minha senhora de mim, maria teresa horta
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Fotografia da minha autoria |
A minha lista de leituras de março, desde há uns anos, apenas inclui mulheres, numa homenagem simbólica. Por outro lado, uma vez que é um mês que marca a chegada da primavera e que celebra a poesia, também faço por ter livros que acompanhem esse espírito. Vai daí, quis regressar a Maria Teresa Horta e aos seus poemas inquietantes.
cru, terno, feminista
Minha Senhora de Mim abre-nos a porta de um universo feminino, no qual o pudor e a submissão não têm espaço à mesa. E a prova disso é que os 59 poemas que compõem a antologia, inspirados «na tradição das cantigas de amigo medievais», não só utilizam a «literatura canónica para desafiar o statuos quo», como também «o conteúdo erótico e a poderosa voz feminina incomodaram a ditadura». Em 1971, ter mulheres tão vocais em relação a temas íntimos e políticos não era aceitável, por isso, era imperativo silenciá-las, diminuí-las, colocá-las num lugar que não incomodasse. No entanto, a escrita de Maria Teresa Horta não veio para fazer pouco barulho: veio para emancipar. Em 2025, já caminhamos muito, mas parece que ainda nos falta percorrer um longo caminho.
O próprio título desta obra espelha liberdade, autonomia e uma certa provocação. E, quando avançamos na leitura, sinto que acompanhamos uma mulher a florescer, a mostrar a sua vulnerabilidade sem culpas, a explorar lamentos, desprendimentos e uma identidade que renasce à medida que se vai conhecendo. Além disso, coloca um foco nos desejos da mulher, principalmente nos desejos sexuais, porque também eles fazem parte da nossa existência. Embora não me tenha relacionado com as três partes da mesma forma, o que mais gostei no livro foi este crescimento, foi perceber que os versos tinham cada vez menos filtro e cada vez mais vontade de impor a sua voz.
«Colheste as flores
da tua chama
apagaste devagar
os sentidos»
Só por curiosidade, não posso deixar de destacar os poemas que me impactaram mais: Poema ao Queixume, Ponto de Honra, Existem Pedras e Meu Aceso Lume. Minha Senhora de Mim tem tanto de cru, como de terno, por esse motivo, inspira, «ainda arde» e continua a ser uma resposta bastante audível para a luta que precisamos de travar.
notas literárias
- Lido a: 5 de março
- Formato de leitura: Digital
- Género: Poesia
- Pontos fortes: A ausência de filtro, porque não tem qualquer pudor em ser vulnerável e em mostrar várias facetas da mulher
- Banda sonora: Minha Senhora de Mim, Entre Vozes | Senhora de Si, Ivo Lucas & Carolina Deslandes | Vais Ter Saudades, Mimicat | Por Meu Pé, Joana Almeirante
Parece-me interessante!
ResponderEliminarwww.amarcadamarta.pt
Não amei, mas acho que vale sempre a pena ler Maria Teresa Horta
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