a gorda, isabela figueiredo

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Bullying, Morte/Luto, Relações Tóxicas; Linguagem Gráfica e Explícita


A capa deste livro cruzou-se comigo algumas vezes e foi aumentando a curiosidade em relação à narrativa. Acabou por ser uma das minhas últimas compras literárias do ano passado e este mês, como apenas li autores portugueses, resolvi aventurar-me.


seremos só o nosso peso?

A Gorda conta-nos a história de Maria Luísa, que regressa de Moçambique e, primeiro, fica num colégio interno (só para raparigas) e, depois, vai viver com a tia. Durante a adolescência, existem várias questões a apoquentá-la, o que é natural, mas há uma que a inquieta mais: o peso e o impacto que o mesmo tem nas suas relações.

Enquanto pessoa que sempre se debateu com a imagem que via ao espelho, consigo relacionar-me com a importância que esta característica assume no nosso quotidiano. Honestamente, acho que nunca deixei de fazer determinadas coisas porque sou gorda, nem vivi situações sufocantes de bullying, mas estou a par do quanto o peso a mais corrói a auto-estima, do quanto nos inibe e nos faz sentir que estamos sempre a ser julgados pelas nossas decisões (sobretudo, alimentares). O processo de aceitação é longo, é moroso e, muitas vezes, parece que chegamos a lugar nenhum. Aliás, há momentos em que nos sentimos sempre a perder. Portanto, estava preparada para me rever nas frustrações da protagonista e para as acolher. Mas não foi isso que aconteceu.

Entrei neste lar, até porque os capítulos dizem respeito a cada uma das divisões da casa de Almada, convicta de que encontraria em Maria Luísa uma voz para coisas que também me incomodam, no entanto, fiquei com a sensação de que o peso não era uma questão assim tão central. Deambulando entre o passado e o presente, vai recuperando memórias que a marcaram e percebe-se que houve episódios em que o facto de ser gorda foi determinante, quer pela vergonha, quer pela forma como os outros a viam e a incluíam ou não nas suas vidas. Não obstante, houve muitas passagens em que esse conflito nem sequer teve expressão. Se não soubesse que era suposto existir este debate no livro, dificilmente pensaria que era algo que a limitava.

«Os gestos habituais que conhecemos de cor ao acordarmos de manhã, fazemo-los porque estamos juntos ou porque nos pertencem?»

Gostei muito da estrutura da obra e da escrita da autora, mas não me consegui relacionar tanto com a personagem principal, porque senti falta de uma coerência maior em relação ao problema que a aflige. Parte de mim, queria que o peso não fosse uma problemática, porque era sinal que víamos as pessoas para além dos números e do tamanho da roupa. Todavia, sendo uma característica tão presente, preferia que existisse esse equilíbrio, para que também fôssemos capazes de a sentir na pele.

A Gorda, ainda assim, não deixou de ser uma boa experiência de leitura, porque teve pontos interessantes, e hei-de aventurar-me em mais obras da autora. Talvez pelo regresso de Moçambique, fez-me lembrar d’ O Retorno, de Dulce Maria Cardoso.


🎧 Música para acompanhar: Amanhã é Sempre Longe Demais, Rádio Macau


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

8 Comments

  1. Mais uma sugestão que vou guardar!
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  2. Mais uma excelente sugestao com um tema que deve ser sempre lembrado e falado *.* Muito obrigada pela partilha, minha querida :)

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    1. Só gostava que tivesse sido explorado com maior coerência. Ainda assim, achei uma leitura muito pertinente :)

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  3. Um livro incrível pra ler mas uma indicação pra anotar aqui bjs Andreia.

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