![]() |
| Fotografia da minha autoria |
A quantidade de vezes que me cruzei com este livro e adiei aventurar-me na sua descoberta é absurda. Por isso, aproveitei a boleia do Livra-te e rendi-me a Olga Tokarczuk
um confronto com a nossa moralidade
Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos leva-nos até uma remota aldeia polaca, onde podemos conhecer Janina Duszeiko, «uma professora reformada, [que] divide os seus dias a traduzir a poesia de William Blake e a observar os sinais da astrologia». Excêntrica e solitária, vê a pacatez dos seus dias ser «interrompida quando começam a aparecer mortos vários membros do clube de caça local» e decide investigar.
O livro tem uma aura de estranheza a pairar, porque se sente que o que não é dito pesa. Além disso, o humor peculiar e sombrio da protagonista fomenta essa sensação, sobretudo se o entrelaçarmos a um estado de alma em luto permanente por todos os animais que morreram. Muito mais próxima da Natureza do que de pessoas, Janina tem uma teoria muito vincada em relação ao que está a acontecer e tentará prová-la junto das autoridades — que parecem pouco dispostas a ouvi-la.
Esta mulher intriga, desconcerta-nos e vai abalando as nossas convicções. Fiquei fascinada com o seu percurso de vida e, apesar de não me rever totalmente em algumas das suas posições, consegui perceber o que a motiva e o que está disposta a fazer para defender as suas causas. E achei muito interessante que desse voz a coisas que parecem pouco óbvias e nas quais encontramos um sentido, um propósito.
«Nós temos uma visão do mundo e os Animais têm um sentido do mundo, sabias?»
Bem escrito, filosófico e cómico, este livro parece um puzzle. Acho que fica claro, desde o início, para onde é que a narrativa escalaria, mas a experiência de leitura não fica condicionada por isso, porque queremos unir cada detalhe e perceber a sua função e importância no todo. E esse todo está fabuloso, até porque nos faz refletir sobre direitos, justiça, tradição e responsabilidades.
Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos perdeu-me um pouco a meio, porque se focou em linhas que não me pareceram assim tão relevantes para o enredo, mas o final compensa. Adorei como abordou o sentimento de culpa e que vingasse aqueles que nem sempre têm a capacidade para se defender. E é curioso como não existem arrependimentos, mas tudo tem uma justificação.
notas literárias
- Desafio: Clube do Livra-te
- Gatilhos: Linguagem gráfica e explícita
- Lido entre: 5 e 7 de outubro
- Formato de leitura: Digital
- Género: Policial e Thriller
- Personagem favorita: Janina
- Pontos fortes: A construção das personagens e os significados
- Banda sonora: Saturno, Lhast | Riders On The Storm, The Doors | Walking In The Hair, Aurora | Deathbed, Anna Von Hausswolff
clube do livra-te
conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos
estante cápsula
livros
livros de autores estrangeiros
olga tokarczuk







0 Comments