o caderno proibido, alba de céspedes
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Fotografia da minha autoria |
O livro de Alba de Céspedes estava no meu radar desde que foi publicado em Portugal (maio de 2024). Ultimamente, andava a cruzar-me com a sua capa com frequência, mas foi o facto de a Rita da Nova o escolher para o Clube do Livra-te que me fez avançar para a sua leitura. E em boa hora o fiz.
impressionante como mudou tão pouco
O Caderno Proibido pertence a Valeria Cossati, que um dia «saiu de casa para comprar cigarros para o marido» e estava longe de imaginar que regressaria da tabacaria com um objeto que lhe colocaria a vida do avesso. Transformando o caderno num diário, assistiremos a uma emancipação, ainda que nada seja assim tão linear.
A escrita e as reflexões que as entradas do diário potenciam conquistaram-me com facilidade, porque nos aproximam. Aqueles problemas podem não ser os nossos, mas conseguimos compreendê-los, reconhecê-los e, inclusive, adaptá-los à nossa realidade. E, ainda que não o conseguíssemos, parece-me difícil ficarmos indiferentes aos dilemas que esta mulher enfrenta e que acabam por nos confrontar com a nossa identidade, com aquilo que nos deixa confortáveis e com a noção de termos a nossa privacidade condicionada, atendendo a que os outros têm sempre expectativas bem definidas sobre nós, sobre o que esperam de nós.
«Ao oferecer-lhes a minha experiência, tento compreender muitas coisas que aconteceram na minha vida e que aceitei sem questionar a respetiva causa»
Este livro foi publicado, originalmente, em 1952 e é impressionante perceber que mudou tão pouco em relação à condição da mulher, ao seu papel na sociedade. Por isso, permanece atual e agita-nos por dentro, mostrando-nos a importância de haver um nome, de usarmos os recursos à nossa disposição para não perdermos a nossa voz. Valeria parecia restrita à invisibilidade, ao papel de mãe e de esposa, mas encontrou uma maneira de não ficar pressa a essas amarras.
Neste seguimento, outro dos aspetos que mais me fascinou foi o poder da escrita, não só pelo ato de escrever em si, mas também por ser algo tão seu, um espaço seguro onde se podia desafiar, onde não precisava de ter medo, onde podia sonhar e traçar o caminho que quisesse. Assim, vai-se tornando mais certa da mulher que quer ser, ao mesmo tempo que encontra em Mirella, a filha, um impulso para questionar o que a sociedade impõe.
«Voltávamos para casa em silêncio, mas era justamente aquele silêncio que nos deixava atrapalhados»
Achei interessante haver sempre um jogo de contrastes, enquanto reflete sobre maternidade, casamento, ambições, dúvidas, desejos e o quotidiano. Além disso, adorei que em nenhum momento Valeria tentasse passar a imagem de mulher perfeita: pelo contrário, convidou-nos a conhecer todas as suas fragilidades, incoerências e fraquezas - e também por isso fez com que quisesse permanecer ao seu lado. Não sei se teria ensinamentos valiosos para partilhar com ela, mas quis confortá-la em vários momentos e incentivá-la a marcar a sua posição.
O Caderno Proibido superou todas as expectativas. Para além de ser uma história sobre emancipação, fez-me pensar que a vontade nem sempre é gatilho suficiente para agirmos, porque ainda há muitos pesos a impedir-nos de levantar voo. Terminar a leitura no Dia Internacional da Mulher, sinto, tornou-a ainda mais impactante.
notas literárias
- Lido entre: 6 e 8 de março
- Desafio: Clube do Livra-te
- Formato de leitura: Físico
- Género: Romance
- Personagem favorita: Mirella
- Pontos fortes: A escrita, as reflexões, o facto de nos fazer repensar o papel da mulher
- Banda sonora: É Proibido, Mão Morta | Guglielmo Ratcliff: Ratcliff's Dream, Pietro Mascagni, Slovak Radio Symphony Orchestra, Ondrej Lenard | Run Away Girl, Alice Merton | Trying, Mercury | Why Am I Like This?, Cassyete
Mais uma excelente sugestão para pesquisar na BiblioLED.
ResponderEliminarBeijinho grande, minha querida!
Aconselho imenso, é um livro maravilhoso 🥺
EliminarMais uma sugestão a ter em conta.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Vale a pena!
EliminarGuardei *.*
ResponderEliminarVai a este mal possas, minha querida, sinto que vais gostar muito
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