e então, lembro-me, catarina costa

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Amnésia, Referência a Pensamentos Suicidas


A Catarina Costa foi uma das autoras que escolhi para ler no Alma Lusitana, em 2023. Embora não tenha sido arrebatada pelo Periferia, porque houve aspetos que não funcionaram muito bem comigo, fiquei impressionada com a escrita, razão pela qual queria voltar a lê-la. Deste modo, fui descobrir o seu livro mais recente.


entender quem somos

E Então, Lembro-me começa de uma forma intrigante: Laila, a protagonista, acorda numa cama de hospital, de «uma cidade sitiada», amnésica e sem ovários. Assim que acorda, é integrada numa casa onde existem mais pessoas como ela. A servirem de «mão-de-obra num complexo fabril», procuram recuperar o que lhes falta.

A partilha de recordações funciona não só para perceberem quem são, mas também para entenderem a dinâmica da Irislândia (o local da ação). Portanto, as memórias são analisadas criteriosamente: para serem relevantes para a sociedade e para os ajudar a traçar uma linha temporal lógica, unindo as pontas soltas.

O enredo vai, então, oscilando entre a realidade e a imaginação, entre a lucidez e a paranoia, para que se chegue a um consenso - ou, pelo menos, para que exista sossego. Através da personagem principal, percebemos que a desconfiança e o desnorte são transversais, e que tentam transformar esta nova condição num recomeço.

«- Às vezes lembramo-nos de uma coisa que põe em causa tudo o resto. Mas não nos é permitido esquecê-la de novo»

Nenhum dos envolvidos sabe, aparentemente, se está a ser punido por algo do seu passado, mas são essas ruínas turvas que pretende recuperar. E esta postura corrobora o quanto as memórias são uma fonte de identidade - individual e coletiva. Quando nos faltam, a nossa história fragmenta-se e sentimo-nos perdidos, como se deixássemos de pertencer, como se perdêssemos raízes. Sinto que a autora abordou esta questão com mestria.

Outro aspeto que achei interessante foi o modo como nos transportou, durante todo o tempo, para os pensamentos de Laila, descortinando cada camada, mas deixando a porta aberta para sermos surpreendidos. Porque há inúmeras áreas cinzentas que não conseguimos decifrar. Ademais, as descrições são bastante visuais e verosímeis, fazendo-nos acreditar que tudo aquilo poderia estar a acontecer à nossa frente.

Algumas ideias/passagens tornam-se um pouco repetitivas, no entanto, E Então, Lembro-me vale pelas reflexões que potencia. Num universo em que ninguém sabe bem quem é e de onde veio, será que há recordações que deveriam permanecer esquecidas?


🎧 Música para acompanhar: Autumnus, Lemos

📖 Outros livros lidos: Periferia


Disponibilidade: Wook | Bertrand

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

4 comments

  1. Que narrativa intrigante. Fiquei mesmo curiosa.

    Obrigada pela partilha.

    Beijinho grande, minha querida! 😘

    ResponderEliminar
  2. Fiquei bastante curiosa com esta sugestão *.*

    ResponderEliminar