supergigante, ana pessoa

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Luto


A narrativa do segundo livro da Ana Pessoa inverte-se e, desta vez, começamos pelo fim. Afinal, de acordo com o protagonista, «o fim é o princípio de todas as coisas».


18 vezes maior do que o sol

Supergigante é a história de Edgar, um jovem de 16 anos, mais conhecido por Rígel, no momento em que compreende que o dia mais triste da sua vida também será o mais feliz. Numa travessia entre o passado e o presente, entre a culpa e o êxtase, vêmo-lo a lidar, física e emocionalmente, com a morte do avô e com a magia do primeiro beijo.

O ritmo da narrativa vai oscilando, fazendo-nos sentir a urgência de chegar a algum lado e a necessidade de abrandar, como se recuperássemos o fôlego. Isto porque o adolescente está sempre a correr, só não sei se essa condição é uma estratégia para fugir ou para se encontrar. Seja como for, corre e nós corremos com ele, procurando gerir inseguranças, medos, trivialidades e a imensidão do mundo. Além disso, é através da sua dualidade de sentimentos que o percebemos a organizar pensamentos.

«Mas por acaso lembro-me perfeitamente e se calhar até o sei de cor. Certas coisas ficam a repetir-se na cabeça para sempre»

A noção de movimento é, portanto, bastante notória. E não só na escrita da autora, que mantém um discurso constante, cheio de divagações, para nos fazer sentir tudo o que vai na cabeça do protagonista, mas também nas ilustrações fabulosas do Bernardo Carvalho, cujas cores, sombras e traços nos inquietam em igual medida. E, sem querer revelar muito, há um pormenor encantador no canto inferior das páginas. A simbiose entre as duas linguagens transporta-nos para esta correria - que não é só física.

Supergigante recupera o caos da adolescência, os momentos de maior vulnerabilidade, «a dor que nos estraga por dentro», a perceção do que é importante e os pequenos rasgos de esperança. Há muitas perdas nestas páginas, mas também há amor. E há uma realidade que me parece transversal durante o processo de luto e de reinvenção.

É uma obra de uma enorme sensibilidade e a metáfora do fim que é o princípio de todas as coisas floresce a cada passada. Num universo em que coabita a raiva, a melancolia e a beleza dos pequenos gestos, vemos um protagonista a descobrir-se e, inevitavelmente, ainda que possamos já não partilhar a mesma faixa etária, descobrimo-nos também. Os livros da Ana Pessoa têm tido esse efeito em mim.


🎧 Música para acompanhar: Nuvem, Carolina Deslandes



Disponibilidade: Wook | Bertrand

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

Comentários

  1. Já quero ler!

    Fiquei deveras curiosa com a narrativa.

    Beijinho grande, minha querida!

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  2. MARAVILHA!!!
    Como vc sabe sou seu antigo seguidor.
    Você pensava que sabia tudo sobre o amor entre um homem e uma mulher .Fala sério!!! Enganou-se e a verdade está neste texto do nosso blog HUMOR EM TEXTO sob o singelo titulo: CASAL PAULISTA ENLOUQUECE SEU TERAPEUTA! Ela de Itaquaquecetuba e ele de Tatuapé.Sei que já leu dezenas de livros sobre a matéria, pesquisou no Google e mais recentemente no chatGPT, pensa que domina essa coisa do relacionamento como ninguém!Tudo bem, mas ao ler a matéria do HUMOR EM TEXTO desta semana talvez mude de idéia.
    Combinado, estou esperando!

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  3. Não conhecia mas adorei a foto 😘

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