não me esqueças, alix garin
Fotografia da minha autoria |
Gatilhos: Alzheimer, Relações Disfuncionais
A memória fascina-me: por ser um conceito tão identificável e, em simultâneo, tão abstrato, tão intocável. Temos uma ideia daquilo que é e, todavia, parece que pode ser tanta coisa diferente. Há memórias que guardo com muito carinho e, depois, tenho a tendência para brincar com o facto de ter uma memória péssima. Mas, em momentos mais reflexivos, uma das questões que me preocupa é a sua perda. Não tanto de um ponto de vista pessoal, mas mais no sentido de compreender que os meus se começam a fragmentar. Como é que se gere quando as nossas pessoas já não sabem bem quem somos?
a perda e tudo o que nos fica
Não Me Esqueças, que me comoveu logo no título e ainda mais quando percebi a sua pluralidade, alinhou-me com a travessia emotiva de Clémence, cuja avó sofre da doença de Alzheimer. Ao ver o seu quotidiano no lar, decide tirá-la de lá e levá-la «numa viagem em busca da hipotética casa da sua infância». Será isto uma fuga, um reencontro ou uma despedida? Ou poderá a decisão de Clémence albergar um pouco de cada uma dessas realidades?
A sensação de impotência é gritante, mas também o é o amor e a urgência de proporcionar tempo de qualidade a Marie-Louise. Mesmo que ela nunca se venha a lembrar, a protagonista criou novas recordações com a avó e serão essas a perdurar, até porque, nesta viagem, ficará com uma maior consciência de si, das suas falhas, do impacto daquilo que fica por dizer. É que «tarde demais chega mais depressa do que imaginamos» e sinto que tentará quebrar essa tendência.
«Talvez seja por isso que amo a arte e o teatro. Para ter a oportunidade de falar do que é íntimo, a coberto da ficção... Aprender mais sobre as próprias falhas, através das falhas dos outros. Saber que não estamos sós. E também que não somos únicos. Mas muita gente sabe isso... Mesmo quando fazemos de conta que estamos a contar a história dos outros, falamos é um pouco de nós, não é?»
A vida passa a ser outra coisa, quando a doença do Alzheimer bate à porta. Mas, como referiu Ana Bárbara Pedrosa, cabe a Clémence lembrar: não só porque ela sabe quem foi a avó, mas também porque ainda a tenta resgatar da nuvem que passou a habitar a sua cabeça. «Cada momento vivido é um adeus lento ao que se foi» e, embora duro, não deixa de ser maravilhoso ver como os papéis se inverteram, como é a neta que, agora, «guia a avó pela mão», ao mesmo tempo que embarca num processo de autodescoberta.
Esta novela gráfica, de Alix Garin, faz-nos sentir cada emoção, cada etapa, capa decisão. Foi, sem qualquer dúvida, uma das mais bonitas que já li: pelas temáticas que aborda, por nos consciencializar para uma batalha tão silenciosa e desgastante, pela sensibilidade e pelo humor que também floresce nas peripécias entre as duas. Não me esquecerei.
🎧 Música para acompanhar: J'ai La Mémoire Qui Flanche, Jeanne Moreau
Sinto que vou chorar muito ao ler este livro por me lembrar tanto da minha mae nos ultimos anos de vida dela... o que eu mais pedia era para ela nao se esquecer de nos por isso lhe ligava quase todos os dias. Beijinhos, minha querida *.*
ResponderEliminarConfirmo, minha querida, é bem provável que sim! Houve várias partes em que me comovi, mas também nos faz rir pelas peripécias entre as duas.
EliminarEstar presente é mesmo importante 💛🫂
Que tema tão importante!
ResponderEliminarSugestão guardada para ler e reler.
Beijinho grande, minha querida!
Acho que nos empatiza bastante para o tema 😍
EliminarAdorei este livro!
ResponderEliminarQue preciosidade 🥺
EliminarMais uma sugestão a ter em conta!
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Recomendo imenso!
EliminarJá me cruzei algumas vezes com este livro, mas ainda não me senti no mood para o ler
ResponderEliminarPercebo, é mesmo preciso estar no estado de espírito certo, mas foi dos mais bonitos que já li
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