livros de autores portugueses que quero reler

Fotografia da minha autoria



«Reler um bom livro é como deslumbrar várias vezes uma bela paisagem»


É provável que já o tenha repetido, mas vou só reforçá-lo novamente: sou sempre a favor de regressar onde fui feliz. E isso aplica-se não só a lugares, mas também a livros. Porque adoro revisitar narrativas que me marcaram e, assim, ter a possibilidade de descobrir novas camadas. Acredito mesmo que nenhuma história fica completa em nós quando a terminamos: se um dia lá voltarmos, acabaremos por abrir outras portas.

Neste belo mês de maio, que nos traz o dia mundial da língua portuguesa (5/5) e o dia do autor português (22/5), decidi combinar estas vertentes e reunir cinco exemplares de autores nacionais que gostaria de reler.


 como é linda a puta da vida, miguel esteves cardoso
Miguel Esteves Cardoso é um dos autores que mais me inspira. Porque a sua escrita é pertinente e mordaz. Foge do politicamente correto. E sabe fazê-lo com inteligência e brilhantismo. No Entrelinhas #27, mencionei que li muitas das suas crónicas. O que fez com que a minha vontade de conhecer as suas obras fosse cada vez maior. E a minha primeira escolha foi, precisamente, o título que mencionei anteriormente. E aquilo que me cativou foi o seu lado mais familiar, intimista, que nos fala ao coração. O sarcasmo não é tão evidente. E há uma certa melancolia. Mas o lado tão próprio e genuíno de MEC continua a estar bem presente.

 eliete, dulce maria cardoso (opinião completa)
Eliete, cuja protagonista empresta o nome ao título, é a história de uma mulher de meia idade, que se movimenta num quotidiano pacato, trivial - pelo menos, assim se assemelha. No entanto, tal como uma brisa subtil, que não incomoda, há um vendaval que se vai aproximando. E mesmo que pouco aponte nesse sentido, ficamos presos aos seus contornos, a esse prenuncio de fatalidade prestes a mudar o rumo da personagem.

 os livros que devoraram o meu pai, afonso cruz (opinião completa)
É uma viagem bastante emocional. É um estreitar de laços. E um misto de sensações. Nesta narrativa, terna e maravilhosa, há uma passagem de testemunho, de memórias, de património literário. Além disso, os planos de ação fundem-se no mesmo nível de existência, revelando uma simbiose entre a realidade e a ficção, o que não só funciona como um refúgio para os problemas do quotidiano, como também nos permite compreender que, conectados a algo, é sempre complicado delinear a fronteira que nos ajuda a separar a razão dos sentimentos. Porque nós não somos um só compartimento, mas movemo-nos muito em função do que nos bate no peito.

 vem à quinta-feira, filipa leal (opinião completa)
A escrita da autora é tão relacional, que eu transpus os cenários descritos e adequei-os à minha realidade, sentindo na pele os desassossegos, a nostalgia e as projeções. E é curioso como, sem a conhecer, paira a sensação de estar envolvida numa conversa de café, a escutar e a partilhar experiências. Sendo transparente acerca dos seus dramas pessoais, há uma abordagem intimista que nos faz querer permanecer por perto.

 as falsas memórias de manoel luz, marlene ferraz (opinião completa)
Alterna entre dois planos - flores e livros -, permanecendo interligados por um tom poético que marca toda a narrativa. Além disso, faz uma clara alusão à história de Portugal, numa transição do Estado Novo para a Liberdade. E é neste enlaço que somos confrontados com segredos, ilusões, dicotomias, silêncios e dúvidas, tão próprios de quem vai construindo a sua identidade e gerindo o turbilhão de emoções que florescem num peito inquieto e desejoso de ser grande. Só que o nosso discernimento nem sempre privilegia a postura mais correta, porque nos deslumbramos e criamos ideais frágeis, que nos fazem ruir.

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