teoria das catástrofes elementares, rita canas mendes
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Fotografia da minha autoria |
O livro da Rita Canas Mendes esteve quase a vir comigo da Feira do Livro do Porto, no ano passado, mas acabei por alinhar as minhas compras noutro sentido. A verdade é que estava curiosa, mas não completamente certa de que seria o momento ideal para o acrescentar à estante. Assim, alguns meses depois, aproveitando que estava disponível no catálogo da BiblioLED, achei que seria a desculpa ideal para o requisitar/descobrir.
uma manta de retalhos
Teoria das Catástrofes Elementares posiciona-nos entre os anos de 1990 e 2000, entre Lisboa e Cascais, para acompanharmos «a identidade, a memória, os traumas íntimos e geracionais de uma família portuguesa». Portanto, focando-se em pessoas comuns, com todas as nuances que as caracterizam, embarcamos numa viagem pouco linear.
A escrita conquistou-me de imediato e dei por mim a recordar algo que a Rita da Nova destacou acerca deste romance, e que fui confirmar para citar sem falhas, uma vez que a autora sabe «perfeitamente onde ser sarcástica, onde ser mais cuidadosa, onde ser mais bruta». Sem hesitação, foi um dos meus aspetos favoritos, porque não acho que seja assim tão simples conseguir esse equilíbrio e que ele soe sempre natural. E sinto que acaba por fazer a diferença no modo como nos relacionamos com as situações.
A obra tem uma estrutura muito própria, atendendo a que não seguimos uma história cronológica, tradicional, cujas pontas soltas se vão entrelaçando, e isso também me agradou. Aliás, a certo ponto, senti que estávamos a montar um puzzle de recordações, ora cómicas ora trágicas, a ter uma conversa com amigos, onde saltitamos entre temas sem reservas e amarras. Há a responsabilidade de os relatarmos com verdade, mas nada nos impede de não lhes darmos seguimento, porque abrimos portas paralelas. Por outro lado, embora tenha gostado muito desta dinâmica, admito que me deixou com um sentimento agridoce, porque queria que houvesse um fio condutor maior.
«Não há volta a dar. Por mais que queiramos esquecer o passado, ele não se esquece de nós»
Cada um dos episódios ajuda-nos a compor o quadro geral desta família e, inclusive, a estabelecer pontes com a nossa realidade, ao mesmo tempo que recupera traços da Guerra Colonial, da crise financeira, daquilo que é necessário esconder, no entanto, senti falta de compreender o verdadeiro impacto daquelas transformações a longo prazo, porque ninguém passa por tudo o que é descrito sem sentir que algo se quebra e/ou se regenera por dentro. No fundo, é como se nos deixasse a porta entreaberta, mas, admito, gostava que me convidasse a entrar, a sentar e a ficar mais tempo no sofá.
Teoria das Catástrofes Elementares centra-se em tudo aquilo que nos molda e que nem sempre é visível para quem está de fora (nem tem de ser). Embora não me tenha tirado o fôlego, acredito mesmo que é uma boa leitura e que nos permite refletir sobre «o que julgamos fixo», deixando-me com vontade de ler mais coisas da Rita Canas Mendes. Há aspetos que não controlamos, mas são estas variantes que sustentam a nossa vida.
notas literárias
- Gatilhos: Linguagem Gráfica e Explícita
- Lido entre: 11 e 13 de março
- Formato de leitura: Digital
- Género: Romance
- Pontos fortes: O equilíbrio entre os tons cómico, sarcástico e dramático, a escrita
- Banda sonora: Desfolhada, Simone de Oliveira | Circle Of Life, Elton John | Cachito, Nat King Cole | Born Of Frustration, James | Não Gosta, Bárbara Bandeira
Fiquei bastante curiosa com este livro.
ResponderEliminarVou guardar a sugestão. Obrigada pela partilha, minha querida!
Beijinho grande!
Lê-se muito bem!
EliminarBoas leituras, minha querida
Andreia é uma boa pedida de livro pra ler, bjs.
ResponderEliminarAcredito que sim, até porque a escrita da autora é excelente
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