito de ver Deolinda e Blasted Mechanism ao vivo na companhia do meu Rui :)

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  5. Andreia muito legal um concerto desse é pra guardar pra sempre bjs.

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