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Fotografia da minha autoria |
Gatilhos: Saúde Mental, Linguagem Gráfica e Explícita
O título deste livro intrigou-me, assim que tive conhecimento do seu lançamento, mas acabei por ir priorizando outros. Quando comecei a pensar na edição deste ano do Alma Lusitana, fez-me todo o sentido incluir o nome da Rita Cruz e, finalmente, lê-lo.
estar dentro da escuridão
A Menina Invisível, dividido em duas partes, combina diferentes géneros literários. Transportando-nos para um contexto histórico conturbado, com Portugal a passar da Monarquia para a República, Alice acorda numa casa aristocrática «sem memória da violência que a trouxe ali e sem saber que foi salva» pelo filho do conde, o Pedrinho. A partir desse momento, crescerão cúmplices, não só pela circunstância que cruzou os seus caminhos, mas também porque ela tem um segredo: consegue torna-se invisível.
O nome da obra afigura-se autoexplicativo e, nesse seguimento, o início deixa-nos curiosos, até porque não conhecemos os contornos, nem sabemos de que forma é que se construirá essa invisibilidade. Ademais, ao recebermos estímulos distintos e informações que aparentam ser independentes, levantam-se duas dúvidas: por um lado, em relação à maneira como a autora as interligará e, por outro, se será suposto existirem elos transversais. Poderá esta escolha ser uma estratégia da autora para nos confundir? Achei isso interessante, mas admito que demorei a relacionar-me com a narrativa, por combinar elementos que não aprecio tanto: fantasia e sobrenatural.
A mistura entre o real e o paranormal só não condicionou mais a experiência de leitura, porque senti que o mistério e toda a carga dramática tiveram um destaque maior, mantendo-me presa ao desenrolar da ação. E é mesmo fascinante perceber como se constroem relações com base num segredo, como é que duas crianças se aproximam e preservam um vínculo de lealdade quase cego, porque não se perdem em pormenores. Existe uma pureza que as edifica e que as mantém perto, embora chegue a uma fase das suas vidas em que, naturalmente, sejam mais as perguntas do que as certezas.
O nome da obra afigura-se autoexplicativo e, nesse seguimento, o início deixa-nos curiosos, até porque não conhecemos os contornos, nem sabemos de que forma é que se construirá essa invisibilidade. Ademais, ao recebermos estímulos distintos e informações que aparentam ser independentes, levantam-se duas dúvidas: por um lado, em relação à maneira como a autora as interligará e, por outro, se será suposto existirem elos transversais. Poderá esta escolha ser uma estratégia da autora para nos confundir? Achei isso interessante, mas admito que demorei a relacionar-me com a narrativa, por combinar elementos que não aprecio tanto: fantasia e sobrenatural.
A mistura entre o real e o paranormal só não condicionou mais a experiência de leitura, porque senti que o mistério e toda a carga dramática tiveram um destaque maior, mantendo-me presa ao desenrolar da ação. E é mesmo fascinante perceber como se constroem relações com base num segredo, como é que duas crianças se aproximam e preservam um vínculo de lealdade quase cego, porque não se perdem em pormenores. Existe uma pureza que as edifica e que as mantém perto, embora chegue a uma fase das suas vidas em que, naturalmente, sejam mais as perguntas do que as certezas.
«Na confirmação de que o tempo passa e não passa. Dois adultos com jovens interrompidos dentro. Sete anos depois, e outra vez sentados nas escadas molhadas, outra vez em silêncio a precisar de palavras, outra vez o mesmo vazio a estalar por dentro»
A primeira parte deixa-nos num sufoco permanente, mas a segunda não nos liberta de toda a melancolia e tempestade que sentimos habitar. Aliás, na sinopse há uma frase que espelha bem a travessia desta obra: «cada um descobre até onde a escuridão invisível do corpo os pode levar» e nós, indo à boleia, tentamos unir as pontas soltas e compreender até onde é que os protagonistas chegarão, quer para construírem o futuro, quer para vingarem certos acontecimentos do passado. Nem sempre será claro o desfecho. Se calhar, até começamos a compreender, tal como Alice começou a compreender a sua condição, mas preferimos procurar outras hipóteses, porque aquela não pode ser a correta. Mas, mais importante do que tudo isso, fica claro que estas personagens - à semelhança de todos nós - têm sonhos e podem ir da ternura à crueldade num ápice, porque basta o gatilho certo para caírem num abismo.
A componente histórica, o contraste entre uma escrita mais delicada e descrições de extrema violência, o jogo de sombras e de luzes e a própria oposição entre a inocência da infância e a sua perda na idade adulta são elementos que nos transportam para um enredo duro, opressivo, onde são evidentes as desigualdades sociais, a falta de esperança e o papel da mulher na sociedade. Mesmo que, por vezes, nos sintamos perdidos, sem identificarmos o objetivo, nada neste livro é mencionado por acaso.
A Menina Invisível não me arrebatou como esperava, mas achei interessante a maneira como a autora abordou a invisibilidade, mostrando-nos todas as suas camadas.
🎧 Música para acompanhar: Grito, Iolanda
A componente histórica, o contraste entre uma escrita mais delicada e descrições de extrema violência, o jogo de sombras e de luzes e a própria oposição entre a inocência da infância e a sua perda na idade adulta são elementos que nos transportam para um enredo duro, opressivo, onde são evidentes as desigualdades sociais, a falta de esperança e o papel da mulher na sociedade. Mesmo que, por vezes, nos sintamos perdidos, sem identificarmos o objetivo, nada neste livro é mencionado por acaso.
A Menina Invisível não me arrebatou como esperava, mas achei interessante a maneira como a autora abordou a invisibilidade, mostrando-nos todas as suas camadas.
🎧 Música para acompanhar: Grito, Iolanda
10 Comments
Mais uma sugestão a ter em conta!
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Boas leituras, Isa!
EliminarComo sempre uma boa indicação de livro, Andreia bom início de semana bjs.
ResponderEliminarMuito obrigada, Lucimar! Boa semana
EliminarNão sou a maior fã do género histórico. Ainda assim vou levar a sugestão para ler mais tarde.
ResponderEliminarBeijinho grande, minha querida 😘
Também não é o género onde me aventuro mais, precisamente pela mesma razão. Mas este livro como é uma espécie de híbrido acho que ajuda e resulta melhor
EliminarEste tema é um dos meus preferidos *.* Muito obrigada pela sugestao, minha querida :) Ja sabes que vou levar ;)
ResponderEliminarEspero que te reserve uma excelente leitura, minha querida 💛
EliminarNão conhecia, mas parece interessante 🤗
ResponderEliminarNão sou a pessoa mais entusiasta de fantasia e paranormal, mas gostei muito da escrita e da forma como a autora interligou os assuntos
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