do outro lado, mafalda santos

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Pandemia


É curioso como reparamos em algo e, depois, parece que nos cruzamos com ele em todas as ocasiões possíveis. Foi mais ou menos isso que me aconteceu com os livros da Mafalda Santos, porque fiquei interessada no segundo e, de repente, via-o em todo o lado, sempre com uma nota excelente sobre a sua escrita. Por essa razão, enquanto planeava a lista de autores do alma lusitana, senti que seria um ótimo nome para incluir. E estava desejosa de chegar ao mês em que descobriria a(s) sua(s) narrativa(s).


onde o quotidiano e o imaginário se cruzam

Do Outro Lado é uma distopia e uma história de amor peculiar. É sobre Sara e Gabriel, mas também sobre vírus, mentiras e sobre a forma como a banalidade do quotidiano se entrelaça ao inimaginável. Na contracapa, a pergunta é clara: e se não existisse apenas uma realidade? E nós somos embalados na urgência de encontrar a resposta.

Fiquei mesmo rendida à escrita da autora, porque é fluída, sem floreados e com uma forte identidade cinematográfica. Aliás, enquanto avançava na leitura, mesmo sem conhecer estas personagens e os locais por onde se movimentam, consegui criar uma imagem muito nítida do sucedido. E acredito que seria uma história que facilmente poderia ser adaptada ao ecrã, como filme ou como série. Por outro lado, fiquei rendida à construção deste mundo distópico, que conhecemos alternadamente através da realidade de cada protagonista, e à ideia de que tudo pode desaparecer num ápice.

Feliz ou infelizmente, não sinto que possa desenvolver muito sobre o enredo, com o perigo de revelar em demasia. Creio, isso sim, que é daqueles livros para os quais devemos partir sem grande bagagem e de peito aberto, para desfrutarmos da viagem. Sendo ficção científica, há termos/teorias com os quais podemos não estar bem familiarizados, mas a experiência não fica comprometida por isso. A maneira como a Mafalda Santos combinou vários elementos é bastante polida, atual e próxima, portanto, sem se perder em análises profundas, deixa-nos curiosos com os temas.

«- Tem mesmo a certeza de que é isso que quer? Há certas coisas que mais vale deixar no passado. Desenterrar um fantasma pode revelar-se muito mais doloroso do que fazer o luto, garanto-lhe»

Confesso, ainda assim, que não fiquei tão investida na história de amor que despoleta a ação. Embora compreenda que possa ser uma peça fulcral para que se cheguem a determinadas camadas, achei mais entusiasmante acompanhar as ligações paralelas de Sara e de Gabriel, e a forma como toda esta situação teve um peso nas mesmas.

A possibilidade de um multiverso confronta-nos com uma série de valores morais e, para mim, isso foi mesmo um dos pontos chave da obra, não só pelas portas que deixa em aberto, mas também por nos fazer refletir sobre o comportamento humano, sobre ética e sobre aquilo que estamos dispostos a fazer por um suposto bem maior - definido por quem? Não obstante, gostava que alguns tópicos fossem mais explorados e que o desfecho fosse menos célere, para que não ficassem perguntas em suspenso.

Do Outro Lado intriga e termina de uma forma surpreendente. Leria uma continuação.


🎧 Música para acompanhar: Metamorphosis: One, Philip Glass


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

Comentários

  1. Confesso que não conhecia! :)

    www.amarcadamarta.pt

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  2. Ouvi falar muito deste livro no Instagram.

    E deixaste-me curiosa para conhecer o trabalho da autora. Obrigada pela partilha *.*

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Embora tenha apontado algumas fragilidades (para mim, claro), acho que merece todo o destaque que está a ter e espero que continue a chegar a mais pessoas!
      Também ouço maravilhas do mais recente, Enquanto o Fim não Vem

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  3. Fiquei bastante curiosa com esta sinopse *.*

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