Um Jogo Bastante Perigoso (Adília Lopes) & O Livro das Tréguas (Lídia Jorge): as obras que li para celebrar o dia mundial da poesia
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Fotografia da minha autoria |
O Dia Mundial da Poesia é uma efeméride que gosto sempre de assinalar. Este ano, não lhe dediquei uma publicação particular, mas celebrei-o na companhia de dois livros dentro do género - e que me permitiram regressar à escrita de Adília Lopes e de Lídia Jorge.
um jogo bastante perigoso, adília lopes
Um Jogo Bastante Perigoso marca a estreia de Adília Lopes no universo literário (e poético) e o título não podia ser mais claro quanto à sua intenção, porque as palavras, principalmente aquelas que colocamos em versos, podem insinuar uma certa ameaça, já que as suas entrelinhas são capazes de esconder um mundo cheio de camadas e interpretações.
Adelaide Ivánova, na nota introdutória, referiu que ler Adília Lopes é uma tentativa de «juntar as pistas de uma charada que nunca nos é posta», porque ela brinca com o que nos entrega, com os significados que nos parecem claros, mas que, ainda assim, nos levantam várias questões. Os seus poemas transmitem uma certa simplicidade, no entanto, há um jogo de contrastes que nos deixa sempre na dúvida. E, apesar de ser apenas o segundo livro que leio da autora, estou fascinada com esta dinâmica.
Com um tom que interliga uma escrita próxima com observações complexas, sinto que não há qualquer inocência nestes versos. Há, sim, uma certa desconfiança em relação ao que conhecemos, ao que assumimos como inquestionável, aos padrões que vamos construindo e deixando para trás. Talvez por essa razão oponha sempre o «divino e o mundano», «a perversão e a compaixão», «a tesão e a repressão», mostrando-nos que a forma como expomos as nossas observações pode alterar-se pelas palavras utilizadas.
Adília Lopes brinca com as palavras de um jeito quase descomprometido, como se só estivesse a partilhar pensamentos inconsequentes, mas cada um deles fica a ecoar por dentro. Na lista de poemas favoritos de Um Jogo Bastante Perigoso destaco Um Quadro de Rubens, A Propósito de Estrelas, As Flores de Papel e A Salada Com Molho Cor-de-Rosa.
🎧 Banda Sonora: A Cidade (Até Ser Dia), Anabela | Entre as Estrelas, Jimmy P & Diogo Piçarra | A Vida Segue Lá Fora, Lúcia Moniz

o livro das tréguas, lídia jorge
O meu primeiro e único contacto, até ao momento, com Lídia Jorge tinha sido através do extraordinário Misericórdia. Ao percorrer o catálogo do Kobo Plus, cruzei-me com o seu livro de poesia e achei que seria interessante descobri-la também neste género.
O Livro das Tréguas compila 50 poemas escritos em diferentes datas e respeitando estados de espírito distintos. Dividido em cinco partes - Com a Origem, Com os Preceitos, Com os Factos, Com as Fábulas, Com o Tempo -, estamos perante uma espécie de autobiografia consentida, de acordo com as palavras da autora. Por isso, fazemos uma travessia pelo início do percurso, pelo futuro e por todos os limites entre eles.
A cadência da escrita agradou-me, até porque fiquei com a impressão de que une um lado utópico a um lado mais provocatório. E a verdade é que, de um modo mais ou menos evidente, a vida vai-se construindo nestes contrastes, como se fossem metades de uma mesma moeda. Assim, transitamos entre vivências, inquietações e emoções; transitamos entre espaços e tempos, reconhecendo que é essa linha cronológica que conta a sua história, ainda que não saibamos identificar as partes que são verídicas.
Não obstante, admito não estar certa de ter compreendido bem alguns dos poemas, porque acho que a intenção é menos clara. A escrita não me parece complexa, mas as imagens que os versos criam levantam mais dúvidas quanto à sua mensagem. Apesar disso, acho que é esse jogo que torna a obra interessante, visto que podemos chegar a várias interpretações/conclusões e adequá-las às nossas perspetivas e fases de vida.
O Livro das Tréguas é, no fundo, um espelho da nossa existência, embora nem todos queiramos seguir as mesmas rotas. Partindo da sua experiência, conversa connosco acerca da natureza, da sociedade, da maternidade, do próprio processo de escrita, de paradigmas, da esperança, das trevas e de como vamos ruindo e renascendo. No grupo de poemas favoritos destaco três: Correio da Tarde, Criatura e Inventário da Feminista.
🎧 Banda Sonora: Haja o Que Houver, Madredeus | Tempestade, Márcia | Criatura, Rita Onofre | Aprender a Ver, Jasmim

Morrem os poetas e a alma fica vazia
[Capicua & Toty Sa'Med]
Boas indicações de livros para comemorar o Dia Mundial da Poesia, Andreia bjs.
ResponderEliminarGostei muito de os descobrir 🥰
EliminarQuero muito ler *.*
ResponderEliminarDuas boas companhias 🥰
EliminarTenho de ler mais poesia.
ResponderEliminarVou levar estas sugestões *.*
Beijinho grande, minha querida!
Também é algo que pretendo fazer com mais regularidade
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