bispo no coliseu do porto

Fotografias da minha autoria


A música do Bispo foi entrando nas minhas playlists devagar e de um modo pontual. Já não sei se o conheci graças ao Aviola ou ao Lembra-te, mas foi o NÓS2 (feat Deezy) que ecoou mais tempo. Ainda assim, não era uma escolha recorrente, era, talvez, um reencontro que me fazia questionar sempre o motivo de não o escutar mais vezes. O ponto de viragem aconteceu com Essa Saia (feat Ivandro), no entanto, foi Monarquia (feat Diogo Piçarra) que estreitou os laços e me deixou mais atenta ao seu percurso.

Uma vez que não era um dos meus artistas-casa, confesso que marcar presença num dos seus concertos não era uma prioridade, mas até essa intenção foi mudando. E, no natal de 2024, fui surpreendida pela minha comadre, que me ofereceu um bilhete para o concerto no Coliseu do Porto. Tenho adorado a experiência de ir sozinha a eventos deste género e, por isso, estava confortável com o facto de ser outro momento assim, mas teve graça quando, ao conversar sobre a surpresa, percebi que era intenção da Sofia perguntar se queria ir. E fomos juntas ouvir os nossos temas favoritos ao vivo.

   

Estava curiosa com a produção, com o alinhamento e com os convidados que poderia trazer. Tentei calibrar as expectativas, porém, estava confiante que se transformasse num espetáculo bonito e, talvez, emocional, atendendo a que estava a pensar no impacto que teria para mim escutar a Aviola II numa sala esgotada e com várias letras na ponta da língua. Por falar nas letras, tenho de confessar a minha admiração pela quantidade de palavras que o Bispo consegue cantar por segundo, sem perder o fôlego, e, sobretudo, pela intensidade com que o faz. Sei que não tenho agilidade para o acompanhar, mas isso é irrelevante, porque a mensagem chega e tão depressa toca nas feridas todas, como também parece curar muitas coisas cá dentro. Por mais que tenhamos experiências de vida distintas, é a verdade das palavras que nos comove.

Adorei como, no decorrer do concerto, nos transportou para um espaço pessoal, para a intimidade do estúdio e da sala ou do quarto de sua casa. De repente, foi como se ele estivesse sozinho, a passar cá para fora o que lhe grita no peito, sem pensar naquilo que as pessoas poderão dizer. Achei mesmo generoso que nos convidasse a entrar nesse mundo e nos mostrasse um caminho com altos e baixos, uma estrada acidentada que, apesar de tudo, nunca o desvirtuou dos valores certos e dos seus maiores pilares.

   

Nesta travessia que compilou os seus primeiros temas e os mais recentes, não esteve sozinho em palco. Para além da banda, fez-se acompanhar pelo Diogo Piçarra, com quem cantou Agradecido e Monarquia (a última ainda serviu de ponte para um pedido de casamento), pelo Kappa Jota, com quem cantou Fim da Noite, pelo Julinho KDS, com quem cantou Contra Probabilidades, pelo Van Zee e pelo Mizzy Miles, com quem cantou uma das minhas músicas favoritas do ano passado (e de vida), Bênção. E ainda teve espaço para recordar a Bárbara Tinoco, com Planeta, e o Ivandro, com Essa Saia.

Foram quase duas horas e meia de concerto, do qual saí emocionalmente destruída, não só pelo poder das palavras cantadas, mas também pelo poder das palavras ditas. Sinto que o Bispo conseguiu o equilíbrio perfeito entre o espetáculo em si e as alturas de interação com o público, sempre de um modo natural, e por isso é que dei por mim lavada em lágrimas quando nos falou da importância que a avó tem na sua vida. Não sei que mania é esta dos rappers passarem a imagem de que são uns durões e fazerem-me acreditar que será um concerto tranquilo, mais revolucionário do que sentimental, para depois me tirarem o tapete por terem o coração ao pé da boca. Estou a brincar, naturalmente, mas a verdade é que não estava a contar emocionar-me tanto.


A escrita/a música pode ser um exercício criativo, no qual podemos libertar tudo o que nos inquieta ou criar cenários hipotéticos ou antagónicos à nossa realidade, mas as suas letras espelham muito daquilo que é a sua trajetória, portanto, parece-me óbvio que seja mais difícil ocultar emoções - nem acho que o propósito seja escondê-las. E, no caso do Bispo (mas não só), sinto que ainda acresce o facto de ele ser mesmo grato pelas pessoas que estão ao seu lado e pelo rumo que a sua vida tomou. Ademais, creio que ele é bastante feliz em palco e a compor, porque foi isso que eu senti ao ouvi-lo. Fui para o Coliseu do Porto com essa ideia e reforcei-a em cada pormenor do concerto.

Houve músicas que não fui capaz de cantar, houve outras que acompanhei com tudo de mim. Dancei, gritei muito e corroborei o privilégio que é assistir à ascensão de artistas tão talentosos, que nunca se esquecem de onde vêm. Sinto que o Bispo nos contou uma história de humildade e superação e, por esse motivo, está a colher todos os frutos disso. Espero que a vista seja bonita, porque continuarei aqui a vê-lo voar.

Comentários

  1. Deve ter sido um espectáculo incrível. É sempre um momento único vermos os nossos artistas favoritos em concerto.

    Dexo-te o convite para ouvires o dueto do Bispo com o João Pedro Pais, chama-se Re-Começo. Acho que vais gostar. Eu gostei imenso da junção de vozes.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Foi incrível, sem dúvida!
      Obrigada pela sugestão, minha querida. Um dueto improvável, mas gostei muito quando ouvi

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  2. Se algum dia lhe apetecer explorar a discografia dele, aconselho

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