solitária, eliana alves cruz
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Fotografia da minha autoria |
A capa deste livro chamou-me à atenção, no entanto, por qualquer razão que não sei explicar, fui adiando a sua compra. Depois de alguns desencontros, achei que faria todo o sentido incluí-lo na lista de leituras de março, onde apenas figuram mulheres.
dar voz a quem permanece invisível
Solitária chegou com poucas certezas e várias questões, isto porque, sendo uma história de esperança e superação, nos confronta com a sensação de estarmos aprisionados: «quantas prisões existem em cada um de nós? E de quantas ainda tem o mundo de se libertar?». É através de Mabel e Eunice, filha e mãe, respetivamente, que tentaremos obter respostas.
A viverem no quartinho dos fundos de um condomínio de luxo, porque Eunice é empregada doméstica de uma das famílias, este livro abre-nos a porta para um mundo de contrastes e de invisibilidade. A preocupação de não incomodar, de perturbar pouco o ambiente, está muito vincada na narrativa e, por isso, acabamos por assistir a dois cenários: por um lado, o da insistência de Mabel para que a mãe largue aquele emprego e, por outro, o das constantes justificações para permanecer. Transversal a ambos temos a certeza da precariedade, da dor, da identidade que se anula para satisfazer as necessidades de terceiros.
A escrita da autora é melódica e fluída, mas não filtra um contexto cheio de camadas. Aliás, de uma forma escorreita, faz-nos pensar sobre direitos laborais, luta de classes, violência e racismo estrutural. Em simultâneo, partindo de personagens credíveis, consegue dar voz a quem permanece tantas vezes na sombra, à espera de uma oportunidade digna.
«Levei anos para entender que não, ninguém quer viver assim, mas até eu assimilar tudo o que acontecia com ele muita coisa se passou. Foi preciso que eu crescesse para compreender que todo mundo tem uma história e que eu não podia cobrar coisas que ele nunca aprendeu a dar»
Também neste livro senti a necessidade de questionar o que a sociedade impõe como verdade absoluta, de quebrar padrões e alcançar algo que, infelizmente, ainda não está disponível para todos. E também aqui encontrei ciclos que se repetem, como se o caminho fosse apenas aquele - e fosse inevitável. Estas personagens vieram trazer um pouco de alento a lutas que permanecem diárias e imprescindíveis.
Solitária apresenta-nos várias perspetivas e foi neste aspeto que encontrei a sua maior fragilidade: gostei que a autora tivesse trazido narradores diferentes, mas acho que acabaram por não se diferenciar, principalmente as narradoras femininas. Apesar disso, acredito que é um livro valioso pela mensagem e por todos os simbolismos (a começar pelo título).
notas literárias
- Gatilhos: Cenas Gráficas
- Lido entre: 10 e 11 de março
- Formato de leitura: Físico
- Género: Romance
- Personagem favorita: Jurandir, Mabel
- Pontos fortes: A escrita e o facto de dar voz a quem continua invisível
- Banda sonora: O Mundo é um Moinho, Cartola | Minha Preta, Bebeto | O Jardim, Cláudia Pascoal & Isaura | De Onde Vem o Baião, Gilberto Gil
Fiquei com vontade de descobrir este livro.
ResponderEliminarLevo mais esta sugestão *.*
Beijinho grande, minha querida!
Boas leituras, minha querida!
EliminarINTRODUZINDO DEVAGAR.
ResponderEliminarÀ PARTIR DESSA PRIVILEGIADA DATA DE 20/03/2025 ESTAREMOS INOVANDO E TORNANDO UM SÓ NOSSOS CONHECIDOS BLOGUES.
VEJAM AS RAZÕES, AFINAL SEPARAR ATUALMENTE HUMOR DE SEXO , ISSO SIM ,SERIA UMA BRINCADEIRA.
UM ABRAÇÃO CARIOCA.
Andreia um livro interessante pra ler, bjs.
ResponderEliminarRecomendo, Lucimar
EliminarAndreia um livro interessante pra ler, bjs.
ResponderEliminarLê-se muito bem, Lucimar
Eliminarobrigado! https://shorturl.at/CNrhS
ResponderEliminarJá andei a piscar o olho a esse livro, agora estou convencida em comprar.
ResponderEliminarContinuação de boas leituras.
Espero que goste, querida Amélia. Obrigada e igualmente
EliminarAdicionado com sucesso para ouvir :)
ResponderEliminarBoa 🥰
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