os esquecidos de domingo, valérie perrin
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Fotografia da minha autoria |
A Breve Vida das Flores fez-me apaixonar pela escrita de Valérie Perrin e perceber que seria uma autora para manter por perto. Quando eu e a Sofia definimos a lista para o nosso desafio de leitura, foi sem qualquer reserva que aceitei o seu nome, por isso, em março, fomos à descoberta da sua obra de estreia.
dinâmicas familiares, segredos e humor
Os Esquecidos de Domingo narra-nos a história de Justine, uma mulher de 22 anos que vive com os avós e o primo Jules, porque os pais e os tios faleceram num acidente. Para além desta informação, sabemos que a protagonista trabalha nas Hortênsias, um lar de idosos, e que este trabalho preenche os seus dias, até porque adora perder-se nas memórias dos residentes. Não obstante, é a história de Hélène, com quem cria um vínculo muito bonito, que a arrebata.
O presente destas personagens cruza-se de uma forma natural e harmoniosa, e é através da amizade que nasce entre elas que viajamos até ao passado e vamos reconstruindo silêncios, atando pontas soltas e preenchendo os vazios que insistem em ecoar.
«Temos de ser rápidos a ouvir, pois o silêncio nunca anda longe»
Fiquei fascinada com Justine desde o começo, porque acho que tem uma voz muito credível e descomplicada, com a qual me identifiquei. Achei-a empática, mas também sarcástica nos momentos certos. É muito lúcida, mas também se deixa deslumbrar. Acima de tudo, pareceu-me que tem um forte sentido de cuidado, mas sem se anular: antes pelo contrário, sabe as circunstâncias em que é necessário aparecer e aquelas em que mais vale ficar recolhida. Creio que a construção desta personagem fez toda a diferença na maneira como me relacionei com a história.
Em simultâneo, creio que a autora fez um trabalho belíssimo na maneira como nos envolve nas dinâmicas familiares, nos sonhos que ficam suspensos, nos segredos que se revelam devagar, na noção de fragilidade e na certeza de que tudo pode desmoronar-se sem aviso. Aliás, é de uma quebra que nasce uma das passagens mais memoráveis desta obra. Volta e meia dou por mim a recordar-me do quanto o destino de duas pessoas podia ter sido tão diferente.
«Diz-me que é como se ouvisse a história de outra pessoa, que as minhas palavras são mais bonitas do que a sua vida. Como me estão sempre a dizer que quando um velho morre é uma biblioteca que arde, eu salvo algumas cinzas»
Queria escrever sobre vários acontecimentos sem filtro, mas estragaria a vossa experiência de leitura. Por esse motivo, deixo-vos só com a indicação de que encontrarão detalhes arrebatadores, mistério e histórias dentro de histórias. A escrita é bastante cinematográfica e a narrativa vai crescendo página após página. Sem qualquer esforço, senti-me a caminhar ao lado de Justine e a torcer para que a sua vida chegasse sempre ao local (físico ou metafórico) desejado.
Os Esquecidos de Domingo tem um toque poético e creio que tudo surge na medida certa. Acho que não destrona A Breve Vida das Flores do lugar de favorito, mas cola-se a ele. E o final? Encantador! Não me importava nada de viver mais tempo dentro deste enredo.
notas literárias
- Gatilhos: Saúde Mental, Morte
- Lido entre: 1 e 4 de março
- Desafio: 6 autores para 2025
- Formato de leitura: Físico
- Género: Romance
- Personagem favorita: Justine, Jã-não-me-lembro-como
- Pontos fortes: Tudo? A construção de personagens, o humor da protagonista, a forma como tantos pólos se interligam, a sensibilidade
- Banda sonora: Gimme! Gimme! Gimme!, ABBA | Subzero, Ben Klock | Wonderful Life, Katie Melua | Imagine, John Lennon
Fiquei mesmo curiosa com a narrativa *.*
ResponderEliminarLevo a sugestão para ler.
Beijinho grande, minha querida!
Vale muito a pena, minha querida!
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