ver no escuro, cláudia r. sampaio

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Linguagem Explícita


Uma das vozes poéticas que faço questão de descobrir melhor é a da Cláudia R. Sampaio. Por esse motivo, aproveitando o dia mundial da Poesia e a campanha promocional que a Tinta da China fez para a data, adquiri mais um exemplar.


o que arde e o que cura

Ver no Escuro parte desta ideia: «o que arde também cura». E, embora não seja uma obra extensa, parece abraçar o mundo inteiro. Sobretudo, aquele que nos habita.

Os vícios, as falhas, os defeitos parecem ter um destaque muito mais evidente do que as virtudes do ser humano e é neste plano que a poetisa vai explorando as suas teorias, os tiques que preservamos, as manias que, podendo ser diferentes de pessoa para pessoa, não deixam de ser uma parte significativa da nossa identidade. Esta constatação não implica, forçosamente, uma consequência negativa, mas também é facto que alguns desses comportamentos podem prejudicar a panorâmica. Além disso, transitando entre a fatalidade e o sentimentalismo, vai abrindo novas camadas.

Estou mesmo rendida aos poemas da Cláudia R. Sampaio, porque nos desassossegam, porque nos impulsionam a olhar para o que nos rodeia e a refletir sobre aquilo que nos faz sentir vivos e sobre o que é isto de vivermos. O primeiro poema é uma janela aberta para o que virá depois, porque nos faz pensar sobre a tal ideia de arder, de renascer, de nos transformarmos, ao mesmo tempo que nos mostra que, independentemente do que fizermos, terminaremos todos da mesma maneira.

«por isso lembra-te,
não faças nada que não te caiba
proporcionalmente em corpo e espírito
e sempre que pisares o passado
limpa os pés»

Com jogos semânticos e um tom interventivo, por vezes maternal, também me deixou a pensar na quantidade de vezes que estamos disponíveis para o outro, mesmo que o esqueça; na quantidade de coisas que fazemos, mesmo que o outro não note, não tenha essa noção. Os temas não se esgotam aqui, mas é curiosa esta ponte que se cria e que, em simultâneo, coloca uma holofote na distância que pode ser demasiado grande.

No final, mesmo que nos desorientemos, acabaremos a ver no escuro - como não?


🎧 Música para acompanhar: Carro, Bárbara Bandeira & Dillaz

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