deriva, madalena sá fernandes

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Gatilhos: A capacidade de nos fazer sentir tantas coisas


A sensação de navegar sem rumo pode ter uma conotação negativa, mas também é capaz de ser estimulante: pela versatilidade, pela oportunidade de explorar diferentes cenários, pelos fragmentos que se agregam, porque o caminho não é de sentido único. E nós vamos percebendo essa dinâmica no novo livro da Madalena Sá Fernandes.


um livro puzzle

Deriva é um álbum de memórias, que tão depressa nos leva a revisitar férias em família, como nos faz perder na espiral de pensamentos absurdos que nos assaltam antes de adormecermos. É uma janela aberta para vermos o mar, para reforçarmos a pertinência da terapia, para aprendermos com a solidão e para nos reencontrarmos. É a certeza de que há sempre espaço para mais um tema, uma vez que somos feitos de matérias e interesses infinitos, que se moldam às diferentes fases da nossa vida.

Gregório Duvivier, no Prefácio, realçou algo que me fascina em igual medida: a importância que a autora atribui a coisas que, aparentemente, não são assim tão relevantes. Porque acredito que a atenção que damos àqueles pequenos nadas diz muito sobre nós. Isso, ou estou só a tentar encontrar uma justificação para o facto de também me perder «em coisas sem importância alguma». E se houve algo que fiz, durante a leitura, foi perder-me nas suas palavras, revendo-me em diversas situações.

Já tinha gostado da escrita da Madalena Sá Fernandes quando li Leme, porque há um traço de proximidade que nos interliga ao que é descrito. No Deriva sinto que essa característica é ainda mais evidente, atendendo a que parte de recordações, de observações, de saudades, de implicâncias e de defeitos; parte de algo que é muito seu e que não tem qualquer pudor de partilhar com o leitor. Ademais, Deriva mostra-nos outra faceta da sua escrita: o humor, porque ela escreve mesmo com imensa graça.

«Deu-me uma das mais importantes e mais difíceis coisas que se pode dar a um filho: a liberdade. Principalmente, a liberdade para eu ser quem era»

É impressionante como as suas crónicas nos levam do riso às lágrimas com facilidade e de uma forma tão natural. Como nos validam, como exercitam a empatia e nos transmitem a sensação de nos estarmos a ver ao espelho, num reflexo transversal. Na lista de favoritas destaco Devia ir Mais a Tondela, Casem e Deixem os Outros em Paz, Confissões Irrelevantes, Os 73 Segredos de Mentes Milionárias Para Uma Vida Zen, Ler é Sexy, Umbiguidade e Inté - esta última desarmou-me e fez-me sucumbir na última frase.

Fechei o livro e fiquei a perguntar para onde vamos, já que andamos sempre à deriva. Mas hei-de regressar, até porque encontrei um lugar onde apaziguar as saudades.


🎧 Música para acompanhar: Tomara, Vinícius de Moraes, Marilia Medalha & Toquinho

📖 Outros livros lidos: Leme


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

Comentários

  1. Rendida às tuas sugestões *.*

    Mais um para a wishlist.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Se te apetecer um livro de crónicas, creio que este é ideal! A escrita da Madalena Sá Fernandes conquista sem esforço *-*

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  2. Conheço a autora de nome, mas não li nada dela ainda.

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